Ferramentas como Mundo ISE e Sustentáculos explicam de forma amigável e otimista o que os ODS não conseguem
Se você já teve de explicar a um grupo de jovens o que são esse tal de “desenvolvimento sustentável” e essa tal de “sustentabilidade”, certamente logo percebeu que é um desafio muito mais complexo do que pode parecer à primeira vista. E, se não tiver tido antes tempo de encontrar e ler boas publicações sobre esses temas, certamente deve ter se visto forçado a enrolar os coitados.
Muitos dos que passam por tamanho vexame tendem a se preparar melhor para outra eventualidade, mas aí notam que o tamanho da encrenca é incompatível com as condições de vida e de trabalho da imensa maioria dos mortais. Um mínimo de aprofundamento nesses dois temas exige bastante tempo de estudo, além de depender de razoável orientação.
É importante alertar, então, que não vai demorar muito para que todo adulto responsável tenha de encarar esse tipo de desafio, pois transmitir os significados dessas duas noções a adolescentes passará a ser tão importante quanto ensiná-los a se prevenir contra doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS.
Uma das principais apostas da Agenda 2030, lançada há um semestre em cúpula da ONU da qual participaram representantes de 193 Estados, é que, ao longo dos próximos 15 anos, todos tenhamos os conhecimentos necessários à promoção de seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), condição para que caia drasticamente o número de desvalidos, “os que ficam para trás”.
O diabo é que até dá vertigem a leitura dessa agenda e, principalmente, dos 169 enunciados que detalham os ODS. Pior: parecendo um polvo de 17 tentáculos, mas sem cabeça, não preveem um objetivo abrangente que integre o conjunto e acelere a superação do PIB e do IDH como verdadeiras bússolas do progresso. Por isso, enquanto não forem encontradas maneiras adequadas de comunicar tais conteúdos, de forma necessariamente crítica, pode-se ter certeza de que essa nobre ambição não sairá do papel.
Daí a importância de construir e disponibilizar ferramentas voltadas para todos os que participarão dessa imensa empreitada que será o uso dos ODS para explicar de forma amigável e otimista os sentidos dos tais de “sustentabilidade” e “desenvolvimento sustentável”.
É nesse contexto que se inserem duas novíssimas iniciativas digitais cujos públicos-alvo podem até ser bem diferentes, mas que compartilham a mesmíssima ambição.
A primeira é mundoise.isebvmf.com.br, uma forma bem-humorada de abordar o valor “sustentabilidade” conforme contextos de situações da vida real. Foi lançada há poucos meses como interface lúdica do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) – iniciativa que ano passado já assoprou 10 velinhas. Apresenta o conjunto de temas desse indicador para estimular a disseminação das práticas contempladas em seu questionário, assim como uma visão integrada sobre a agenda da sustentabilidade empresarial. Permite acessar informações sobre os temas tratados e seus inter-relacionamentos, e também conduz os mais interessados às perguntas do questionário.
A segunda – sustentáculos.pro.br –, em pleno lançamento, é mais dirigida a educadores em geral (inclusive pais de adolescentes) com o objetivo de facilitar o acesso aos melhores conteúdos, tanto sobre os aspectos mais conceituais da sustentabilidade do desenvolvimento (organizados em oito temas) quanto sobre cada um dos 17 ODS.
Essas duas ferramentas digitais, que em breve encontrarão ágeis formas de cooperação e integração, precisam muito do feedback crítico dos leitores de Página22 que se animem em enviar dúvidas, comentários e sugestões. É justamente para isso que Mundo ISE apresenta um “Fale conosco” e Sustentáculos oferece uma “Caixa de Diálogo”.
As duas ferramentas pressupõem que o termo “sustentável” sempre exprimiu a esperança de que a humanidade poderá se relacionar com a biosfera de modo a evitar desagradáveis surpresas que reduzam o leque de escolhas das futuras gerações. Uma noção incompatível com a catastrofista ideia de que desastres só estariam sendo adiados, ou com qualquer tipo de dúvida sobre a real possibilidade de que a humanidade continue a avançar.
Em seu âmago está uma visão de mundo dinâmica na qual a transformação e adaptação são oportunidades que dependem de elevada consciência, sóbria prudência e muita responsabilidade diante dos riscos e, principalmente, das incertezas. Desenvolvimento sustentável deve ser entendido, portanto, como um dos mais generosos ideais já concebidos pela humanidade. Só comparável ao bem mais antigo ideal de “justiça social”, ambos exprimem os mais nobres desejos coletivos, ao lado da paz, da democracia, da liberdade e da igualdade.