A necessidade de planejar-se para adaptação já é uma realidade e a busca por informações relevantes, seu principal desafio
Cada vez mais temos observado (ou até sentido) os impactos que as alterações no sistema climático global têm provocado. Estamos em um ponto em que somente a prevenção já não basta: mesmo que compromissos ambiciosos de redução de emissões de gases de efeito estufa sejam alcançados, será necessário se preparar para impactos atuais e potenciais da mudança do clima. Assim, essa nova realidade climática vai exigir (e em alguns casos já exige) estratégias de adaptação: medidas para minimizar possíveis danos e aproveitar as oportunidades potenciais desses impactos.
O Brasil hoje está na 71ª posição do Índice Global de Adaptação a Mudanças Climáticas (ND-GAIN), que mede a preparação dos países frente as mudanças climáticas considerando sua vulnerabilidade e preparação, sendo que o Chile é o melhor colocado na América Latina, com a 30ª posição. Um dos esforços recentes para o avanço do tema no país é o Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas (PNA), instituído em maio deste ano pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).
A mudança do clima desdobra-se em consequências para o País, regiões e localidades sem respeitar fronteiras ou limites setoriais. Os impactos se concretizam no território e variam muito entre as microrregiões; os grupos e organizações presentes em cada uma delas são impactadas de diferentes formas, de acordo com seu foco de atuação, exposição e capacidade adaptativa. Assim, à medida que essa questão se mostra mais relevante e urgente, mais gestores, de organizações de todos os setores (público, privado e sociedade civil), ficam interessados em desenvolver estratégias de adaptação. Mas do reconhecimento da necessidade de criar uma estratégia até a ação efetiva há um longo caminho e o desafio posto nacionalmente é a capilarização e implementação transversal e multi-nível das diretrizes oferecidas pelo PNA.
Preparação para essa nova realidade: Plano de adaptação e seus principais desafios
O planejamento em adaptação à mudança do clima é importante para uma atuação consistente, integrada à estratégia da organização, com visão sistêmica e de longo prazo, evitando a “má adaptação” (aumentar a vulnerabilidade às mudanças climáticas ou deixa de aproveitar oportunidades para adaptação). Ainda, é um processo que contribui para a integração da adaptação a outras áreas e pastas, já que o ideal é que a mudança do clima seja levada aos demais processos e agendas, como a gestão de riscos de uma empresa e os planos de desenvolvimento local municipais, por exemplo.
Um plano de adaptação começa com a delimitação do objetivo e escopo do projeto de adaptação na organização – e por vezes persuadir e envolver as áreas e níveis necessários não é uma tarefa fácil. Depois, é preciso conhecer muito bem os possíveis efeitos da mudança do clima – e é ai que o desafio fica mais complexo. Como são eventos futuros, e por isso incertos e de localização imprecisa, a primeira coisa é obter informação de qualidade. A ciência fornece a cada dia dados mais completos e robustos sobre fenômenos e projeções climáticas. A quantidade e qualidade de informação nunca foi tanta. Porém, tanta informação e atores envolvidos gera outra dificuldade: saber onde encontrar a informação e se ela é confiável ou relevante. Ainda, especificamente para o tema de mudança do clima no Brasil, por vezes faltam dados, principalmente sobre projeções climáticas regionais e séries temporais.
Se o gestor é bem sucedido nessa etapa de identificação de riscos e oportunidades relacionados à mudança do clima, o passo seguinte é a elaboração de um plano de adaptação – que demanda parcerias e recursos, além do conhecimento de como desenvolvê-lo. Por fim, há a implementação, que envolve as ações e monitoramento, avaliação e comunicação.
Assim, apesar da conscientização, poucos gestores dedicam-se à implementação de medidas de adaptação em suas organizações. Muitos desistem no meio do caminho, ao se deparar com a falta de informações ou dificuldade de interpretação e aplicação das informações acessadas. Para os que seguem adiante, demasiado tempo e esforço é perdido nessa jornada.
Construindo pontes entre atores e para informações relevantes: Plataforma de Conhecimento em Adaptação – AdaptaClima
Tendo isso em vista, mais de 70 organizações se uniram para transformar esse cenário com o compromisso de cocriar uma plataforma de conhecimento em adaptação à mudança do clima no Brasil.
Nós queremos ver uma mudança na forma que o Brasil lida com adaptação, de forma que todos os gestores tenham capacidade e confiança para analisar e responder a ameaças e oportunidades geradas pelas mudanças climáticas. O papel da plataforma é de direcionar esforços, integrando os atores em uma rede, impulsionando melhores práticas e sistematizando conhecimento em um só lugar – para que desafios, lacunas e dúvidas não paralisem a ação dos gestores.
A plataforma, apelidada de AdaptaClima, vai contribuir diretamente para 1º objetivo do PNA, que prevê entre suas metas uma “plataforma online de gestão do conhecimento em adaptação criada e disponível à sociedade”. O objetivo é proporcionar aos gestores, seja do setor público, privado e sociedade civil, o acesso a abordagens e casos de adaptação, projeções climáticas locais para embasar sua tomada de decisão, oportunidades de financiamento, eventos e capacitações sobre o tema, além de e conectá-los em rede, trabalhando juntos para construir capacidade, co criar medidas de adaptação e compartilhar conhecimento.
O projeto é fruto de uma parceria entre o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (GVces), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o International Institute for Environment and Development (IIED), com o apoio do Conselho Britânico, através do Fundo Newton, que juntos compõe o Comitê Gestor. Ainda, entendendo que o desenvolvimento da Plataforma deve ser feito de forma colaborativa, diversos atores do setor público, privado e sociedade civil também foram convidados: são 33 atores-chave (envolvidos em encontros presenciais), 28 colaboradores (envolvidos em consultas remotas) e inúmeros influenciadores que acompanham o projeto por meio das newsletters bimestrais.
Para saber mais do projeto acesse o site www.gvces.com.br/adaptaclima e inscreva-se aqui para receber as newsletters bimestrais