No começo de maio, um grupo de empresas participantes do projeto Inovação e Sustentabilidade nas Cadeias Globais de Valor (ICV Global) participou de uma missão comercial ao estado norte-americano da Califórnia.
Promovido pelo GVces em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), este projeto busca contribuir para a internacionalização de pequenas empresas e cadeias de valor por meio do fortalecimento dos seus atributos de inovação e sustentabilidade. Na missão comercial, a proposta é fomentar prospecção e proporcionar aos empreendedores uma experiência que os auxilie no entendimento das características do mercado em questão – as necessidades locais e as soluções já existentes, as particularidades culturais e a dinâmica do ambiente de negócios da região.
No roteiro desta missão, as empresas tiveram a oportunidade de participar de mentoria no Google, de visitar a Universidades da Califórnia em Berkeley e de Stanford, além de conversar com empresários e investidores sobre temas como venture capital para empresas verdes, empreendedorismo feminino e sustentabilidade urbana.
Confira abaixo o Diário da Missão, escrito por Paulo Branco, vice-coordenador do GVces; Ana Coelho, gestora do projeto; e Taís Brandão, pesquisadora do GVces e membro da equipe do projeto.
Dia 1
Fomos recebidos no escritório da Apex-Brasil em São Francisco, que fica no RocketSpace. Lá, a agência oferece um espaço para empreendedores brasileiros que funciona como incubadora, onde são prestados serviços de mapeamento de mercado e da rede de potenciais investidores, clientes e empreendedores, além de proporcionar contato com outras empresas brasileiras que já atuam nos Estados Unidos. O embaixador Pedro Borio, Cônsul Geral do Brasil em São Francisco, também esteve lá e nos contou um pouco sobre essa cidade que vive e inspira inovação, envolvendo desde carros autônomos até o acolhimento à diversidade. Destacou também a velocidade com que as coisas acontecem na cidade.
Encontramos também Margarise Correa, fundadora da BayBrazil, instituição sem fins lucrativos que aproxima empreendedores brasileiros a negócios e oportunidades do Vale do Silício. Ela contou sobre o ambiente de negócios, perfil da população californiana, com destaque para os números que evidenciam que a região é internacional, com muita gente de todo canto do mundo trabalhando em diversas áreas de atuação.
Empreendedores brasileiros que abriram seus negócios no Vale do Silício também participaram de um bate-papo com os participantes do ICV Global, trazendo a visão de como é empreender na Califórnia e aspectos culturais do mercado local, como a objetividade e a eficiência. Valeu, Oneskin, BovControl, GH Branding e Asteroide!
Dia 2
Iniciamos o dia novamente no RocketSpace, com uma conversa com Thea Bellos, da The Bellos Group, que presta serviços de pesquisa de mercado e comportamento do consumidor. Ela contou para as empresas sobre as tendências de consumo na Califórnia e sobre a importância de investir em comunicação, divulgação, marketing, storytelling e de avaliar como seus produtos chegariam até lá. Deu também dicas para algumas empresas sobre onde ir na cidade para pesquisar um pouco mais sobre seus mercados alvo.
Terry Vogt, da Terra Global Capital, contou sobre o ambiente de investimentos do Vale do Silício e compartilhou com as empresas o cuidado que precisam ter ao buscar potenciais investidores, como o risco de transferir o controle do negócio para fundos que não estejam alinhados à missão e aos valores da empresa. O negócio pode acabar perdendo muito da identidade que o faz diferente!
Na UC Berkeley, tivemos um bate-papo com Ken Singer, diretor do Centro de Empreendedorismo e Tecnologia da Universidade, que falou sobre o trabalho de capacitação e treinamento com alunos e empreendedores desenvolvido pelo Centro, além da sua rede de empreendedores e de inovação. Singer mencionou a importância de redes de contatos e parceiros e sobre as oportunidades que surgem ao aliar tecnologia à sustentabilidade, possibilitando dar escala a soluções sustentáveis que enderecem grandes desafios da sociedade.
Depois de um tour pelo campus, Roesia Gerstein, gestora do programa de diversidade de fornecedores da Universidade, contou que o estado da Califórnia, impulsionado pela atuação e protagonismo da UC Berkeley, tem exigido que as organizações pratiquem preços justos com seus fornecedores. A Universidade, por sua vez, vai além e tem uma política de compras voltada ao fortalecimento de pequenos fornecedores fundados e liderados por minorias e populações desfavorecidas, como imigrantes e mulheres, e à contribuição para seu desenvolvimento, com o uso de ferramentas como sustainability scorecard.
Durante toda a missão pudemos ver muita ligação com o trabalho que temos feito com as empresas desde o início do projeto: a construção do canvas para exportação, a necessidade de se conhecer a fundo o público alvo para tomar decisões estratégicas e elaborar sua proposta de valor de forma clara e objetiva, a criação de um company profile e a importância dos esforços em comunicação.
Dia 3 – Mentoria no Google Developers Launchpad
Passamos o dia no Google Developers Launchpad – escritório de mentoring e treinamento da Google em São Francisco. As empresas do ICV Global receberam mentoria de profissionais com vasta experiência em desenvolvimento de negócios inovadores e empreendedorismo. Para elas, foi um momento valioso de compartilhamento de ideias e coleta de orientações e dicas de estratégia, marketing, operações e tecnologia para potencializar e escalar seus negócios.
Após isso, assistimos a uma palestra do Gauthier Vasseur, professor da Universidade de Stanford e CEO da Data Wise Academy, empresa que presta serviços de capacitação em implementação e análise de big data. Vasseur compartilhou com o grupo os grandes passos para utilizar big data e reforçou o papel da análise desses dados para se ter uma visão sistêmica do negócio e do contexto, objetivando o sucesso de empresas em um ambiente dinâmico e em constante mudança.
