Repensar a relação com os consumidores é a chave para sobreviver em uma economia colaborativa. Jornalistas independentes dão exemplos
A internet é o grande motor da economia colaborativa. Graças às massas de usuários, plataformas digitais podem ser aprimoradas e desenvolvidas em conjunto com consumidores. Mas aproveitar essa oportunidade é um desafio para alguns modelos de negócio tradicionais, avessos à ideia de compartilhar e abrir seus conteúdos na rede para acesso gratuito.
O jornalismo, por exemplo, tem passado por maus bocados ao não conseguir lidar com a concorrência da internet. Os grandes veículos têm realizado sucessivos cortes de custo e, mesmo com uma estrutura mais enxuta, não conseguem equilibrar suas contas em razão da dispersão de anunciantes pelos múltiplos veículos na rede [1]. Além disso, com leitores cada vez mais plugados à internet – 37% dos brasileiros mantêm-se conectados todos os dias por cerca de cinco horas [2]–, é preciso concorrer também com conteúdos gratuitos. Qual seria, então, o futuro de um setor como o Jornalismo?
[1] Veja reportagens da edição 76
[2] Dados da Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, disponível aqui
Um novo tipo de relacionamento entre o leitor e o veículo de informação tem surgido em iniciativas de jornalismo independente, viabilizadas por financiamento coletivo. A Agência Pública, produtora de conteúdo gratuito, aposta na interação entre os apoiadores do seu crowdfunding (consulte Glossário) e a elaboração de suas reportagens .
Todo mês os apoiadores votam nas matérias que serão elaboradas pela Agência e, por meio de um grupo no Facebook, é possível acompanhar as novidades e sugerir fontes. “Nós fazemos o crowdfunding não apenas para viabilizar economicamente o projeto, mas para repensar o jornalismo e mudar a relação das pessoas com o que produzimos”, comenta Marina Dias, coordenadora de comunicação da agência, que acredita que o leitor tem muito a acrescentar ao trabalho jornalístico.
Cynara Menezes, que foi jornalista da revista CartaCapital por mais de oito anos, criou o blog Socialista Morena em 2012 . Durante algum tempo, o blog foi hospedado pelo site da revista, mas recentemente Menezes optou por transformá-lo em um projeto jornalístico independente, mantido com doações de leitores, e dedicar-se exclusivamente a ele.
Entre as razões para essa decisão ela destaca que, em projetos de crowdfunding, a relação do leitor com o veículo deixa de ser comercial para ser solidária. Além de consumidor das informações produzidas, o leitor é também um realizador do projeto, é ele quem faz o jornalismo acontecer e, por isso, a participação do público na construção das matérias faz tanto sentido. “Você não paga para ler a matéria, pois elas são abertas a todos. Você paga porque gosta do projeto e quer investir nele. É uma subversão incrível no modelo de negócios do jornalismo”, comenta Cynara Menezes.
Os usuários são o maior ativo das empresas na economia colaborativa. Entender como integrá-los ao modelo de negócio é a chave para o futuro.