Inauguração do Centro de Interpretação da Natureza reforça pesquisas científicas da Udesc em RPPN da Klabin, que abriga espécies ameaçadas e em risco de extinção
Localizada em Santa Catarina, em uma das regiões mais frias do País, a 1.700 metros de altitude, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Complexo Serra da Farofa engloba florestas nativas de Mata Atlântica, nascentes como a do Rio Canoas – que forma a maior bacia hidrográfica de Santa Catarina – e do Rio Caveiras, formações como Floresta Ombrófila Mista Alto Montana, Campos de Altitude e Mata Nebular. Espécies constantes em listas oficiais de ameaça e extinção – como o papagaio-charão, o tamanduá-mirim, a jaguatirica e o leão-baio -, são também encontradas em seus cinco mil hectares de mata nativa, destinados exclusivamente à proteção e apoio a estudos científicos.
A área espalha-se por cinco municípios catarinenses: Painel, Urupema, Rio Rufino, Urubici e Bocaina do Sul. Mais de 420 espécies de flora e 190 de fauna já foram identificadas oficialmente no local, muitas classificadas como endêmicas, raras e com status de conservação reconhecido entre as listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção.
Antes mesmo da formalização da RPPN – realizada em 2014 pela Klabin -, a riqueza da área já motivava estudos, sobretudo na área de flora, envolvendo pesquisadores e estudantes da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Esse fluxo de produção de conhecimento continuou com a criação da RPPN, por meio de termos de parceria firmados entre a universidade e a Klabin, possibilidade que pode ser estendida a outras instituições de ensino superior interessadas em realizar pesquisas na área.
Segundo Roseli Bortoluzzi, uma das profissionais à frente do grupo de condução de pesquisas da Udesc na RPPN, a instituição já realizou 27 projetos de pesquisa na área, em 11 anos, envolvendo sete professores e 43 estudantes, além de oito projetos de mestrado e seis de doutorado. Entre os próximos passos, estão a realização de um Plano de Manejo e a publicação de uma versão compilada de todos os resultados obtidos.
Esses pesquisadores agora têm um incentivo a mais para realizar estudos de campo na área: o Centro de Interpretação da Natureza (Cinat). A instalação, inaugurada em março, tem alojamento para receber até 40 visitantes simultaneamente, incluindo dormitórios, refeitório e um auditório, que pode também ser utilizado como sala de aula. A intenção é facilitar o trabalho e a vivência dos estudantes no desenvolvimento de projetos de pesquisa, dissertações e teses, disponibilizando ainda o espaço para realização de reuniões, cursos e visitas técnicas de instituições e órgãos ambientais.
Antes da construção do Cinat, os pesquisadores utilizavam como abrigo uma velha cabana, remanescente original da área adquirida pela Klabin, sem infraestrutura para acolhimento.
“A Udesc realiza trabalhos com grupos de alunos em São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul, por exemplo, porque lá há um centro de acolhimento que facilita a estadia para a pesquisa. Agora, oferecemos condições similares aqui em Santa Catarina. A expectativa é que recebamos mais pesquisadores e que eles desenvolvam também estudos sobre solo, água, abrindo um campo de pesquisa sobre a interrelação entre flora, fauna, água e solo”, diz José Artêmio Totti, Diretor Florestal da Klabin.
Obra buscou minimizar impacto
A obra do Cinat teve controle do impacto ambiental implementado no canteiro de obras e utilizou estratégias de projeto que minimizassem a necessidade de recursos de climatização e manutenção. Toda a integração com o entorno paisagístico e a arquitetura do prédio externa e interna visam o melhor aproveitamento do espaço, mobiliário e recursos como água e iluminação.
Para minimizar o impacto da construção, foi utilizada a técnica wood-frame (estrutura modular em madeira), com elementos de construção que chegaram já prontos ao local, otimizando tempo de execução e reduzindo a geração de resíduos durante a obra. As paredes possuem isolamento termo acústico, e as aberturas foram dimensionadas de modo a fornecer uma boa ventilação.
A construção do Cinat custou cerca de R$ 800 mil. O Complexo Serra da Farofa é a segunda RPPN da Klabin. A primeira é parte da fazenda Monte Alegre, em Telêmaco Borba, no Paraná, com 3.852 hectares, formalizada em 1998, que possui estrutura semelhante para receber pesquisadores, além de realizar atividades de educação ambiental.
Estado de Santa Catarina tem hoje 80 RPPNs
De acordo com o Guia das RPPNs de Santa Catarina, publicado em 2018, o estado conta com 80 RPPNs, sendo que 75% delas são de propriedade de pessoas físicas, 20% de empresas privadas e 5% de Organizações da Sociedade Civil. Elas contam com o apoio da Associação de Proprietários de RPPN de Santa Catarina (RPPN Catarinense), criada em 2005, que busca articular, organizar e assessorar os associados nos esforços de proteção da biodiversidade em suas áreas. O Brasil possui cerca de 1.400 RPPNs espalhadas em seu território.
*A repórter visitou o local a convite da Klabin