Dia 4 – Visita a Stanford University
Maria Oliveira, consultora brasileira residente em São Francisco, nos encontrou no campus da universidade e contou sobre sua atuação no ecossistema de empreendedorismo da região, incluindo sua participação na plataforma Kiva para financiamento de projetos socioambientais, e sobre as oportunidades para os negócios das empresas participantes da missão. À tarde, os empreendedores fizeram um tour pela universidade e tiveram a oportunidade de conversar com Rich Miller, ninguém menos que um dos criadores do e-mail e distribuição de mensagens em lista! Miller destacou os principais momentos e desafios na trajetória da computação em rede e da criação das tecnologias que deram origem às conversas usando a internet. Também falou da importância da tecnologia na criação de soluções individualizadas para necessidades humanas nas áreas de alimentação, saúde, entre outras.
Os participantes da missão também conheceram o Stanford Research Institute (SRI), centro de pesquisa independente que busca levar descobertas e inovações realizadas em laboratório para o mercado, dando escala e viabilizando a comercialização de soluções tecnológicas. Alguns exemplos de negócios inovadores que surgiram com a atuação do SRI são o GPS, o código de barras e a Siri (robô assistente dos produtos Apple). Lá, tivemos uma conversa com Robert Pearlstein, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios Internacionais do Instituto. Pearlstein atua no relacionamento com clientes e na busca de oportunidades de negócio e parcerias, construindo e executando estratégias de entrada de startups em mercados.
Ele abordou o papel e a relevância da inovação no contexto atual, devido tanto a desafios complexos, como aumento populacional e urbanização, quanto ao fato de que o passo das inovações está cada vez mais rápido e, se uma empresa não inova, não sobrevive.
Dia 5
Na Prefeitura de São Francisco, tivemos uma reunião com membros do San Francisco Sustainable Plan e do Departamento de Desenvolvimento Econômico. Contaram para o grupo sobre as frentes do plano para a cidade, que envolve a busca por lixo zero, mais eficiência no uso de água e ampliação do uso de fontes renováveis de energia, como hidrelétrica e solar. Lá, a matriz energética é composta majoritariamente por fontes fósseis. Assim, o uso de hidrelétricas para o abastecimento energético é uma oportunidade importante para reduzir impactos ambientais. A água que abastece a cidade desce do Yosemite National Park. No caminho, para aproveitar melhor o correr da água, a cidade instalou turbinas para geração de energia hidrelétrica. Mostraram também algumas das ações já realizadas, como a instalação de painéis solares no telhado da Prefeitura e de outras construções públicas localizadas no mesmo bairro.
Além da atuação nos prédios públicos, a Prefeitura também incentiva a adoção de práticas conscientes no setor de construção civil e passou a exigir que novas construções na cidade atendam a requisitos mínimos, como implementar medidas de eficiência energética e de uso de água e compostagem.
Parte das melhorias realizadas e planejadas para o bairro foi definida a partir de um processo participativo com a população local, por meio da realização de workshops públicos. Além disso, nos disseram que todas as agências públicas da cidade estão engajadas no plano e buscando soluções.
Para encerrar, encontramos Maurício Benvenutti, da StartSe, plataforma que reúne e conecta startups brasileiras e disponibiliza informações sobre o ecossistema de startups no Brasil. Ele trouxe exemplos de inovações disruptivas em modelos de negócio como Uber, Airbnb e tendências que podem representar grandes transformações em setores consolidados por grandes empresas. Além disso, com base em exemplos reais, orientou as empresas a testar inovações em pequena escala, com um grupo pequeno de clientes, coletar feedbacks e, a partir daí, ampliar gradualmente o alcance do produto para que se adeque ao mercado. Por fim, compartilhou com o grupo algumas tecnologias que estão despontando na região, como equipamentos voadores que irão levar internet sem fio a locais que hoje não possuem acesso.
Com esta experiência, as empresas retornam ao Brasil com uma nova perspectiva sobre o mercado internacional, inspirações para suas estratégias de exportação e diversos contatos interessantes para futuras parcerias e negócios.
“A missão comercial de ICV Global para a Califórnia não foi apenas uma riquíssima oportunidade de aprendizado, networking e prospecção de negócios para as empresas participantes, mas também de conexões entre os ecossistemas de empreendedorismo, inovação e sustentabilidade do Brasil e do Vale do Silício”, afirma Paulo Branco. “Neste sentido, a combinação entre as inovações tecnológicas desta região da Califórnia com as oportunidades e desafios vividos pelas empresas brasileiras no campo da sustentabilidade poderão gerar soluções e modelos de negócio muito promissores e cada vez mais alinhados com um desenvolvimento efetivamente sustentável”.
“O estado da Califórnia se caracteriza como berço de várias iniciativas verdes e dita diversas tendências em negócios inovadores e sustentáveis nos Estados Unidos”, explica Gilson Spanemberg, supervisor de projetos especiais da coordenação de promoção de negócios da Apex-Brasil. “Entender as práticas, exigências e oportunidades junto a esse mercado comprador é elemento relevante no processo de construção da maturidade exportadora de empresas brasileiras que possuem esses diferenciais em seus produtos e serviços”.
Esta foi a segunda missão comercial realizada com as empresas participantes do Ciclo 2 do ICV Global. A primeira missão foi realizada em novembro de 2016 em Bogotá e Medellín, na Colômbia.