Não vamos falar de escassez; é a abundância que rege o assunto desta edição. Uma economia irrigada por conhecimento, informação, criatividade e tempo livre capaz de transformar continuamente a matéria, tal qual a natureza faz. Como é dito na Entrevista, os recursos podem ser escassos, mas a capacidade de transformação é infinita. O tempo em que uma furadeira está parada é muito superior ao que está em operação, gerando oportunidades na ociosidade – basta conectar pessoas e seus interesses e extrapolar esse exemplo emblemático para uma economia inteira.
A economia colaborativa, dinamizada de forma inédita pelo advento da internet, trabalha com a fartura, e esta não é única premissa do capitalismo industrial que vem derrubar. Essa sociedade emergente, que muitos chamam de pós-capitalista, suplanta a posse de bens e também a ideia de que o homem não passa de um ser competitivo.
Com isso, além da busca de eficiência, vemos um resgate das relações interpessoais de troca, apoio e cooperação que antigamente se viam em nível comunitário, mas que se perderam conforme a população cresceu e o mundo tornou-se mais complexo. Tal herança é recuperada pela era digital, que de certo modo reaproximou as pessoas da aldeia global e criou mecanismos capazes de gerir a reputação e a credibilidade. Tudo isso de forma autorregulada, sem instituições ou instâncias hierárquicas de poder.
Se essa novidade vai resistir e se tornar dominante ainda não se sabe, até porque talvez estejamos no meio da transição. Há quem preveja uma mudança de paradigma acontecendo em até 50 anos, como o economista e escritor americano Jeremy Rifkin. Claro que esse movimento tem imperfeições e contradições, mas é um sopro de inovação que vem colorir estes tempos soturnos de crise econômica, social e ambiental, dando sinais de que a inflexão é possível.
Boa leitura!