A Heide faz a ponte entre agricultores familiares que cultivam insumos vegetais da biodiversidade brasileira – como a erva-mate – e a indústria de alimentos e cosméticos
Nativa da América do Sul, a planta Ilex paraguariensis é uma velha conhecida de quem mora nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil: muito apreciada no chimarrão e no tereré, a erva-mate tem fascinado a indústria em razão de suas propriedades funcionais e cosméticas. Por ser diurética, digestiva e cheia de antioxidantes, a bebida à base da planta tem atraído consumidores que buscam alimentos mais saudáveis. A cafeína e os flavonoides presentes na erva também são atributos desejados pela indústria cosmética, que hoje produz de sabonetes e xampus a hidratantes e cremes anticelulite.
De olho nesse potencial mercado, em 2000 os farmacêuticos Rodrigo Heemann e Ana Carolina Winkler Heemann fundaram a Heide Extratos Vegetais, em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, com o objetivo de transformar matérias-primas de origem vegetal da biodiversidade brasileira, em especial a erva-mate, em ingredientes naturais voltados para a indústria alimentícia e cosmética.
Mais do que comercializar insumos de origem vegetal, a empresa busca reduzir a distância entre o trabalhador da agricultura familiar que planta e colhe as matérias-primas e a indústria, eliminando outros intermediários na cadeia.
Além da erva-mate, a Heide também comercializa insumos e produtos à base de camomila, calêndula, café verde, gengibre e frutos amazônicos oriundos do extrativismo, como açaí e guaraná. “Somos uma empresa de transformação que faz a ponte entre o pequeno agricultor que está no campo e a grande indústria. Nosso modelo de negócios foi concebido de modo a valorizar a produção da agricultura familiar”, diz Heeman, fundadora e diretora técnica da empresa.
Nos últimos anos, a Heide tem se dedicado a agregar mais tecnologia à produção de insumos, com investimentos em P&D por meio do programa Tecnova, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e a Fundação Araucária, de apoio à inovação no Paraná. A empresa possui quatro patentes de inovação, e atualmente desenvolve um insumo alimentício funcional à base de erva-mate, cujo lançamento está previsto para 2017. Hoje, o extrato concentrado da planta, cultivada em São Mateus do Sul (PR), já é um dos carros-chefe da empresa: sem adição de corantes e aromas artificiais, é comercializado para a indústria de bebidas.
Produção renovável e mais limpa
Na área de insumos cosméticos, todo o processo de desenvolvimento dos produtos também é guiado por atributos de sustentabilidade – é o caso dos extratos cosméticos da linha Fitoglicerinados (plantas e glicerina vegetal), com 100% de ingredientes de origem renovável, o que contribui para a redução no uso de derivados de petróleo, que geram maior impacto ambiental. A empresa também aguarda a certificação orgânica Ecocert, de origem francesa, voltada para insumos.
Outro diferencial da pequena empresa de Pinhais é o processo produtivo, que não utiliza solventes orgânicos pesados, somente água e álcool etílico de cana-de-açúcar. A produção dos extratos não gera grandes volumes de resíduos sólidos, e as quantidades produzidas hoje são destinadas à adubação.
O aumento da consciência dos consumidores em relação a aspectos de saúde e sustentabilidade é um dos motores do crescimento da empresa, que busca se expandir organicamente e também vislumbrando o mercado externo – a empresa já fez remessas para China, Estados Unidos e Alemanha, mas visa também o mercado latino-americano.
Segundo Heeman, a tendência dos alimentos e cosméticos orgânicos veio para ficar. “Quando o consumidor entende o benefício de uma alimentação saudável, ele vê também o benefício do cosmético com a mesma proposta e do produto certificado”, diz. Para a fundadora da Heide, não se trata apenas de um nicho de mercado, pois a popularização desses produtos é uma tendência – um exemplo são os alimentos orgânicos, que já têm lugar cativo nas gôndolas dos supermercados. “O preço final maior ainda é um desafio, mas, com o tempo e barateamento dos custos, os orgânicos devem atingir uma parcela maior da população”, acredita.
Heide Extratos Vegetais
www.heide.com.br
Microempresa
Setor: Química verde
Faturamento em 2015: R$ 940,5 mil
Funcionários: 8
Fundação: 2000
Principais clientes: Empresas B2B, fabricantes de cosméticos, alimentos e produtos para saúde animal, tais como Hugo Cini S/A, Mili S/A, Farmoquimica S/A, Ourofino Saúde Animal, Bayonne Cosméticos.
O que faz: Desenvolve e fabrica extratos vegetais para as indústrias cosmética e alimentícia.
Inovação para a sustentabilidade: A empresa se propõe a unir agricultores de plantas medicinais, aromáticas e frutíferas e a indústria alimentícia e de cosméticos. Isso é feito com a aquisição da produção diretamente dos agricultores, o que elimina intermediários e contribui para uma maior valorização do agricultor, incentivando sua permanência no campo. Os produtos são desenvolvidos com insumos renováveis, sem presença de solventes derivados do petróleo.
Potencial: A empresa deseja estudar as tendências e avaliar os mercados que possuem potencial de compra para suas matérias-primas. Nos próximos dez anos, a Heide vislumbra exportar para Estados Unidos, países árabes e Alemanha. As atividades de P&D são desenvolvidas com instituições parceiras (UFPR, Ital), e o objetivo é a comprovação da segurança e eficácia dos insumos.
Destaques da gestão: A empresa possui boas práticas de gestão em sua cadeia produtiva, como o monitoramento de origem das principais matérias-primas utilizadas e do atendimento de seus fornecedores a requisitos legais. Realiza o aproveitamento dos resíduos orgânicos em hortas, enquanto os resíduos inorgânicos são destinados à reciclagem. Minimizam ruídos com a utilização de revestimento acústico na casa de máquinas, já que a sede da empresa está localizada em uma área residencial de Pinhais (PR).