A disponibilidade e qualidade de informações relacionadas a clima existentes hoje são sem precedentes. Depende estado setor e área de atuação. Há casos em que há muitas informações, agrupadas em base de dados, publicações ou ferramentas. Por outro lado, em outras áreas falta informação relevante. Em ambos os casos o resultado é similar: pessoas tem dificuldade de encontrar o que é útil para elas em decisões diárias no seu trabalho. Porém, se quisermos criar um futuro resiliente às mudanças do clima, decisões embasadas em informações sobre o clima atual e cenários climáticos futuros terão que ser tomadas pelos diferentes agentes públicos e privados.
Tendo isso em vista, está sendo desenvolvida a Plataforma AdaptaClima, uma parceria entre o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (GVces), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o International Institute for Environment and Development (IIED), com o apoio do Conselho Britânico, por meio do Fundo Newton.
O projeto dedica-se ao desenvolvimento de uma plataforma web de conhecimento em adaptação à mudança do clima no Brasil, com lançamento previsto para o fim de 2017. A ideia é que a Plataforma disponibilize informações sobre adaptação voltadas para realidade brasileira e promova a interação entre usuários e provedores de conhecimento – o que deve contribuir para o aumento da capacidade do Brasil de se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas.
Utilizando uma linguagem técnica, a Plataforma pretender ser knowledge broker ou seja, realizar um conjunto de atividades intermediárias para ligar a produção e uso do conhecimento. O objetivo é apoiar tomadores de decisão a adquirir, analisar, considerar e compartilhar conhecimentos relacionados à mudança do clima e aos riscos e oportunidades dela derivados (IISD, 2013).
Impulsionados pelas novas possibilidades de alcance, acesso, filtragem e armazenamento da tecnologia e da internet, recentemente tem surgido diversos knowledge brokers, como os conectados na rede Climate Knowledge Brokers Group (CKB). A CKB é uma rede internacional de mais de 150 organizações que atuam nas áreas de clima e desenvolvimento. Recentemente o grupo desenvolveu um Manifesto forma colaborativa com os membros da rede: Informed decision making for a climate resilient future.
Em setembro, o GVces representou o AdaptaClima no Workshop Internacional do Climate Knowledge Brokers. Além de participar de debates e atividades, o projeto AdaptaClima foi tema de uma “clínica de compartilhamento de conhecimento”, uma atividade colaborativa em que os participantes foram convidados a dar contribuições sobre os desafios do projeto: manter os atores engajados ao longo do projeto e estruturar uma governança efetiva e transparente para a futura plataforma. O workshop contou com a participação de 40 pessoas e foi uma oportunidade de compartilhar experiências e aprendizados entre diferentes organizações que buscam atuar como ‘intermediadoras de conhecimento’ na agenda de mudança do clima. Algumas delas são: CAIT (Climate Analysis Indicators Tool), plataforma de dados do World Resources Institute; International Partnership on Mitigation and MRV e CTCN (Climate Technology Centre and Network).
Diferentes instrumentos são utilizados por essas organizações para atuar como knowledge brokers. Um deles são as plataformas web de conhecimento, que recentemente têm se multiplicado. Sabendo disso, foi constituído um grupo de ‘atores-referencia’ para o desenvolvimento da plataforma web da AdaptaClima; isso é um grupo de atores que participaram da elaboração ou estão na gestão/operação de outras plataformas de conhecimento em adaptação a mudança do clima e que servirá de inspiração para o projeto.
O grupo inclui representantes das plataformas We Adapt, Climate X Change e Adaptation Scotland. Inclusive, no começo de dezembro a equipe do projeto irá para o Reino Unido para realizar workshops e conversas com gestores dessas organizações para compartilhar desafios e aprendizados.
Para além da plataforma web: o que compõe o projeto
A plataforma web é o que torna possível a conexão digital. Mas na raiz está a conexão entre pessoas. Para que a plataforma seja perene e cumpra seu propósito, é crucial que haja integração, coordenação e colaboração entre os atores envolvidos.
Tendo isso em vista, e considerando que somente abrir um canal de compartilhamento não significa que as pessoas vão de fato usá-lo, o projeto prevê também o desenvolvimento de atividades de comunicação e engajamento, como seminários, capacitações, interações no ambiente offline. Além disso, o processo de criação da Plataforma está sendo feita de forma colaborativa com atores da agenda de adaptação no Brasil, abordagem fundamental para o estabelecimento de vínculos entre os atores envolvidos, que futuramente irão alimentar e interagir na plataforma web.
Ainda, para que a Plataforma seja perene, o terceiro pilar é a estruturação de uma governança estável e legítima, de forma que ela ganhe um sólido reconhecimento dos usuários, funcione efetivamente como um bem público e seja autogerida a partir de um arranjo formado por organizações autônomas e capaz de dar oportunidade de participação nesta governança a todos os interessados.
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