Faltam cinco meses para 2017 acabar, mas o limite dos recursos naturais da Terra para atender as necessidades humanas neste ano já está extrapolado; atualmente, a humanidade precisa de 1,6 planeta para atender seu consumo
Estamos no vermelho. Hoje (02/8), a humanidade atingiu o limite dos recursos naturais disponíveis na Terra para suas necessidades anuais. Ou seja, até 31 de dezembro, todos nós estaremos explorando o planeta para além de sua capacidade natural de regeneração. O grande vilão desta história é bem conhecido: o consumo excessivo que marca a sociedade moderna nas últimas décadas.
Desde 2000, a organização de pesquisa internacional Global Footprint Network (GFN) calcula a chamada “pegada ecológica” para medir os impactos do consumo humano sobre os recursos naturais. Esta pegada traduz, em hectares (ha), a extensão de território que uma pessoa ou toda uma sociedade explora, em média, para se sustentar.
A cada ano, o “Dia da Sobrecarga da Terra” (Overshoot Day, em inglês) vem acontecendo mais cedo. Em 2000, primeiro ano de medição, a data caiu no dia 04 de outubro. No ano passado, o esgotamento dos recursos naturais do planeta aconteceu em 08 de agosto. Neste período, as exceções se deram entre os anos de 2007 e 2008 (de 30/8 para 01/9) e 2008 e 2009 (de 01/9 para 06/9).
Assim, atualmente, a humanidade está exaurindo a natureza 1,6 vezes mais rápido do que os ecossistemas conseguem se regenerar. Para atender às demandas humanas de hoje, precisaríamos de 1,6 Terras. Os cursos desse excesso dos “gastos ecológicos” estão cada vez mais evidentes em todo o mundo, manifestando-se em desmatamentos, secas, escassez de água potável, erosão do solo, perda de diversidade biológica e o acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre.
Dentre os fatores que pressionam a pegada ecológica humana, carbono e alimento se destacam. Se reduzíssemos as emissões de gases de efeito estufa pela metade na pegada global, seríamos capazes de adiar a Sobrecarga da Terra em 89 duas. Por sua vez, se cortássemos o desperdício mundial de alimento em 50%, ganharíamos 11 dias no orçamento ecológico da Terra. Mais simbólico, se diminuíssemos nosso consumo de alimentos intensivos em proteínas, o Overshoot Day cairia apenas no começo de setembro.
“Se não mudarmos nosso comportamento de consumo, a projeção é de que precisaremos de mais de três Terras antes de 2050”, explica Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, que atua há 16 anos pelo consumo consciente. “Esse é um dos motivos pelos quais precisamos cumprir o Acordo de Paris. Mas, além de cobrar que os governos alcancem as metas de emissões, cada pessoa pode colaborar para diminuir seu impacto negativo no meio ambiente, com pequenas ações cotidianas”.
Essa tendência dramática pode ser revertida: se conseguirmos atrasar o Dia da Sobrecarga da Terra em 4,5 dias todos os anos, é possível retornar ao nível em que utilizamos os recursos de um só planeta até 2050.
“Nosso planeta é finito, mas as possibilidades do ser humano não são. Viver dentro do orçamento de um planeta é tecnicamente possível, financeiramente benéfico e nossa única chance de um futuro próspero”, aponta Mathis Wackernagel, CEO da GFN e co-criador da Pegada Ecológica. “Em última análise, retroceder o Overshoot Day todo ano é o objetivo a ser alcançado por todos nós”.
Para marcar o dia de hoje, a GFN apresentou uma nova versão de sua calculadora online que ajuda as pessoas a estimar sua demanda particular de recursos naturais e, assim, calcular sua pegada ecológica e quando acontece o seu Dia da Sobrecarga da Terra. Caso o dia calculado caia antes de 02 de agosto, isto significa que você está consumindo recursos naturais acima da média global.
Por exemplo, para alguns países, o Overshoot Day já aconteceu há algum tempo por conta do padrão diferente de consumo: no Brasil, a data caiu há pouco mais de uma semana, no dia 26 de julho; na Alemanha, em 24 de abril; nos Estados Unidos, em 14 de março.
Além de estimar o impacto do usuário sobre o planeta e as emissões de carbono, a nova calculadora oferece informações sobre soluções possíveis para reduzir a pegada ecológica individual e, assim, ajudar a diminuir a pressão humana global sobre os recursos naturais da Terra.