Na luta contra a fome e a desnutrição, a mulher camponesa tem um papel fundamental que precisa ser reconhecido e valorizado em todo o mundo no esforço para atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030.
O alerta foi feito nesta quarta-feira (08/03), Dia Internacional da Mulher, por três agências das Nações Unidas voltadas para o combate à fome – a Organização para Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em inglês), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (IFAD), e o Programa Alimentar Mundial (WFP).
“A mulher no campo desempenha um papel crítico na agricultura e nos sistemas alimentares – não apenas como agricultoras, mas também como produtoras de alimento, comerciantes e gestoras”, disse José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO.
A despeito dessa importância, as mulheres no campo ainda enfrentam grandes dificuldades no mercado de trabalho rural e nas cadeias agrícolas de valor, alerta Graziano.”Geralmente, elas trabalham por uma remuneração menor [com relação aos homens] e sem proteção legal e social, o que limita sua capacidade de desenvolver capacidades, gerar renda e ter melhores oportunidades de emprego”.
Nos países em desenvolvimento, as mulheres compõem mais de 45% da força de trabalho rural, variando entre 20% na América Latina e 60% em partes da África e da Ásia. Porém, elas desempenham essa função e recebem proporcionalmente menos que trabalhadores homens.
Além da disparidade de renda, as agências apontam que leis, normas e práticas sociais nessas comunidades também limitam o acesso das mulheres a recursos importantes para o seu desenvolvimento, particularmente educação. Isso compromete sua capacidade de atingir todo seu potencial e influenciar a tomada de decisões nos espaços econômicos, sociais e políticos, o que acaba se refletindo no esforço de combate à fome e à desnutrição nos países em desenvolvimento.
Para Kanayo F. Nwanze, presidente do IFAD, a luta contra a pobreza passa pelo empoderamento das mulheres no campo. “Temos evidências amplas em todo o mundo de que o empoderamento das mulheres nos meios rural e urbano resulta em crescimento econômico e melhor qualidade de vida para todos”.
Nas últimas décadas, a situação da mulher ao redor do mundo melhorou, mas o duplo encargo de trabalhadora rural parcamente paga e trabalhadora doméstica sem qualquer remuneração impede que ela participe plenamente de atividades geradoras de renda. “A melhoria do acesso das mulheres do campo a tecnologias que economizam tempo e trabalho é essencial para reduzir sua carga de trabalho, da mesma forma que precisamos transformar as relações de gênero dentro do ambiente familiar”, argumenta Nwanze.
O esforço global para erradicar a fome em todo o mundo no contexto dos ODS é uma oportunidade importante para que governos e empresas direcionem ações para melhorar a situação da mulher no campo, aponta Ertharin Cousin, diretora-executiva do WFP. “Garantir que as mulheres tenham acesso adequado à terra, ferramentas, fertilizantes e crédito melhora suas vidas e as vidas de suas família, potencialmente tirando milhões de pessoas da fome. Além disso, avançar na educação das mulheres, capacitando-as para aproveitar melhores oportunidades profissionais, transformará essas vidas e nos ajudará a alcançar os ODS”.