Após três anos de estagnação, emissões globais de gases de efeito estufa deverão subir em 2017, alimentadas principalmente pela intensificação da queima de combustíveis fósseis na China
De Bonn, Alemanha – A 2ª semana de trabalhos na Conferência do Clima de Bonn, a COP 23, começa com uma notícia ruim para o esforço global contra a mudança do clima: as emissões de gases de efeito estufa (GEE) do mundo devem aumentar neste ano, interrompendo um período de três anos de estagnação.
De acordo com relatório do Carbon Budget Project apresentado hoje (13/11) na COP 23, as emissões globais deverão aumentar em 2% neste ano, sendo que esta elevação, dependendo dos dados de novembro e dezembro, pode chegar a 3%.
“Este dado é desapontador”, afirma Corinne Le Quéré, diretora do Tyndall Centre for Climate Change Research da Universidade de East Anglia e coordenadora da pesquisa. “Com as emissões globais estimadas em 41 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente [tCO2e] neste ano, o tempo está cada vez menor para que consigamos manter o aquecimento do planeta bem abaixo de 2 graus Celsius, quanto mais em 1,5 grau”.
A notícia é um balde de água fria para aqueles que esperavam que os dados relativos às emissões globais começassem a apontam para uma curva descendente a partir de 2017. Nos últimos três anos, esse índice se manteve relativamente estável, em grande parte por conta de mudanças no modelo energético na China (com a instalação de mais plantas solares e eólicas e a redução do consumo de carvão) e nos Estados Unidos (com a intensificação da exploração do gás de xisto).
De acordo com o relatório, as emissões chinesas (que representam 28% do total global) aumentaram 3,5% em 2017, por conta principalmente da retomada do uso de carvão pela indústria do país. “O uso do carvão, principal fonte de combustível na China, deve aumentar em 3% devido ao forte crescimento da produção industrial e à redução na geração de hidroeletricidade decorrente da redução das chuvas no país”, explica o pesquisador Glen Peters, outro co-autor do relatório.
Diversos fatores atuais apontam para um novo aumento em 2018. “A economia global está crescendo aos poucos. Na medida em que o produto interno bruto aumenta, a gente produz mais bens e, naturalmente, produz mais emissões”, argumenta Robert Jackson, professor da Universidade de Stanford e outro co-autor do estudo.
Com a retomada do crescimento global, os países serão desafiados a intensificar seus esforços de descarbonização para poder efetivamente reduzir suas emissões e cumprir com os compromissos definidos junto ao Acordo de Paris a partir de 2020. “Nos últimos anos, o crescimento econômico foi compensado de alguma maneira pela melhoria na eficiência energética e pelos investimentos em renováveis”, argumenta Peters. “No entanto, a economia deve continuar crescendo em torno de 4%, então só isso não será suficiente. Precisaremos de políticas fortes para derrubar as emissões”.
Além da China, outro país com emissões em alta em 2017 é a Índia. O estudo projeta que a quantidade de GEE liberada pela economia indiana neste ano deverá ser 2% maior que no ano passado, ligeiramente menor que as últimas medições mas em sintonia com a tendência de longo prazo observada na última década de aumento de 6% ao ano.
Porém, nem tudo é notícia ruim: de acordo com o estudo, 22 países estão em uma trajetória consistente de queda de suas emissões na última década, reforçada pelos dados relativos a 2017. Esse grupo, que representa 20% das emissões globais, conseguiu apresentar crescer economicamente mesmo com a redução nos níveis de emissões.
Além disso, tecnologias como a energia solar e eólica se expandiram ao redor do mundo nos últimos dez anos, com um crescimento anual de 14%.