Diferente dos anos 1990, marcados por movimentos contrários à globalização, existe hoje um novo tipo de ativismo social que aponta para uma identidade cidadã global
Na era da tecnologia da informação, a voz de cidadãos do mundo inteiro ecoa no ciberespaço, o que amplifica o debate de ideias e abre novos canais de manifestação democrática. Nesse ambiente, intrínseco a um cenário em plena transição, porém, há quem questione a representatividade de muitos interlocutores. “A tendência inexorável é que a representatividade seja ampliada e aprimorada, mas, neste momento, ainda é difícil prever como será”, comenta o cientista político Sérgio Abranches.
O locus onde hoje interagem atores de perfis, interesses e espectro político distintos abrange dois conceitos básicos: conexão e rede, define o sociólogo Massimo Di Felice, coordenador do Centro de Pesquisa Atopos, da ECA-USP. Desde o advento da Web 2.0 [1], lembra, os movimentos sociais proliferam pelas redes sociais digitais, desafiando governos e a sociologia moderna, entre outras áreas do conhecimento, sobre um novo tipo de localidade, tão informativa quanto material, que reúne pessoas, circuitos informativos e territorialidades, num diálogo, por vezes, profícuo e dinâmico, facilitado pelo compartilhamento de diferentes conteúdos multimídia, em tempo real.
[1] O termo Web 2.0, que se popularizou desde 2004, designa a segunda geração de comunidades e serviços, apoiado no conceito da web como plataforma e abrange os chamados wikis, aplicativos que se baseiam em redes sociais, blogs e na Tecnologia da Informação
Diferente dos anos 1990, marcados por movimentos contrários à globalização, “existe hoje um novo tipo de ativismo social, apontando para uma identidade cidadã global”, mais presente nas redes digitais, e que faz reivindicações acerca da democracia, da equidade e da sustentabilidade, resume Di Felice, que também coordenou o estudo Net-Ativismo: Ações colaborativas em redes digitais [2].
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Na arena digital, o Brasil se sobressai entre os países que mais utilizam ferramentas de petição e denúncia, que buscam soluções para problemas do cotidiano, cobram autoridades ou incentivam o engajamento em campanhas sobre temas diversos e inusitados.
“O brasileiro gosta muito de opinar e enxerga na internet uma forma prática de se integrar às ações [petições] coletivas”, afirma Diego Casaes, coordenador de campanhas da Avaaz [3], tida como a maior e mais influente rede ativista mundial on-line, com cerca de 41 milhões de associados – 8,5 milhões deles no Brasil.
[3] Organização criada em 2007, nos EUA, a Avaaz comunica-se mundialmente em 16 idiomas
Para Rodrigo Bandeira De Luna, cofundador do Instituto Cidade Democrática, plataforma on-line que estimula soluções inovadoras a partir da inteligência coletiva, a internet não é uma panaceia, “mas o melhor caminho para um novo paradigma de participação política”, ante o desafio de se retomar o vínculo virtuoso do diálogo com políticos mais sensíveis às demandas sociais.