Corredores ecológicos ganham as pranchetas de urbanistas com a missão de interconectar o meio ambiente na cidade e melhorar o bem-estar
Conectar fragmentos de áreas verdes e ainda proporcionar maior qualidade de vida aos cidadãos: com essa proposta nascem os corredores ecológicos urbanos. Originalmente voltados a conectar áreas naturais, os corredores começaram a ganhar a prancheta de arquitetos e urbanistas.
Os corredores ecológicos [1] têm por objetivo interligar diferentes porções de ecossistemas que possam ter sido separadas devido ao desmatamento, melhorando o fluxo de material genético de plantas e animais e garantindo a manutenção da vida nessas áreas. A maior parte está localizada longe dos grandes centros urbanos, em áreas com grande parte de sua biodiversidade conservada, o que gera dúvidas sobre a possibilidade de o modelo ser adaptado às cidades. No entanto, já existem iniciativas do tipo que demonstram que a replicação é viável, embora não em sua integralidade, e voltadas principalmente para a qualidade de vida dos moradores das cidades.
[1] Instrumento de gestão territorial previsto no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc) que estabelece critérios e normas para a implantação de áreas protegidas
Em Manaus, por exemplo, o governo municipal estabeleceu em 2007 a criação do Corredor Ecológico Urbano Igarapé do Mindu [2]. “Ele surgiu inicialmente para viabilizar o fluxo de espécies, mas uma de suas principais funções é a conservação do igarapé, responsável por quase 40% do abastecimento de água de Manaus”, diz Antonio Ferreira do Norte Filho, que leciona na Faculdade Martha Falcão/DeVry e na Universidade Nilton Lins, e que estudou a criação do corredor para a sua tese de mestrado [3]. O professor Norte Filho reconhece que a criação do corredor foi facilitada pela situação geográfica de Manaus, localizada na selva amazônica, o que leva à discussão sobre a possibilidade de essa mesma iniciativa ser aplicada nos centros urbanos do País.
[2] Com 7 quilômetros, conecta o Parque Municipal do Mindu e a Reserva Particular do Patrimônio Natural Honda, protegendo as matas ciliares ao longo do Igarapé do Mindu
A dúvida pode começar a ser sanada quando começar a implementação de um corredor ecológico na cidade do Rio de Janeiro, ligando parte do Recreio dos Bandeirantes e o Parque Chico Mendes, ambos na Zona Oeste, a Lagoa de Marapendi, na Barra da Tijuca, e o Maciço da Pedra Branca, entre o Recreio dos Bandeirantes e a Barra da Tijuca. A iniciativa é conduzida pela Secretaria do Meio Ambiente com o escritório de arquitetura DEF Projetos e o de paisagismo Embyá. Está na fase de elaboração de orçamento, com expectativa de início de implementação este ano.
Rodrigo Rinaldi, sócio da DEF e professor de urbanismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), afirma que o trajeto do corredor passa por áreas naturais, mas também por espaços ocupados, como a Favela do Terreirão, no Recreio dos Bandeirantes. O projeto é parte de uma iniciativa maior da prefeitura do Rio de Janeiro, que prevê a criação de outros corredores na cidade.
A questão da presença humana no meio do caminho cria um problema, uma vez que o conceito original dos corredores ecológicos não prevê ocupações nesses locais. Mas, para Rinaldi, é preciso abandonar a ideia de que cidade e natureza são conceitos antagônicos. Ele acredita que é possível criar um corredor ecológico nos moldes originais, mesmo que as trocas gênicas não sejam tão fortes quanto naqueles espaços puramente preservados.
“Existem corredores com diversas funções. No que diz respeito a fluxos, do ponto de vista ecológico temos os mais eficientes e os menos eficientes”, diz. “Se fosse comparar, há corredores que são artérias, e outros que são capilares. Desde os menos até os mais relevantes, todos têm a sua importância.”
O município de São Paulo não possui nenhum projeto oficial de corredor ecológico urbano em debate, mas tem iniciativas para conservar o restante de natureza dentro da cidade. O destaque fica para os parques lineares, que, assim como os corredores ecológicos, são consideradas Áreas de Preservação Permanente (APP) [3]. Esses locais são intervenções urbanísticas que visam garantir a conservação de vales urbanos, especialmente rios, enquanto os corredores são mais abrangentes, não necessitando de cursos d’água para existirem.
[3] Espaços territoriais protegidos por lei por serem ambientalmente frágeis e vulneráveis. Nesses locais ficam proibidas construções, plantações ou qualquer atividade de exploração econômica
A cidade possui 25 parques do tipo, a maioria na Zona Leste. Entre os projetos em análise, o que tem provocado maior polêmica é do Córrego Verde, na Vila Madalena, Zona Oeste. Aprovado no final de 2010 pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, a proposta consiste em redesenhar uma área de quase 65,4 mil metros quadrados, descanalizando o Rio Verde, que corre pela região, e criando um novo espaço de lazer na cidade. O projeto, porém, foi paralisado por moradores do bairro contrários à iniciativa. Eles conseguiram com que alguns vereadores propusessem uma emenda ao Plano Diretor que barra a criação do parque.