Elas reúnem significativa parte da população brasileira e têm o menor acesso a oportunidades. Só por esses dois motivos as periferias urbanas e o combate às desigualdades socioespaciais já mereceriam figurar no topo das prioridades da gestão pública.
Mas as periferias também importam por tudo o que representam: imensa criatividade, forte relacionamento comunitário, enorme expressividade cultural, um celeiro de ideias e inovações, potencialidades as mais heterogêneas possíveis.
Historicamente, as periferias no Brasil influenciam comportamentos, tendências e movimentos culturais que acabam apropriados pelo “centro”. Ainda assim, este centro se refere às periferias de forma pouco elogiosa, geralmente nivelando-as como uma massa homogênea: “comunidades carentes”, “aglomerados subnormais”, “assentamentos precários”, “indigentes”.
Por que só enxergar escassez onde existem riquezas tão abundantes? O conceito de riqueza, infelizmente, ainda é determinado pela régua econômica, que por sua vez desconsidera ativos menos tangíveis, como os vínculos sociais, a espontaneidade, o jeito de ser e de viver das periferias.
Muito assediadas em períodos de campanha eleitoral, essas populações ficam praticamente invisíveis tão logo os gestores assumem seus cargos. Afogada em números e indicadores que pouco traduzem as especificidades de territórios tão singulares e diversos entre si, a administração pública perde a oportunidade de desenvolver nesses locais todo o potencial que ali reside. Perdem as periferias, perdem os centros, perdem todos.
Este Projeto Especial de Página22, que tivemos a honra de realizar em parceria com a Fundação Tide Setubal, é um convite para que a gestão pública aprofunde o olhar sobre esses territórios tão valiosos e incrivelmente ainda pouco compreendidos.