Países que compram produtos obtidos com a derrubada das florestas tropicais são os mesmos que mais protegem ecossistemas e plantam árvores em seus territórios
O paradoxo chama atenção – e não necessariamente significa um modo de compensar impactos às florestas tropicais. De acordo com estudo divulgado nesta semana pelo Stockholm Environment Institute (SEI), 87% do desmatamento “exportado” na forma de produtos de largo consumo destinou-se a países que estavam reduzindo a taxa de desmatamento ou aumentando a cobertura florestal em seus próprios territórios, entre 2005 e 2013 – especialmente na Europa e na Ásia (China, Índia e Rússia).
Os ganhos florestais líquidos nesses países dedicados a recompor a vegetação corresponderam a cerca de um terço do desmatamento “embutido” na importação de commodities agrícolas e demais mercadorias que causam degradação em outros lugares do planeta. No mundo globalizado, sublinha o estudo, o esforço florestal no contexto planetário “será substancialmente mais desafiador do que alcançar avanços nacionais ou regionais”.
Em paralelo, os pesquisadores reforçaram o vínculo cada vez mais estreito entre comércio internacional e aumento do risco florestal. Entre 2005 e 2013, a expansão de terras agrícolas, pastagens e plantações de árvores para fins industriais foi responsável por 62% do desmatamento no mundo. Desta forma, grande parcela das emissões de carbono, entre 29% e 39%, dependendo do modelo comercial, está associada a commodities agrícolas e florestais fora dos países de produção, principalmente óleo de palma, soja, carne bovina e madeira.
No geral, os consumidores consideraram o desmatamento e a perda de biodiversidade nos trópicos um problema distante. Mas as cadeias de suprimentos – desde a floresta até o mercado – têm papel importante nesta conexão, enfatiza o estudo, publicado na Environmental Research Letters, como parte do projeto PRINCE, que desenvolve novos indicadores de sustentabilidade baseados no consumo para a Suécia.
Segundo Javier Godar, pesquisador do SEI, “talvez o resultado mais surpreendente tenha sido que, para muitos países consumidores, principalmente os desenvolvidos, as emissões de gases de efeito estufa embutidas nas commodities importadas rivalizam com as emissões de seus próprios setores agrícolas. Isso ressalta a necessidade de incluir a dimensão extraterritorial na contabilidade ambiental nacional, além do apoio financeiro a práticas agrícolas mais sustentáveis nos países produtores”.