Para celebrar o Dia Internacional da Felicidade, as Nações Unidas lançaram hoje (20/3) o 5º Relatório sobre a Felicidade Mundial, que reúne informações sobre como as pessoas avaliam a qualidade de vida em diversos países. Baseado em pesquisas de opinião realizada em 155 países entre os anos de 2014 e 2016, o relatório apresenta um ranking de percepção de felicidade.
O relatório dá atenção especial para as chamadas fundações sociais da felicidade para os indivíduos e as nações. Os pesquisadores questionaram mais de três mil pessoas em todo o mundo sobre como eles avaliavam sua situação atual de vida, destacando sua percepção sobre evolução recente ou perspectiva de mudança positiva no futuro próximo, numa escala de zero a dez (da pior percepção possível à melhor).
De acordo com os pesquisadores, a felicidade média global é de 5,3, sendo que a diferença entre os dez países mais felizes e os dez mais infelizes é de quatro pontos médios. No topo da lista, encontram-se nações como Noruega, Dinamarca, Islândia, Suíça, Finlândia, Holanda, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Suécia. Já na ponta inferior da lista, encontram-se República Centro-Africana, Burundi, Tanzânia, Síria, Ruanda, Togo, Guiné, Libéria, Sudão do Sul e Iêmen. O Braisl está na 22ª colocação no ranking de felicidade.
O relatório aproveita as diretrizes definidas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para mensurar o bem-estar subjetivo (Better Life Index), entendido como o estado mental de uma pessoa, que inclui várias avaliações, positivas e negativas, que ela pode fazer acerca de sua vida e a reação afetiva dela com essas experiências de vida. Esta definição é composta por três elementos: avaliação das condições pessoais de vida, afeição (estado sensível ou emocional), e “eudaimonia” (palavra grega, que significa sensação de sentido e propósito na vida).
Segundo os pesquisadores, seis variáveis-chave explicam boa parte da variação nos índices médios nacionais anuais ao longo do tempo e entre os países: o produto interno bruto (PIB) per capita, a expectativa de vida saudável, liberdade percebida para fazer escolhas na vida, liberdade da corrupção, generosidade, e possibilidade de companhia (alguém em quem possa confiar).
“Como demonstrado por muitos países, este relatório apresenta evidência de que a felicidade é um resultado da criação de fundações sociais fortes”, explica Jeffrey Sachs, diretor do Sustainable Development Solutions Network (SDSN), instituição responsável pela condução do estudo.”Nossos líderes políticos precisam entender que precisamos construir confiança social para termos vidas mais saudáveis, e não armas ou muros”.
O caso da Noruega destaca bem a relação complexa entre crescimento econômico e percepção de felicidade. A despeito de sofrer com o declínio dos preços internacionais do petróleo, seu principal produto, a Noruega foi capaz de subir no ranking de felicidade com relação às edições anteriores. Para o professor John Helliwell, da Universidade de British Columbia, um dos pesquisadores envolvidos no relatório, a liderança norueguesa não é acidental.
“Ao escolher investir os rendimentos da exploração de petróleo no benefício das futuras gerações, a Noruega protegeu-se da volatilidade econômica que vem afetando outras economias petroleiras em todo o mundo”, aponta Helliwell. “Esta ênfase no futuro ao invés do presente foi possível por conta dos altos níveis de confiança mútua, propósito compartilhado, generosidade e boa governança. Tudo isso pode ser encontrado na Noruega e nos outros países que lideram esta lista”.
O relatório deste ano destaca particularmente a percepção de felicidade no ambiente de trabalho. “As pessoas tendem a passar a maior parte de suas vidas trabalhando, por isso é importante entender o papel do emprego e do desemprego no entendimento sobre felicidade”, explica Jan-Emmanuel De Neve, professor da Universidade de Oxford, também envolvido na pesquisa. “Os números revelam que a felicidade difere consideravelmente entre status de emprego, tipo de cargo e setores industriais. Pessoas em posições bem remuneradas são mais felizes, mas o dinheiro é apenas um indicativo para mensurar a felicidade – o balanço trabalho-vida pessoal, variedade de trabalho e nível de autonomia também são fatores importantes”.
Desde a publicação do primeiro relatório, no ano de 2012, a noção de “felicidade” vem sendo incorporada na análise sobre qualidade de vida no contexto do desenvolvimento socioeconômico. Em junho passado, a OCDE se comprometeu a redefinir sua narrativa acerca do desenvolvimento de modo a colocar o bem estar das pessoas no centro dos esforços governamentais.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) também vem se esforçando para incluir aspectos sobre percepção de bem estar e felicidade na mensuração do nível de desenvolvimento de um país. Em discurso no final de 2016, a diretora do PNUD Helen Clark afirmou que é necessário superar a “tirania do PIB” no debate sobre desenvolvimento, apontando a importância de se olhar para a qualidade desse desenvolvimento. “Prestar mais atenção à felicidade deveria ser parte de nossos esforços para obter um desenvolvimento humano e sustentável”, argumenta Clark.