Relatório apresenta ações possíveis para tirar do papel as metas desenhadas pelas Nações Unidas para promover o desenvolvimento sustentável até 2030
Priorizar investimentos e políticas públicas que promovam relacionamentos positivos entre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) pode ser a saída para tirá-los do papel até 2030. Esta a principal conclusão de um relatório publicado no último dia 12 em Paris pelo International Council for Science (ICSU).
Desenvolvidos pelas Nações Unidas entre 2012 e 2015, os ODS sucederam os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) como referência global para orientar os esforços de desenvolvimento socioeconômico e combate à pobreza no mundo até 2030. Estes Objetivos cobrem uma gama diversa de questões, como equidade de gênero, cidades sustentáveis, acesso a água potável, e boa governança.
O estudo A Guide for SDG Interactions: from Science to Implementation examinou as interações possíveis entre os ODS e utilizou uma escala quantitativa para determinar sinergias e conflitos possíveis entre cada Objetivo, oferecendo assim um caminho para que os países possam implementar e cumprir cada um dos 17 ODS e 169 metas associadas.
De acordo com o relatório, a maior parte dos Objetivos apresenta relações sinérgicas, mas isto não acontece de modo igualitário. Um exemplo interessante de sinergia é a relação entre a garantia de acesso a fontes modernas de energia, o combate à mudança do clima e a redução da poluição – aspectos presentes em diferentes ODS. Outro exemplo de sinergia positiva está nas conexões entre crescimento econômico e melhoria das condições de saúde e bem estar social: mais renda permite aos governos aumentar os gastos em saúde pública, desde que a governança seja boa e o processo decisório, inteligente.
A análise também destacou que existem conflitos e trade-offs entre os ODS. Por exemplo, a produção de alimentos para todos pode ter impactos em medidas de conservação e restauração dos ecossistemas. Esforços para acabar com a fome e garantir segurança alimentar podem envolver práticas agrícolas que limitam a disponibilidade de água potável e a geração de energia renovável. O aumento da produção agrícola, se feito de modo não sustentável, pode também resultar em desmatamento e degradação do solo. Em situações assim, os governos precisarão equilibrar suas ações para que o sucesso de um Objetivo não leve a inviabilização de outro.
“Este relatório oferece uma porta de entrada concreta e uma ferramenta para trabalhar a complexa rede dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, de maneira a transformá-los em realidade”, aponta Anne-Sophie Stevance, coordenadora da pesquisa. “Pela primeira vez, os formuladores de política pública serão capazes de ver os Objetivos como um conjunto compreensivo e entender como eles se reforçam e onde existem tensões entre eles”.
O estudo inclui uma série de recomendações para esforços futuros para a implementação dos ODS em países ao redor do mundo, como o Brasil. Uma recomendação destacada pelos pesquisadores é a necessidade de criar mecanismos para aumentar a coordenação intersetorial e monitorar e avaliar o progresso dos países até 2030.