O debate sobre a energia nuclear na Europa ganhou um novo elemento neste mês, quando foi revelado que a usina de Fessenheim, na França, esteve próxima de um acidente sério. O episódio ocorreu em 9 de abril de 2014, mas a informação que chegou ao público então, em nota de 17 de abril da Autoridade de Segurança Nuclear da França (ASN), tratava apenas de uma inundação na parte não nuclear de um dos dois reatores.
Apoiando-se na correspondência que se seguiu entre a direção da usina e a autoridade nuclear, o jornal alemão Süddeutsche Zeitung aponta que, por causa da inundação, por alguns minutos o reator nuclear ficou “fora de controle”. O incidente foi classificado no nível 1 do risco nuclear, em escala que vai até 7, mas o diário alemão nota que nunca chegou ao público a informação de que foi injetado bório para garantir o resfriamento do reator. O recurso ao bório indica que a situação chegou a um estágio muito mais perigoso do que o indicado pelo nível 1.
A ministra do Meio Ambiente alemã, Barbara Hendricks, reagiu às informações do Süddeutsche Zeitung declarando que Fessenheim é uma usina “velha demais” e deveria ser fechada. A ASN respondeu em nota oficial que a avaliação do perigo de acidente foi muito exagerada pela publicação.
Fessenheim fica na região da Alsácia, perto da fronteira alemã. Começou a operar em 1978 e seus dois reatores funcionam com água pressurizada. Sua potência instalada é de 900 megawatts em cada reator e a energia que ela produz corresponde a 1,5% do consumo francês.
Na campanha presidencial de 2012, o atual presidente François Hollande prometeu o fechamento definitivo da central nuclear para 2016. Entretanto, a ministra da Ecologia, Ségolène Royal, deu declarações afirmando que o fim de Fesseheim deverá ficar para 2018 ou 2019, à espera da entrada em operação do reator de terceira geração que está sendo construído em Flamanville.
As obras da usina de Flamanville, conhecida como “reator pressurizado europeu”, começaram em 2007, com um custo calculado em 3 bilhões de euros. Hoje, a estimativa de custo já passou para 10,5 bilhões de euros. A ASN vê graves problemas nos reatores fabricados pela empresa Areva, o que deve provocar ainda mais atrasos e aumentos de custo. – por Diego Viana, de Berlim