De Berlim – O município alemão de Aachen, de 243 mil habitantes, entrou com um processo em fevereiro contra a usina belga de Tihange, distante a apenas 70 quilômetros da localidade. A usina tem apresentado problemas repetidamente, de microfissuras a vazamentos de água, e sua operação foi interrompida diversas vezes.
“Se vier uma nuvem nuclear de Tihange e chover sobre a cidade, toda a região pode ficar inabitável por muitos anos”, afirma Jörg Schellenberg, porta-voz do Grupo de Ação contra a Energia Atômica de Aachen. A região em torno da cidade conta, no total, cerca de 540 mil moradores. O grupo de Schellenberg apoia o processo contra a usina, assim como municípios de regiões vizinhas na Alemanha e nos Países Baixos.
O processo entra em cena em meio a tensões entre a Bélgica e seus vizinhos (sobretudo Luxemburgo, Países Baixos e Alemanha) por causa das centrais nucleares do país. As usinas belgas estão situadas próximas a fronteiras, o que suscita a atenção dos vizinhos. Além da Tihange, a unidade de Doel, que tem quatro reatores, fica a poucos quilômetros da divisa com os Países Baixos.
O elemento mais polêmico do caso é a decisão do governo belga de desacelerar o processo de abandono da energia nuclear. Em dezembro de 2014, foi aprovada a extensão da vida útil de dois reatores nucleares do país até 2025. Localizadas a 15 quilômetros de Antuérpia, as unidades e Doel 1 e Doel 2 começaram a operar em 1975 e deveriam ser aposentadas entre 2013 e 2015. O reator de Tihange 1 (no total, são três reatores em Tihange) teve a vida útil estendida em 2012: suas atividades, que seriam encerradas em 2015, prosseguirão até 2025, data planejada para o abandono definitivo da energia nuclear na Bélgica.
Em 2003, o governo belga havia se comprometido com a substituição de sua matriz energética. Entretanto, o processo de substituição das fontes de energia não ocorreu com a velocidade necessária. Preocupações com o fornecimento de gás russo, que atravessa o território disputado da Ucrânia, também entraram na equação.
Doel 1 apresentou defeitos em dezembro e novamente em janeiro, levando a paradas automáticas do reator. Doel 3, que também estivera parada para consertos, apresentou defeitos quatro dias depois de voltar à ativa, em 25 de dezembro.
Em janeiro, Johannes Remmel, ministro do Meio Ambiente da região alemã (Bundesland) da Renânia do Norte-Westfália (Nordrhein-Westfalen), fez um pedido à Comissão Europeia para que investigasse a segurança das instalações nucleares da Bélgica. Convidada pelo ministro do Interior belga, Jan Jambon, a ministra do Meio Ambiente dos Países Baixos visitou as instalações de Doel em janeiro e manifestou preocupação com a idade da quadragenária usina.
Uma petição lançada no site Avaaz obteve mais de 1,1 milhão de assinaturas, exigindo avanços na direção do fechamento definitivo de Tihange. O título dramático da petição pergunta: “Poucas horas para evitar um novo Chernobyl?”
A empresa responsável pela exploração da energia nuclear belga, a Electrabel, é filial da francesa Engie. Em 8 de março, a Justiça belga decidiu que a reabertura das usinas de Doel 3 e Tihange 2, contestada por grupos de luta anti-nuclear, não apresenta riscos para a população.