Estudo demonstra como o crédito acessível estimula a economia de baixo carbono nos países em desenvolvimento. No Brasil, onde novos sistemas fotovoltaicos e eólicos já são competitivos em relação a novas usinas de combustível fóssil, o crédito pode fomentar baterias para armazenamento. A seguir, informações divulgadas pela BloombergNEF:
O financiamento com taxas reduzidas tem o potencial de acelerar substancialmente a transição da geração de energia movida a combustíveis fósseis para energia renovável em países em desenvolvimento, segundo um novo relatório produzido pela BloombergNEF (BNEF) e encomendado pelo Clean Technology Fund (CTF), um programa de US$ 8,3 bilhões do Climate Investment Funds (CIF). Isso, por sua vez, poderia retardar ou mesmo deter a taxa de aumento de emissões de carbono nesses países menos desenvolvidos.
Instituições financeiras de desenvolvimento (IFD) podem conceder capital a projetos em países não-OCDE com taxas de juros bem abaixo daquelas normalmente oferecidas. Tais fundos têm, historicamente, sido utilizados de forma estratégica para apoiar empreendimentos considerados particularmente arriscados. Por anos, o financiamento chamado de “concessional” foi reconhecido como um “ingrediente secreto” para acelerar o desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono em economias emergentes. Combinar energia limpa com um financiamento acessível e flexível pode tornar infraestruturas, como de energia eólica ou solar, mais competitivas em custo, mais ainda do que fontes de combustível fóssil.
Brasil: baterias para armazenamento
Atualmente no Brasil, os novos sistemas fotovoltaicos e eólicos já são mais baratos que novas usinas de combustível fóssil. Portanto, o financiamento concessional terá um impacto maior se direcionado a tecnologias mais novas e menos maduras, como baterias para armazenamento de energia.
O relatório observou que há um vasto potencial para o financiamento concessional criar mercados para tecnologias de baixo carbono de próxima geração, em particular para baterias. Seguindo o aumento na geração a partir de fontes renováveis intermitentes como a eólica e a solar, a necessidade de flexibilidade de rede e armazenamento de energia também cresce. Embora baterias ainda sejam caras, a BNEF constatou que quanto maior o custo de uma tecnologia, maior o impacto que o financiamento concessional pode causar. Para um projeto de bateria de íons de lítio, reduzir custos de capital mesmo em um ponto percentual pode baixar os custos de geração de energia em US$10/MWh.
Exemplos na Tailândia e na Índia
O relatório quantifica pela primeira vez como o financiamento com preço reduzido pode abater o “custo nivelado de energia” para diferentes tecnologias de energia limpa para determinados países. Em seguida, identifica dois “pontos de inflexão” críticos, onde a energia limpa se torna mais viável que seus concorrentes fósseis:
Ponto de inflexão 1: Quando construir uma instalação de energia limpa se torna mais barato do que uma nova usina de gás ou carvão. Nos mercados em desenvolvimento onde isso ainda não ocorreu, isso pode levar de cinco a dez anos a partir de hoje, ou até mais. A análise da BNEF, no entanto, constatou que o financiamento concessional pode reduzir anos deste período. Na Tailândia, por exemplo, o financiamento concessional tem o potencial de reduzir custos de energia limpa em cinco a sete por cento, o que aceleraria esse ponto de inflexão em dois anos e impediria a construção de novas usinas movidas a combustíveis fósseis. Quando um mercado ultrapassa esse limite, construir uma instalação de energia limpa não é apenas a opção certa — é o mais sensato do ponto de vista econômico.
Ponto de inflexão 2: Quando construir uma nova instalação de energia limpa se torna mais barato do que operar uma usina de gás ou carvão já existente. No longo prazo, para lidar com a mudança climática, algumas das fontes de energia mais sujas existentes deverão ser substituídas — sem sacrificar as metas de desenvolvimento dos países. No caso da Índia, que instalou uma frota movida a carvão de um terço do tamanho da frota dos EUA em apenas cinco anos, a BNEF observou que o financiamento concessional poderia antecipar este ponto de inflexão para novas usinas eólicas em até quatro anos. Este é um passo crítico para a vasta descarbonização necessária para permanecer no limite de 2 graus Celsius de aquecimento do planeta, já que existem centenas de gigawatts em capacidade de carvão que continuarão funcionando por décadas, a menos que uma opção mais lucrativa esteja disponível.
“O financiamento concessional tem o potencial de levar os mercados de energia limpa de nações em desenvolvimento a uma próxima etapa”, disse Luiza Demôro, autora principal do relatório e diretora do projeto anual Climatescope, da BNEF, que traça as condições do investimento em energia limpa em mais de 100 países em desenvolvimento.
“Com o acesso a financiamento mais barato, muitos países emergentes poderiam dar o pontapé inicial em seus setores de armazenamento em bateria e evitar acréscimos de capacidade oriundos de usinas movidas a combustíveis fósseis.”
O relatório também explora o impacto de cerca de US$750 milhões em financiamento concessional do CTF em cinco países: Chile, Cazaquistão, México, Marrocos e Tailândia.
“O financiamento concessional tem uma capacidade comprovada de ultrapassar os limites da inovação limpa”, afirmou Mafalda Duarte, chefe do CIF. “Nos próximos dez anos ou mais, esse capital será essencial para combater a mudança climática e construir um futuro mais próspero para todos.”