Criado por um grupo de especialistas [1], o NatusCoin é um sistema inovador de criptoativos ambientais que visa auxiliar os proprietários a fortalecerem suas áreas de conservação ambiental privadas; gerar benefícios aos participantes do sistema por contribuírem para a conservação da natureza; e fortalecer as redes de áreas de conservação privadas no Brasil e no mundo.
Com isso, proprietários das reservas privadas para conservação da natureza, como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), podem se beneficiar do sistema, assim como os investidores e demais adeptos do NatusCoin. Neste artigo, os autores introduzem os componentes do sistema, formado por três criptoativos ambientais, e mostram o papel de cada um deles.
O Sistema NatusCoin será apresentado no Congresso Brasileiro de Economia Ecológica a ser realizado entre os dias 23 a 26 de setembro no Instituto de Economia da Unicamp, em Campinas (SP). Nas próximas publicações, os autores apresentarão detalhes sobre a organização da governança, o que é token-economia e aspectos administrativos do sistema NatusCoin.
A seguir, a íntegra do artigo:
- O que é o sistema NatusCoin?
NatusCoin é um sistema composto por três criptoativos ambientais[2] criados para:
- auxiliar os proprietários a fortalecerem suas áreas privadas destinadas à conservação ambiental, a fim de que a biodiversidade e serviços ecossistêmicos por elas ofertados estejam conservadas no presente e possam ser perpetuadas à futuras gerações.
- gerar benefícios aos participantes do sistema por contribuírem para a conservação da natureza,
- fortalecer as redes de áreas de conservação privadas no Brasil e no mundo através de mecanismos de incentivo tanto para as reservas individuais como em redes.
Nesta fase inicial, o foco do NatusCoin é fortalecer a rede brasileira de reservas privadas para conservação ambiental como as RPPNs, visando, posteriormente, abranger reservas privadas de outros países.
Os participantes potenciais do sistema NatusCoin são os proprietários de áreas de conservação privadas, como as RPPNs, visitantes de RPPNs que possuem atrativos turísticos, investidores de impacto, empresas de consultoria ambiental, entre outros.
Cada participante pode ter suas motivações para fazer parte do sistema NatusCoin, como neutralizar suas emissões de carbono, compensar seu elevado consumo de água, contribuir para a conservação de espécies ameaçadas, contribuir para o fortalecimento da rede de áreas de conservação particulares, contribuir para que as reservas privadas continuem conservadas gerando múltiplos benefícios ecossistêmicos à sociedade, ou ainda outras motivações que possam ser satisfeitas pelo sistema NatusCoin.
A maneira que os componentes do sistema estão estruturados poderá permitir que as necessidades dos participantes do sistema sejam contempladas. Tais componentes, os criptoativos ambientais serão abordados na sequência. Porém, o fato de o NatusCoin ser um sistema de criptoativos ambientais dá aos seus participantes segurança pois tais sistemas são incorruptíveis, pois, utilizam a tecnologia ‘blockchain[3]’; permitem que os criptoativos sejam transferíveis diretamente entre as pessoas usuárias, sem intermediários, evitando custos desnecessários; e são rastreáveis, o que possibilita ao usuário saber para onde os seus recursos estão sendo transferidos evitando, assim, ações corruptíveis.
- Componentes do sistema NatusCoin
Os três criptoativos ambientais que formam o sistema NatusCoin são:
- Natus,
- Natus+ (NatusPlus),
- Natus-U (Natus-Unity).
Cada um desses criptoativos desempenha uma ou mais de uma função no sistema e juntos formam as engrenagens que permitem o funcionamento do sistema. Para explicar cada um deles, façamos uma analogia simplificada de cada uma das engrenagens do sistema NatusCoin com as de uma empresa aérea de capital aberto:
- Analogia entre as engrenagens da empresa aérea e o sistema NatusCoin
Para isso, vamos focar nos seguintes aspectos: produtos ofertados (A); tipo de dinheiro usado para comercializar os seus produtos (B); instrumentos usados para obter fundos para a empresa, isto é, instrumento de investimento (C); e sistema de recompensa aos clientes (D).
Quanto ao aspecto A – produtos ofertados, o que seriam “voos nacionais” para a empresa aérea, equivale ao Natus-U no Sistema NatusCoin. Em relação ao aspecto B – tipo de dinheiro, pode considerar reais, dólares ou euros para a empresa aérea e Natus+ para o sistema de criptoativo, assim também para o aspecto, C – instrumento de investimento. Ou seja, o Natus+ possui a característica de atender aos aspectos B e C em nossa analogia. Por fim, em relação ao sistema de recompensa aos clientes – aspecto D, que seriam as milhas aéreas para a empresa de aviação, para o Sistema Natuscoin é o Natus.
