Uma família de três pessoas que sobrevive com um salário mínimo no Brasil, R$ 880,00, deve trabalhar 128 anos e oito meses para conseguir receber o que ganha um multimilionário em um mês. Do outro lado, o ricaço leva apenas 38 minutos para conseguir receber a renda dessa família. O cálculo foi feito na ferramenta lançada pela organização Oxfam em parceria com a agência digital de jornalismo investigativo Ojo Público, a Calculadora da Desigualdade.
Segundo os dados publicados pela Oxfam no aplicativo, no Brasil há hoje 4.225 multimilionários, com fortunas que representam 6,6 vezes o investimento público do Estado em educação e são equivalentes a 37% do Produto Interno Bruto. Os dados da ferramenta são de um estudo da própria organização, Privilégios que Negam Direitos, que associa dados da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, das Nações Unidas), do Credit Suisse Global Investment Returns Yearbook, do World Ultra Wealth Report, além de dados locais, como índice de inflação.
“A calculadora escancara a desigualdade e a segmentação da sociedade em que vivemos”, diz em nota Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil. “Esses números nos permitem não apenas comparar os ganhos nas diferentes faixas de renda da população, como também lembrar que a concentração da riqueza vai de mãos dadas com a concentração de poder e, portanto, afeta a qualidade de nossas democracias porque perverte as instituições e processos políticos, submetendo-os para servir os interesses da elite, não da cidadania.”
A ferramenta compara os rendimentos mensais de cidadãs e cidadãos em 16 países da América Latina e do Caribe. De acordo com a Oxfam, no ano de 2014 os 10% mais ricos desses países acumulavam 70% do total da riqueza da região. Os dados do World Ultra Wealth Report 2014, revelam que na região existiam 14.805 multimilionários, que são as pessoas com riqueza superior a US$ 30 milhões em 2014. O resultado mostra a extrema concentração: um multimilionário da América Latina ganha, por ano, 4.846 vezes o que recebe uma pessoa que está no grupo dos 20% mais pobres da região.
Além de apresentar de uma forma lúdica os dados sobre desigualdade no País, a organização associou a calculadora a uma petição pelo fim dos paraísos fiscais, considerados uma das formas de perpetuar a desigualdade e conferir privilégios aos ricos.
“O debate sobre a desigualdade é essencialmente político, e queremos que esta calculadora ajude as pessoas a tomar consciência das terríveis lacunas que existem nas sociedades latino-americanas, fazendo-as exigir de seus governantes medidas para repensar o modelo de desenvolvimento, sem perder os ganhos obtidos na luta contra a pobreza. É uma necessidade inevitável em termos éticos, políticos, sociais e econômicos”, acrescenta Katia Maia.