Embora o Acordo Climático de Paris estabeleça metas importantes, as ações dos governos continuam sendo insuficientes para evitar os piores impactos da crise climática
É oficial: dados do serviço nacional de meteorologia do Reino Unido e das agências americanas NASA e NOAA comprovam, sem sombra de dúvidas, que 2016 foi o ano mais quente já registrado. Os impactos climáticos estão nos levando a um cenário desconhecido, ao mesmo tempo em que afetam as pessoas mais vulneráveis do planeta.
Embora o Acordo Climático de Paris estabeleça metas importantes, as ações dos governos continuam sendo insuficientes para evitar os piores impactos da crise climática. Além disso, a recente Ordem Executiva da Independência Energética do presidente Trump, que suspende mais de meia dúzia de medidas adotadas por seu antecessor, terá graves consequências globais. Estamos em um momento crítico. Os governos avançarão com suas ações para cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris? Ou eles recuarão?
Já vimos que o movimento pelo desinvestimento é capaz de impulsionar ações reais, chamando a atenção para a indústria de combustíveis fósseis por sua culpa na crise climática, ressaltando sua influência destrutiva. Continuaremos pressionando, assegurando que o movimento pelo desinvestimento possa aproveitar seu sucesso contínuo e crescer, o que já resultou em compromissos que representam US$ 5,5 trilhões em ativos administrados por mais de 700 instituições em 76 países. Cada vez que uma instituição respeitada rompe publicamente seus laços com os combustíveis fósseis, afastamos o seu poder de executar planos de negócios imorais e abrimos espaço para que as soluções climáticas adequadas floresçam.
Não podemos nos dar o luxo de ficar parados, esperando que o governo faça a coisa certa. Por isso, pretendemos mostrar a nossa liderança em maio, organizando a Mobilização Global pelo Desinvestimento com uma mensagem clara: chegou a hora de colocar um ponto final na era dos combustíveis fósseis, pois isso é o que realmente significa solucionar a crise climática.
Por meio do desinvestimento vimos surgir uma forma imediata e transformadora de liderança climática da qual o mundo precisa com urgência. A futura Mobilização Global pelo Desinvestimento proporciona uma forma tangível para que indivíduos e instituições participem da construção do mundo justo que todos merecem, longe de processos políticos infiltrados e corrompidos pela indústria. Já há cerca de 150 eventos planejados em seis continentes. A urgência é muito clara para todos, dados os eventos climáticos extremos que se tornam cada vez mais comuns.
Mal começamos o ano e continuamos a bater recordes de temperatura. Nos EUA, o mês de fevereiro foi excepcionalmente quente, e a Austrália sofreu com o calor prolongado e extremo em muitos estados. Na África, o calor extremo de 2016 ainda continua em 2017, e grande parte da África Oriental passa por uma grave seca, levando a uma terrível escassez de alimentos. A situação no Quênia, na Etiópia e na Somália é particularmente precária, onde cerca de 12 milhões de pessoas necessitam de ajuda alimentar. O Peru sofreu com as piores chuvas das últimas décadas, que provocaram inundações e deslizamentos de terra, matando pelo menos 78 pessoas e deixando outras 70 mil desabrigadas, o que levou a um estado de emergência. Todos esses resultados indicam um perigoso aquecimento climático.
Esses exemplos extremos só aumentarão se a indústria de combustíveis fósseis puder queimar todo o carbono que está atualmente em campos e minas operacionais. Nós ultrapassaríamos a meta de 2ºC e teríamos impactos climáticos piores do que os já mencionados. No entanto, as empresas de combustíveis fósseis ainda estão sendo subsidiadas com bilhões de dólares, o que permite que gastem milhões por dia em busca de mais carvão, petróleo e gás para explorar. Continuar a investir na indústria de combustíveis fósseis significa financiar a crise climática.
Se quisermos evitar um aquecimento catastrófico, não pode haver nenhuma expansão na infraestrutura de combustível fóssil. Isso significa nenhuma nova mina, nenhum novo poço para perfuração, nenhum novo oleoduto. Nossos governos, universidades, entidades religiosas, instituições culturais, provedores de pensões etc., devem demonstrar liderança por meio do desinvestimento e cortar os laços com essa indústria destrutiva, a fim de conter os piores impactos futuros das mudanças climáticas.
Felizmente, vemos sinais positivos de que o mundo já está se afastando dos combustíveis fósseis – os investimentos em energias renováveis estão crescendo. Por meio do desinvestimento, nosso objetivo é acelerar a transição justa para uma economia mais limpa. Isto significa investir em indústrias inovadoras, como as energias renováveis e a agricultura sustentável. As comunidades afetadas pela retirada dos combustíveis fósseis precisam ser incluídas em um diálogo social para que os planos de transição de empresas e das autoridades locais garantam que as pessoas encontrem novas oportunidades de emprego e formação para assegurar seu sustento. Não são as pessoas que devem pagar o custo dessa transição, mas sim as corporações que negaram por séculos as mudanças climáticas, atrasando na adoção de soluções alternativas.
Em maio, nos reuniremos em todo o mundo para intensificar e divulgar nossas campanhas pelo desinvestimento. Está na hora de todas as instituições fazerem o que é moralmente correto e pararem de investir no desastre. Essas mobilizações mundiais pacíficas serão um ponto importante na trajetória da humanidade. Precisamos desinvestir para manter o planeta na mesma forma como o recebemos: vibrante, próspero e com um clima estável.
*Diretora de comunicação global da 350.org