3.1. Produtos comercializáveis
Neste exemplo hipotético, os produtos da empresa aérea são voos nacionais. No sistema NatusCoin os produtos são as unidades de Natus-U.
Natus-U vem de Natus-Unity (Unidade da Natureza), isto é, esse criptoativo ambiental representa um conjunto de benefícios gerados pelas áreas de conservação privadas, tais como, manutenção da biodiversidade, absorção de gás carbono, redução da erosão do solo, entre outros. Esses benefícios também são conhecidos por serviços ecossistêmicos, pois, são gerados pela natureza protegida pelos proprietários de RPPN. As pessoas, empresas, governos que desejam mostrar sua responsabilidade ambiental ao comprar unidades de Natus-U estarão não somente compensando suas emissões de carbono ou consumo de água, por exemplo, mas também contribuindo para a manutenção de áreas privadas de conservação que geram muito mais benefícios à sociedade.
Ao contrário de iniciativas como o mercado de carbono, que foca somente em um serviço ecossistêmico – absorção de gás carbono –, o Natus-U abrange um conjunto maior desses serviços, e com isso, visa auxiliar os investidores e demais usuários a pensar nas reservas privadas como unidades de conservação provedoras de múltiplos serviços ecossistêmicos. Dessa forma, o Natus-U dá a oportunidade aos investidores que pensam “fora da caixa” em investir em unidades de investimento que representam múltiplos serviços ecossistêmicos em vez de um só.
Assim sendo, o Natus-U (NTS-U) representa os produtos gerados pelas RPPNs na forma de serviços ecossistêmicos, sendo equivalente aos produtos da companhia aérea, no caso da nossa analogia, passagens aéreas para voos nacionais. No caso das RPPNs do Brasil, além dos serviços ecossistêmicos, comercializar o Natus-U também significa que se está investindo em um criptoativo ambiental que representa áreas privadas destinadas perpetuamente para a conservação ambiental. Uma vez que as unidades de Natus-U serão comercializados gerando renda adicional aos proprietários de RPPNs, isso pode incentivar que mais proprietários criem reservas privadas assegurando que a biodiversidade e a produção de serviços ecossistêmicos sejam perpetuados.
Para que haja os Natus-U é preciso que os proprietários das reservas de conservação privadas como as RPPNs realizem o inventário dos serviços ecossistêmicos nelas existentes. Isso requer recursos financeiros que, em princípio ou em tese, não estão disponíveis a tais proprietários. Para solucionar esse problema, o sistema NatusCoin irá vender aos interessados determinadas quantidades de Natus+ que é a moeda do sistema. Os recursos financeiros obtidos das vendas de Natus+ serão destinados para realizar o inventário dos serviços ecossistêmicos e outras atividades como realização de planos de manejo para as RPPNs, por exemplo.
A obtenção das unidades de Natus-U pode ser feita de três formas. Uma delas é ser dono de reserva privada como RPPN dá direito ao proprietário de receber uma determinada quantidade de Natus-U. O proprietário poderá comercializá-los com os interessados e obter fonte adicional de renda. Na segunda, ao investir Natus+ em uma ou mais de uma RPPN, o investidor recebe quantidades de Natus+ proporcionais ao montante investido. E a terceira é alugá-los por determinado período de tempo de alguém que os possui.
A compra e venda dos Natus-U serão realizadas através do Natus+ que é o instrumento usado como meio de intercâmbio no sistema NatusCoin. Detalhes sobre a comercialização desse criptoativo ambiental serão abordados em uma próxima publicação.
Sendo as unidades de Natus-U o produto comercializável das reservas privadas, é imprescindível que seus proprietários assegurem as condições necessárias para que eles continuem sendo ofertados. Isso implica que cada reserva deverá ter seus planos de manejo, sistema de fiscalização e monitoramento, entre outras funcionalidades que poderão ser supridas, em parte, com recursos oriundos da venda dos Natus+.
3.2 Tipo de dinheiro usado no sistema
Da mesma maneira que o real é usado pela companhia aérea para comercializar os seus produtos, assim também é o Natus+ no sistema NatusCoin. O Natus+ (NTS+) funciona de forma parecida ao real, isto é, ele pode ser usado tanto para facilitar as transações entre os participantes do sistema como também serve para que as pessoas possam investir nas RPPNs.
O Natus+ é conversível entre reais, dólares, euros ou criptomoedas, como o EOS ou o Bitcoin. Ou seja, o Natus+ é um tipo de dinheiro usado no sistema NatusCoin para que seus participantes possam fazer transações entre si. Quando se usa o Natus+ tanto para investir como negociar os Natus-U, todas as transações são registradas no blockchain Eosio, garantindo que as mesmas sejam incorruptíveis, transparentes e rastreáveis, de modo a prover total segurança aos participantes do sistema.
