Sentir-se parte ou não do tecido social central dos núcleos urbanos está ligado, em geral, ao CEP onde se habita. Contudo, o sentimento de isolamento, de invisibilidade, ou até mesmo de ser alvo de aversão, também se manifesta por razões muito mais difíceis de contornar.
Por isso, Júlio Ludemir, um dos idealizadores da Flup, a Festa Literária das Periferias, escolheu homenagear Caio Fernando Abreu no evento do ano passado. Para ele, a obra desse escritor gaúcho portador de HIV, que viveu de 1948 a 1996, demonstra o entrelaçamento de uma periferia existencial com a territorial. “Uma não existe sem a outra e, além delas, há a periferia narrativa”, completa.
Para lidar com todas elas, a edição de 2017 da Festa aborda as Revoluções. Por meio de encontros reflexivos, programados de maio a setembro na cidade do Rio de Janeiro, a 6ª Flup vai gerar uma coletânea de poesias e outra de narrativas curtas sobre o tema. Além disso, organizará a III Gincana Literária na rede de ensino carioca e encerrará com seis dias de evento principal, em novembro, no Morro do Vidigal.
“Fomos uma antena para um movimento que já existia nas periferias: de novos leitores e novos autores. Mapeamos 120 saraus nos bairros periféricos só do Rio de Janeiro. Resolvemos ser uma plataforma de apoio a esse público que busca e se faz representar em criações literárias”, explica Ludemir, ao relembrar como iniciou o trabalho em conjunto com Écio Salles entre os jovens de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, em 2008.