Além de marco legal para saneamento básico, tratamento de água e esgoto pode e deve contar com inovações no campo da tecnologia e startups
Neste Dia Mundial da Água, quase 50 milhões de brasileiros ainda não estão conectados à rede de abastecimento e menos da metade do esgoto produzido nas nossas cidades é tratado, segundo o último diagnóstico do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Essa condição sanitária desafiadora pede que atitudes inovadoras orientem os governos, as empresas do setor e os usuários em busca de soluções. Somos todos interessados nessa causa.
Algumas mudanças são institucionais. Um marco legal para o setor de saneamento básico, por exemplo, é um passo essencial para melhorar as condições estruturais dos serviços de tratamento de água e esgoto no País.
Estamos caminhando para uma conquista nesse sentido, com a tramitação no Congresso Nacional da Medida Provisória nº 868/2018, que pode dar à Agência Nacional de Águas (ANA) a competência para editar normas de referência nacionalmente. Mas os avanços reunidos na MP ainda carecem de mais apoio (sponsorship) nos poderes Executivo e Legislativo, mesmo com todos os esforços já demonstrados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional.
O Plano Nacional de Saneamento Básico previu que a universalização dos serviços de água e esgoto necessitaria de R$ 508 bilhões entre 2014 e 2033 – ou R$ 26,73 bilhões por ano. É uma conta bem alta se considerarmos que os últimos dados do SNIS indicam investimentos de R$ 10,35 bilhões em 2017. Apesar das dificuldades, é essencial estabelecer legalmente padrões de qualidade para todos os agentes que atuam na gestão da água. E mais:
É questão de saúde pública estimular a busca de eficiência nas empresas, nos governos e nas agências reguladoras.
Claro que a lei é um elemento importante, mas não suficiente. As companhias do setor devem pensar o saneamento “fora da caixa”. O uso de tecnologia e o apoio de startups, muito mais comum em outros segmentos, são uma revolução tanto na gestão de pessoas quanto na prestação de serviços no setor.
Uma iniciativa diferenciada, já em andamento, é a adoção de sensores na identificação de perdas no sistema de distribuição de água, um dos graves problemas atuais. Hoje, a cada 100 litros de água captada e tratada no Brasil, 38 litros se perdem na rede de distribuição. Em regiões como Nordeste e Norte, o índice de perdas chega a mais de 46% e 55%, respectivamente. E, em Roraima, ele supera os 75%. Literalmente, água que escorre pelo ralo.
Outra medida inovadora é a utilização de drones no mapeamento e na demarcação de estruturas dos sistemas de água e esgoto – fonte de informações que auxiliam as empresas no cumprimento dos planos municipais de saneamento básico e até nos investimentos. Além disso, esses equipamentos são diferenciais na manutenção da rede, permitindo avaliações de rompimentos e furtos de água a distância.
Sem dúvidas, o marco legal do saneamento pode aumentar a transparência no setor e permitir que os cidadãos tenham mais instrumentos para acompanhar o desenvolvimento da infraestrutura. Outra parte cabe às empresas responsáveis pela captação, pelo tratamento e pela distribuição da água, além do tratamento e da destinação do esgoto.
O consumo consciente por parte dos clientes também é mandatário – não podemos esquecer. Por fim, perceber as necessidades das pessoas e atender a população com o respeito merecido não é mais a orientação para o futuro, são necessidades atuais, precisamos reformular o setor agora. E podemos. Ainda há muito trabalho pela frente até a universalização, claro, e precisamos fazer diferente para fazer melhor.
[Acesse edição da Página22 sobre saneamento aqui.]
*Diretor-presidente da Iguá Saneamento, é bacharel em Ciências Contábeis pela PUC-MG, com MBA em Finanças pelo Ibmec Business School