Embora às mudanças climáticas soe para muitos como algo que ocorrerá em um futuro longínquo, eventos climáticos extremos e seus impactos são evidentes no Brasil e no mundo, tomando como exemplo a grande seca que atingiu o Sudeste do Brasil em 2014 e como os setores público e privado estão respondendo. Notícias nos grandes jornais, por exemplo, ressaltam a redução do volume do Sistema Cantareira, que opera atualmente com menos de 10% da sua capacidade, a utilização do volume morto do reservatório como resposta do governo, e como empresas necessitaram reduzir ou até interromper sua produção, como a empresa química Rhodia que desativou quatro unidades de produção na planta de Paulínia, pois o rio de onde a empresa coleta água está secando.
Será que já não é hora das empresas se atentarem às mudanças climáticas? Pensando nisso a GIZ, agencia de cooperação alemã, tratou o tema no projeto “Construção de capacidade: Reponsabilidade Social Empresarial em Mudanças Climáticas”. O projeto reúne doze instituições latino-americanas trabalhando o tema de mudanças climáticas com o setor empresarial (inclusive a EPC do GVces) e tem o objetivo de fortalecer a capacidade de formação das organizações através de diálogo internacional e capacitação de profissionais para apoiar empresas a realizar a gestão empresarial sustentável responsável como business case no nível estratégico e operacional. O projeto durou três anos e encerrou suas atividades em um workshop na primeira semana de dezembro de 2014 na Costa Rica, em que as instituições membro apresentaram seus resultados de 2014 e discutiram a continuidade desta rede.
O GVces apresentou as experiências da Plataforma Empresas Pelo Clima (EPC) na linha de adaptação às mudanças climáticas, que iniciou em 2013 com a promoção do Fórum Latino Americano de Adaptação as Mudanças do Clima em parceria com a UNFCCC. Em 2014, a EPC co-criou com as empresas membro, a partir dos resultados do Fórum e da ferramenta Wizard da UKCIP, um Framework e uma Ferramenta de Suporte a Elaboração de Estratégias Empresariais de Adaptação às Mudanças do Clima, que estão agora em fase de teste, sendo aplicadas por cinco empresas pilotos. Além dos trabalhos com o setor privado, o GVces apresentou também as experiências do Programa de Política e Economia Ambiental (PEA) no desenvolvimento de subsídios técnicos sobre adaptação climática feitos para o Governo Federal.
Outro trabalho nesta linha foi o desenvolvido pela rede IntegraRSE de organizações da América Central (AED da Costa Rica, CentraRSE da Guatemala, FundahRSE de Honduras, Fundemas de El Salvador, INCAE da Costa Rica, SumaRSE do Panamá e UniRSE da Nicarágua) que customizou a ferramenta de mapeamento de riscos e oportunidades das mudanças climáticas Bacliat da UKCIP para o contexto das empresas da região. Além disso, a rede sensibilizou no tema de adaptação mais de 700 pessoas em 10 workshops, capacitou 18 representantes empresariais e documentou 7 casos de sucesso em adaptação na América Central. Tanto a ferramenta elaborada por esta rede como as lições aprendidas foram insumos muito importantes para o desenvolvimento das atividades da EPC em 2014.
Ainda no tema de adaptação, o Consejo Empresario Argentino para el Desarrollo Sostenible (CEADS) apresentou os resultados do diagnóstico das perspectivas e estratégias de adaptação das empresas argentinas, realizado com 61 empresas de 16 diferentes setores diferentes, que deixa claro que embora mais de 80% das empresas argentinas acreditem que as mudanças climáticas estejam ocorrendo, quase todas elas não tem análises de impactos. Além disso, o CEADS realizou um workshop para discussão do tema de adaptação, incluindo cenários climáticos, ferramentas de gestão empresarial de adaptação e casos de sucesso da rede IntegraRSE.
No tema de mitigação, a Câmara de Comércio de Bogotá (CCB) apresentou a criação do Círculo Empresarios por el Ambiente (CEAM), inspirada pela experiência da EPC. A iniciativa trabalha com PMEs e tem objetivo de fortalecer nas empresas colombianas a implementação de medidas de gestão ambiental adequadas como mecanismo para a sustentabilidade e competitividade empresarial. Como resultado, já foram envolvidas cerca 70 empresas para a construção de indicadores ambientais, redução de consumo energético e cálculo da pegada de carbono. O interessante desta iniciativa foi contarem de como usaram argumentos de redução de gastos e aumento da competitividade para motivar PMEs a participarem e reduzirem seus impactos ambientais.
Como resultados do projeto da GIZ “Construção de capacidade: Reponsabilidade Social Empresarial em Mudanças Climáticas” ficou claro que as experiências das instituições parceiras proporcionaram aumento da consciência empresarial da necessidade de gestão de emissões e de riscos climáticos e, principalmente, de como dar os primeiros passos, gerando estudos de casos interessantes ao redor da América Latina e ferramentas para estratégias de clima adequadas à contextos específicos.
No entanto, o grande resultado atingido foi evidenciar que o trabalho em rede, a troca de experiências e parcerias entre instituições reduzem a curva de aprendizado, potencializando a ação de cada uma destas instituições com a suas contra partes. Neste contexto, ficou a proposta de continuidade desta troca a partir da construção da rede Alianza Latinoamerica por el Cambio Climático, que pretende conectar instituições latino americanas que trabalham com setor privado o tema mudanças climáticas para alavancar a criação e desenvolvimento de soluções empresariais. A Alianza deve ser institucionalizada no próximo ano trazendo já os desafios e soluções resultados deste projeto!
Natalia Lutti