A Fornari, de Santa Catarina, promove segurança alimentar e cuidado com o trabalhador ao desenvolver equipamento para desinfecção de ovos sem uso de formol
Grande polo produtor de frango e ovos, o estado de Santa Catarina ficou em polvorosa com o primeiro surto da gripe aviária no Brasil, em 2006. Muitos produtores precisaram investir em tecnologias de desinfecção e descontaminação para conter o avanço do vírus H5N1, subtipo que causa influenza A em aves. Para Luciane Piovezan Fornari, o problema cheirava a oportunidade de negócios.
Com nove anos de experiência no setor administrativo da Sadia (hoje BRF), ela enxergou uma oportunidade de negócios que aliava bem-estar animal, segurança alimentar e melhores condições de trabalho. Propôs ao sogro, dono de uma mecânica com mais de 30 anos de atuação no município de Concórdia, no interior do Estado, que adaptasse o maquinário para produzir um equipamento para descontaminação de ovos.
Os ovos saem das galinhas muitas vezes contaminados com sangue e fezes, o que propicia a disseminação de patógenos na cadeia produtiva. Tradicionalmente, os ovos passavam por processo de limpeza manual seguido por fumigação com formol – mas o uso do produto para essa aplicação começou a ser banido no País a partir de 2008, pois o contato direto vinha causando sérios problemas de saúde em funcionários de avícolas – com casos relatados de câncer de esôfago devido à inalação da substância.
Luciane Fornari então desenvolveu um protótipo da máquina de desinfecção de ovos e apresentou a ideia para as duas grandes empresas do segmento – Sadia e Perdigão, que aceitaram testar o equipamento. Após dois anos de testes bem-sucedidos, a notícia de que as máquinas poderiam substituir o formol se espalhou entre os produtores, e a demanda pelo equipamento começou a se intensificar. De oficina mecânica com atuação local, a Fornari tornou-se uma indústria de bens de capital para o segmento do agronegócio e passou a atender todo o Brasil.
A máquina de desinfecção de ovos é hoje o carro-chefe da empresa e permite a sanitização não só dos ovos que são vendidos ao consumidor final, mas também dos ovos férteis, que seguem para a criação de frangos. “Esse sistema, além de mais seguro para o trabalhador e o consumidor final, ainda reduziu significativamente a mortalidade de pintinhos, que não nasciam devido ao contato com o formol. Os nascimentos aumentaram a uma taxa de 1%,” diz a empreendedora.
Contaminação de aquíferos
Ao longo dos anos, a empresa foi elaborando outras soluções para o mercado avícola, como um sistema de cloração para a água que é servida às aves e uma lavadora destinada à limpeza de bandejas de nascimento e caixas de pintinhos. Além disso, acaba de desenvolver, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc), um equipamento que possibilita separar os componentes líquido e sólido do lodo das criações de gado de leite e suínos, que têm alto impacto ambiental.
“Em Santa Catarina, os aquíferos estão sendo contaminados com os rejeitos da criação de suínos”, diz Fornari. “Visitamos várias empresas de saneamento para ver como funcionam os processos de separação e descontaminação do lodo para adequar o sistema à realidade dos produtores”, diz. O novo produto, lançado este ano, prensa o lodo, retendo 30% dos resíduos líquidos, que possuem grande quantidade de fósforo na composição. O resíduos contaminam as águas quando lançados in natura no meio ambiente, mas têm potencial para serem utilizados como fertilizantes agrícolas.
Decidida a expandir sua atuação para o mercado externo, a Fornari estuda o mercado americano há três anos e, em uma visita recente à Poultry Show, principal feira do setor avícola dos Estados Unidos, fez os primeiros contatos com zootécnicos do estado da Geórgia para testar os equipamentos em uma universidade local.
A empresa, que já comercializou maquinário para países como Turquia e Filipinas, espera acessar o mercado americano a partir do ano que vem, e, de lá, validar suas tecnologias para comercializá-las em outros países. “Exportar para os EUA abre as portas para o restante do mundo”, diz Fornari.
Fornari Indústria
www.fornariindustria.com.br
Pequena empresa
Setor: Agronegócio
Faturamento em 2015: R$ 3,1 milhões
Funcionários: 18
Fundação: 2008
Principais clientes: BRF, JBS, Cooperativa Central Aurora, C.Vale, Cooperativa Agroindustrial Lar.
O que faz: Os equipamentos de higienização da Fornari substituem métodos que utilizam produtos químicos como o formol, que, além de trazer danos à saúde dos trabalhadores das avícolas, também leva à maior mortalidade de pintos e pode trazer riscos à saúde do consumidor. Também desenvolve máquinas para tratamento do lodo da pecuária (bovinos e suínos).
Inovação para a sustentabilidade: A máquina de desinfecção de ovos não utiliza formol, o que reduz o impacto da atividade no ambiente e na saúde dos trabalhadores; outros equipamentos da empresa, como o separador de lodo, promete melhorar a gestão dos resíduos nas propriedades que criam suínos e gado leiteiro; e o clorador permite ajuste ideal da quantidade de cloro da água que é oferecida às criações.
Potencial: A máquina de desinfecção de ovos tem potencial para exportação aos EUA, onde o uso do formol nas avícolas ainda é permitido, mas há um movimento de transição para um possível banimento. A empresa já está em estágio avançado para testar o equipamento no estado da Geórgia, em parceria com uma universidade local. O clorador também tem potencial para ser exportado para países da África.
Destaques da gestão: Empresa familiar, a Fornari possui práticas de governança e transparência, como contas e contabilidade separadas das contas pessoais dos sócios. São realizadas reuniões periódicas entre os sócios para divulgação interna dos atos de gestão relevantes ou discussões estratégicas. A empresa monitora a origem das matérias-primas utilizadas em sua cadeia produtiva. Em relação aos clientes, a Fornari realiza avaliações de riscos à saúde humana de produtos e serviços antes da introdução de novos materiais, tecnologias ou métodos de produção.