As expressões “energia limpa” e “energia renovável” parecem simples, mas despertam muitos debates conceituais.
O físico José Goldemberg pode nos ajudar a entender essa complexidade. No livro Energia e Desenvolvimento Sustentável, explica que toda a energia disponível ao homem na superfície da Terra, com exceção da nuclear é, em tese, renovável, ou seja, está disponível continuamente. No entanto, é a velocidade de exploração de uma fonte e sua capacidade de se renovar naturalmente que determinará se ela é ou não renovável no nosso contexto.
No caso dos combustíveis fósseis – como o petróleo, o gás natural e o carvão mineral – a intensa exploração tem promovido a exaustão das reservas, que já não conseguem mais se renovar na mesma velocidade da retirada e devem se esgotar dentro de alguns anos. Essas fontes são, portanto, não renováveis. É considerada renovável a energia proveniente de recursos naturais disponíveis continuamente, como a solar, a eólica, a das marés, a da biomassa e a geotérmica.
As hidrelétricas, historicamente consideradas renováveis, têm sido foco de intensas discussões. Seus múltiplos impactos, como a destruição de vastas áreas de floresta, a liberação de gases de efeito estufa pela área alagada e os profundos impactos aos povos indígenas e ribeirinhos são alguns dos motivos que levam a repensar esta fonte como uma solução aos desafios da sustentabilidade. Além disso, as crises hídricas, cada vez mais frequentes e intensas, coloca em xeque a disponibilidade contínua de água.
Já as fontes eólica, solar e biomassa tendem a ser vistas como mais “modernas” do que a hidroeletricidade, pois geram menor impacto socioambiental. Por isso, são chamadas de “novas renováveis”, segundo o relatório [R]evolução Energética, publicado pelo Greenpeace em vários países, inclusive no Brasil. O documento propõe “uma matriz energética limpa, renovável e justa”.
Por todo esse conjunto da obra, o sociólogo Ricardo Abramovay, professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP), observa que “a hidroeletricidade já nem entra mais [na literatura acadêmica] como energia renovável moderna”.
O líder do Global Strategic Communnication Council (GSCC) no Brasil, Delcio Rodrigues, acredita que a energia hidrelétrica ainda é válida, mas não no contexto da Amazônia, por seus inúmeros impactos socioambientais. Ou seja, ele acredita que a hidroeletricidade “é renovável, mas não é limpa”.
É um debate ainda sem consenso. Para Gilberto Jannuzzi, professor do Departamento de Energia da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade de Campinas (Unicamp), todas as fontes geradoras de energias implicam impactos, ainda mais se considerarmos a escala de energia que precisamos. “Stricto sensu não existe fonte limpa, apenas as menos sujas. É bom olhar a eficiência energética como uma fonte. Não usar energia é a forma mais limpa que se tem”, comenta o professor.