Não estamos em um ponto fora da curva: a própria curva está “fora da curva”. Pelo terceiro ano seguido, o planeta Terra registrou alta recorde na temperatura média em 2016, com 1,1 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, no começo da segunda metade do século XIX.
O anúncio foi realizado hoje (18/01) por três das principais organizações científicas que monitoram o clima: as norte-americanas NASA e Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA, sigla em inglês) e a britânica MetOffice. O alerta dos cientistas é claro: mesmo com o efeito do El Niño – fenômeno decorrente do aquecimento da superfície do Oceano Pacífico, que altera padrões climáticos em todo o planeta (saiba mais) – sobre as temperaturas globais nos últimos dois anos, o impacto do aumento da concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera terrestre é evidente no aquecimento global recente – e a tendência não é agradável para o futuro.
“O El Niño foi um fator neste último ano, mas tanto 2015 quanto 2016 teriam sido recordistas mesmo sem [esse fenômeno]”, aponta Gavin Schmidt, diretor do Goddard Institute for Space Studies. “Não esperamos anos recordistas [em aquecimento] todos os anos, mas a tendência atual de longo prazo está clara”. De acordo com Schmidt, o El Niño pode ter contribuído para o aquecimento de 2016 em apenas 10%, enquanto o restante do aquecimento pode ter sido causado pela concentração de GEE na atmosfera terrestre no último século.
2015 and 2016 were the two warmest years for the planet on record pic.twitter.com/386IzcyDrE
— Ed Hawkins (@ed_hawkins) 18 de janeiro de 2017
A maior parte do aquecimento global aconteceu nos últimos 35 anos, sendo que 16 dos 17 anos mais quentes já registrados ocorreram depois do ano de 2000. Não apenas 2016 foi o ano mais quente, mas oito de seus 12 meses (de janeiro a setembro, com exceção de junho) foram os mais quentes com relação aos respectivos meses nos anos anteriores. As temperaturas registradas nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2016 ficaram atrás apenas daquelas registradas nesses mesmos meses em 2015.
Os números apresentados hoje mostram a situação dramática que o Ártico está vivenciando nos últimos anos por conta do aumento da temperatura média na Terra (saiba mais). No ano passado, o aquecimento registrado na região foi de quase 4 graus Celsius acima da média entre 1951 e 1980. O impacto desse aquecimento foi uma redução de quase 12,6% na cobertura de gelo marinho permanente, a menor extensão já registrada desde o começo das estimativas via satélite, em 1979.
O cenário para 2017 e para os próximos anos é similar ao que vivemos no último triênio. Neste ano em particular, os cientistas não esperam que ele registre temperaturas suficientes para levar o planeta para o 4º ano seguido com recordes de aquecimento, por conta do impacto do La Niña (resfriamento da superfície do Oceano Pacífico) sobre o clima global nos próximos meses. Porém, a tendência de aquecimento se mantém no longo prazo, o que ameaça a viabilidade de uma das metas do Acordo de Paris para contenção do aquecimento neste século – 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais.