O Brasil está aquém da comunidade internacional no controle de substâncias químicas tóxicas presentes nas roupas. Um passo importante para reduzir essa defasagem se dará em 2015, com a publicação pela Associação Brasileira de Normas Técnicas da primeira norma brasileira que regulamenta o uso de substâncias que podem oferecer riscos à saúde e ao meio ambiente. Mas, para dar uma segurança maior ao consumidor, o País também precisaria ter controle semelhante sobre as peças importadas, que não param de crescer (25 vezes na última década, segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).
“O ideal seria trabalhar as duas coisas paralelamente. Assim, no mínimo, nos adequaríamos a uma situação mundial”, afirma Lourival Flor, coordenador de Sustentabilidade da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), lembrando que Europa e Estados Unidos exigem do importador um controle absoluto desses produtos, além de estabelecerem normas internas para produtos perigosos, assim como ocorre no Japão, Coreia do Sul e até na China.
Mesmo assim, o Greenpeace identificou a aplicação dessas químicas acima do nível permitido em roupas de marcas globais, levando-as a providenciar reduções (leia mais em “Testada e Aprovada?”, na retranca “À flor da pele”). Para Lourival, ainda que a campanha da ONG não seja direcionada ao Brasil, haverá reflexos positivos aqui, uma vez que os ajustes que essas empresas realizarem alcançarão toda a produção. O que mais preocupa, segundo o diretor, são os importados que estão fora das grandes cadeias. “É um volume enorme, e sobre eles não há controle algum”.
Parâmetros brasileiros – Lourival é um dos líderes do grupo de trabalho montado neste ano para debater os parâmetros da futura norma brasileira, do qual participam vários representantes da cadeia têxtil, coordenados pela ABNT. Alinhado ao programa internacional Zero de Descarga de Produtos Químicos Perigosos (Zero Discharge of Hazardous Chemicals), o grupo elencou dez substâncias a serem monitoradas: polifluorcarbonos, aminas aromáticas/corantes azóicos, corantes dispersos alergênicos, alquilfenóis e nonilfenol, metais pesados (chumbo, cádmio, mercúrio, cromo e níquel), ftalatos, fenóis pentraclorofenol/tetraclorofenol, compostos organoestanosos, formaldeído e pesticidas.
Para bebês, o teor admitido será menor, já que eles costumam chupar roupas ̶ única forma de contaminação direta dessas substâncias. Em adultos, o risco está na ingestão da água, que após a lavagem das peças tóxicas, contamina o solo e lençol freático.
Essas substâncias podem chegar aos produtos pela fibra, processamento ou acabamentos. “Controlando os grandes fornecedores, eliminaremos os usos na produção têxtil brasileira. Restará controlar os importados”, diz.