De Marrakech – Segundo análises recentes sobre os impactos atuais e potenciais da mudança do clima, a saúde humana pode ser bastante afetada pelo aumento da temperatura média do planeta e as alterações decorrente disso na dinâmica climática terrestre. No entanto, até o momento, não existe um levantamento científico sobre a escala e a dimensão dos impactos da mudança do clima sobre a saúde humana, o que afeta a capacidade de resposta de profissionais e especialistas da saúde pública.
Para tirar o setor dessa situação de incerteza, a revista médica The Lancet apresentou hoje (14/11), durante a Conferência do Clima de Marrakech (COP 22), a Contagem Regressiva Lancet: Acompanhando o Progresso na Saúde e na Mudança do Clima, um relatório anual que reunirá informações e análises sobre os impactos da mudança do clima sobre a saúde humana, de forma a assegurar que eles sejam documentados e compreendidos pelos profissionais do setor, facilitando a resposta a possíveis impactos negativos.
Esta é a primeira iniciativa de pesquisa internacional e multidisciplinar com foco na dinâmica entre clima e saúde pública. “A Contagem Regressiva está sendo lançada para reunir as evidências necessárias para responsabilizar aqueles que elaboram e deliberam políticas públicas por suas promessas e compromissos”, explica Dr. Richard Horton, editor-chefe de The Lancet. “A comunidade científica pode fazer uma importante contribuição para aumentar a consciência política e acelerar o progresso para um mundo mais saudável e com menos carbono”.
A Contagem Regressiva Lancet baseia-se nas conclusões da Comissão Lancet de Saúde e Mudança do Clima, apresentadas no ano passado pouco antes da Conferência do Clima de Paris (COP 21). A Comissão apontou que as alterações do clima representam um “risco potencialmente catastrófico para a saúde humana” e, ao mesmo tempo, “a maior oportunidade de saúde global do século XXI”.
A expectativa é que esta iniciativa auxilie a ampliar a base de evidências sobre as tendências inter-relacionadas da saúde e da mudança do clima, de maneira a demonstrar também o potencial de medidas de prevenção e mitigação de danos. Um dos pontos centrais de análise deve ser a poluição atmosférica, responsável pela morte de 18 mil pessoas diariamente em todo o planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O dióxido de carbono (CO2) é o principal responsável pela maior parte da poluição do ar e uma das principais causas da mudança do clima.
“Os impactos da mudança do clima na saúde já estão sendo sentidos e afetando as comunidades mais vulneráveis do planeta. Ninguém está imune ou fora do alcance”, argumenta Patricia Espinosa, secretária-executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, sigla em inglês). “A ação climática, liderada pelos governos e apoiada por empresas, cidades, investidores e cidadãos – incluindo os profissionais de saúde – nos permite obter uma melhor qualidade de vida, como um direito em si e como pilar fundamental dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)”.
A relação entre saúde humana e mudança do clima será abordada pela Contagem Regressiva Lancet através de uma análise aprofundada de temas relevantes no contexto de tendências globais, regionais, nacionais e urbanas. Os principais temas são: os impactos da mudança do clima na saúde; resiliência e adaptação à saúde, co-benefícios da saúde da mitigação; finanças e economia, e engajamento político. O escopo de pesquisa, análise e base para a criação da iniciativa foi delineado em um documento apresentado durante o lançamento em Marrakech.