Na semana passada, os líderes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se reuniram para a 8ª Cúpula Anual do BRICS na cidade indiana de Goa. Um dos tópicos na discussão entre os chefes de governo do grupo de países emergentes foi a atuação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), criado pelo BRICS para financiar projetos de desenvolvimento nesses países, no apoio para projetos de desenvolvimento sustentável e energias limpas.
Cerca de 2/5 do investimento mundial em energia limpa em 2015 ocorreram na China, Índia, Brasil e África do Sul – sendo que, do total de US$ 133 bilhões aplicados nesses países, US$ 110 bilhões financiaram projetos apenas na China. Até o momento, o NBD financiou mais de US$ 900 milhões nos cinco países, e a ideia do grupo é ampliar o crédito para até US$ 2,5 bilhões no final de 2017.
No entanto, mesmo que esse montante seja atingido no ano que vem, o NBD ainda está distante de fazer a diferença efetiva no impulso a projetos de energia limpa nos BRICS. Segundo estudo divulgado pelo Instituto de Economia e Análise Financeira de Energia (IEEFA, sigla em inglês), os cinco países emergentes precisam investir cerca de US$ 50 bilhões anuais para aumentar sua capacidade de energia de forma a cumprir as metas para energia renovável apresentadas por eles em suas contribuições nacionalmente determinadas pretendidas (INDC, sigla em inglês) para o Acordo de Paris.
O estudo destaca a importância de instituições públicas de fomento nacional e internacional, como o NBD, para que os países emergentes do BRICS possam avançar na geração de energias limpas de acordo com seus compromissos no âmbito do esforço global contra a mudança do clima.
Nos últimos anos, o avanço das energias limpas no BRICS tem sido díspar. Enquanto a economia chinesa vem passando por uma verdadeira revolução energética, com grandes investimentos em fontes renováveis de energia, a Rússia não avança nesse setor. Essa diferença reforça a importância de instituições externas de fomento, em particular o NDB, para a promoção de projetos de energias limpas nos principais países emergentes.
“O NDB planeja aumentar sua carteira de crédito em cerca de US$ 1,2 bilhão por ano ao longo dos próximos três anos, o que é apenas 11,7% do capital incremental exigido pelas instituições públicas”, aponta Jai Sharda, um dos autores do estudo. “Portanto, existe uma clara necessidade de aumentar a taxa com a qual ele implanta capital adicional. Além disso, o NDB precisa garantir que, daqui em diante, ele continue a se concentrar no financiamento de projetos de energia renovável”.
“A agenda climática precisa ser colocada no cerne da agenda econômica dos BRICS”, defendeu Ana Toni, diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade. “Energia é uma premissa vital do crescimento econômico e da inclusão social e, com a entrada em vigor do Acordo de Paris, o único caminho possível é o das energias limpas.”
Um desafio para o NDB avançar no apoio a projetos de energias renováveis é a instituição ter critérios e conceitos claros sobre desenvolvimento sustentável. “Embora o NDB tenha definido determinados tipos de investimentos como elegíveis para financiamento, a falta de uma definição clara do que é desenvolvimento sustentável permite que alguns projetos, como o ‘carvão limpo’, acabem sendo financiados pelo Banco”, explica Srinivas Krishnaswamy, CEO da Vasudha Foundation (Índia). “Se o NDB vai ser algo novo, ele terá de romper com o modelo até agora seguido de apoiar modelo de desenvolvimento orientados para a extração”.