3.3. Instrumento de investimento
Para investir na melhora de seus produtos a empresa aérea vende ações em bolsa de valores e deve assegurar que os recursos financeiros captados sejam devidamente utilizados. De forma similar, o sistema NatusCoin vende o Natus+ para que as áreas privadas de conservação possam ter os recursos financeiros para investir na melhoria de tais reservas. Conforme mencionado, cada reserva privada deverá ter, em rol exemplificativo: planos de manejo, sistema de fiscalização e monitoramento, inventário da biodiversidade e serviços ecossistêmicos etc.
Quando o investidor aloca Natus+ em uma reserva privada ele possui o direito de receber benefícios, Natus-U, porém, em nenhuma hipótese o investidor torna-se proprietário da RPPN. Pode-se entender esse investimento como uma colaboração entre as partes (proprietário e investidor) para melhorar as condições da RPPN e gerar benefícios aos seus investidores.
Da mesma forma que o investidor que possui ações da empresa aérea precisa pagar para usar os serviços da empresa, assim ocorre com o sistema NatusCoin, mas com uma diferença. O investidor que aloca Natus+ em uma reserva privada terá acesso aos Natus-U que lhe corresponde com desconto e a cada ano adicional contínuo que ele mantiver seu investimento na reserva, o desconto aumenta. Essa é uma forma de incentivar parceria de longo prazo entre investidores e proprietários de reservas privadas.
Em princípio, os investimentos nas RPPNs devem acontecer na forma direta de contratação de empresas especializadas para que haja padronização dos serviços prestados, transparência na execução dos recursos e efetividade nos resultados esperados, sendo que parte dos serviços serão remunerados em moeda corrente e parte em Natus+, de modo que o proprietário da RPPN será beneficiado, por exemplo, com a elaboração do plano de manejo, a instalação de placas de sinalização, a realização de estudos sobre os serviços ecossistêmicos da reserva ou outros, conforme o caso.
No início do sistema, a organização responsável pelo lançamento do NatusCoin irá criar e distribuir os Natus+ aos interessados em investir nas RPPNs e aos proprietários das reservas, bem como, aos membros fundadores e demais colaboradores da iniciativa. Os detalhes sobre a organização responsável pelo sistema, bem como, sobre a emissão e distribuição dos Natus+ serão tratados em futura publicação.
A maior porcentagem dos Natus+ emitidos serão vendidos aos investidores. Uma outra porcentagem menor será vendida com desconto aos proprietários das RPPNs e outra fatia, ainda em menor porcentagem, serão distribuídos aos fundadores e colaboradores iniciais do Sistema NatusCoin.
3.4. Sistema de recompensa
Para recompensar seus clientes por usar seus serviços, as empresas aéreas criaram os programas de milhas aéreas. O Natus (NTS) funciona de forma parecida ao programa de milhas de uma empresa aérea, ou seja, é uma recompensa dada às pessoas que fizerem algumas ações no sistema NatusCoin. Para obter o Natus a pessoa precisa estar cadastrada no sistema e fazer alguma das atividades em estabelecimentos que participam do sistema. Por exemplo, visitar algum atrativo ecoturístico, fazer refeições, hospedar-se, entre outros a definir.
A diferença entre as milhas aéreas e o Natus é que os usuários deste último, poderão ganhar, em determinadas situações, o Natus+ como bônus.
O Natus estará presente nos locais onde as RPPNs tenham atrativos ecoturísticos, ou atividade educacional, como, o município de Bonito, Mato Grosso do Sul (MS), Brasil. Lançaremos um projeto piloto do sistema NatusCoin, iniciando com o uso do Natus no referido município no segundo semestre de 2019.
Nos locais onde não existam as condições acima citadas, pode-se criar outros incentivos alinhados com a conservação ambiental, o que será visto e definido conforme o caso e a necessidade.
O objetivo do Natus é auxiliar os locais que o aceitem a terem uma moeda complementar que possa lhes servir como meio de troca, principalmente, em momentos em que haja crises financeiras como a que houve nos Estados Unidos em 2008 e a que ocorre atualmente no Brasil.
Para mais informações, acesse www.natuscoin.com.
Notas:
[1] Ranulfo Paiva Sobrinho, Karla V. Córdoba Brenes, Laércio Machado de Sousa e
[2] Segundo Paiva Sobrinho et al (2019) “Criptoativo ambiental é um tipo de criptoativo delineado para incentivar a adoção de ações que visem a conservação dos ecossistemas e que podem gerar aos seus portadores benefícios expressos monetária e/ou não monetariamente.” Para saber mais, leia “Criptoativo ambiental: uma simples introdução não técnica”.
[3] O sistema NatusCoin utiliza o blockchain Eosio, o qual é escalável, de baixo custo ao usuário e permite que as transferências de ativos ocorram no menor tempo possível.