Desde o final de 2015, diversos países ao longo do centro-leste do continente africano estão em alerta por causa da exacerbação de eventos climáticos extremos, relacionada com a ocorrência mais forte do fenômeno El Niño – decorrente do aquecimento da superfície do Oceano Pacífico, que altera padrões climáticos em todo o planeta. Estima-se que a força do El Niño na temporada 2015-2015 seja efeito do aquecimento gradual e persistente da atmosfera terrestre nos últimos anos, que vem intensificando a frequência de eventos climáticos extremos.
Em muitas regiões da África, a situação já é de calamidade pública: apenas em Moçambique, um dos países mais afetados por distúrbios climáticos nesta temporada, mais de 380 mil pessoas estão dependendo de assistência humanitária para sobreviver, principalmente nas províncias do sul do país, afetadas por uma fortíssima seca.
Este cenário deverá piorar consideravelmente nos próximos meses, já que a região está entrando em uma estação tradicionalmente mais seca. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apenas em Moçambique, estima-se que 1,5 milhão de pessoas enfrentarão insegurança alimentar e precisarão de ajuda humanitária emergencial até o final de 2016, ao custo de US$ 13 milhões mensais durante o período.
Em Moçambique, o impacto do El Niño não se resume apenas à seca no sul – no norte do país, chuvas persistentes estão causando alagamento em diversas regiões, afetando pouco mais de 10 mil pessoas até o momento. Este cenário complexo – chuvas excessivas no norte e forte seca no sul – está arruinando a agricultura do país, o que coloca em risco a segurança alimentar de um país com tradicionais problemas de desnutrição.
O cenário mais dramático, no entanto, se desenha na vizinha Etiópia. De acordo com a UNICEF, estima-se que mais de 10 milhões de pessoas estão sofrendo com os efeitos da seca no país, em um nível similar à da seca histórica de 1983-5 que devastou o país e que causou comoção global – a catástrofe etíope inspirou o engajamento de cantores internacionais, que organizaram músicas e concertos beneficentes em todo o mundo, com destaque para os lendários shows do Live Aid, em julho de 1985.
No entanto, diferentemente da crise dos anos 1980, a atenção global não está na Etiópia, mas em outros cenários problemáticos, como Síria e Líbia, o que significa que o montante de recursos para ajudar o país ainda está aquém das necessidades previstas para os próximos meses – de acordo com o governo etíope, serão necessários quase US$ 1,5 bilhão. No começo de abril, a Comissão Europeia anunciou a destinação de € 122,5 milhões para o país lidar com os efeitos mais imediatos da seca – o montante alivia o problema, mas ainda é pequeno quando comparado com as necessidades efetivas da Etiópia para enfrentar a seca.
“As pessoas estão vendo suas lavouras e seus animais morrerem de sede, ao mesmo tempo em que elas sabem que não têm comida ou água suficientes para si próprias”, diz Nigel Timmins, diretor humanitário da Oxfam na Etiópia. “A escala deste problema requer financiamento urgente e significativo de doadores internacionais para complementar os esforços domésticos”.
Além de Moçambique e Etiópia, a seca atinge também o Malawi, Somália, Lesoto e Suazilândia.