Há uma lacuna entre a intenção e a prática no mercado financeiro em relação à sustentabilidade, segundo o Schroders Global Investor Study 2019
O número de pessoas que investe de maneira sustentável em todo o mundo está bem atrás do total que tem interesse de investir com esse critério. Isso indica uma lacuna entre as intenções dos investidores e suas ações concretas, mostra o estudo Schroders Global Investor 2019 feito pela Schroders, gestora global de investimentos com mais de 200 anos de atuação.
Realizada com mais de 25 mil investidores, em 32 países em todo o mundo, a pesquisa descobriu que 16% investem em sustentabilidade, em comparação a 32% que estão interessados e gostariam de investir dessa maneira. A sustentabilidade também não encabeça a lista de prioridades dos investidores, que consideram mais importantes fatores financeiros como evitar perder dinheiro, atender às expectativas de retorno, gerar um nível esperado de renda e pagar taxas razoáveis.
Na comparação entre países, a Índia lidera em intenções e ações sustentáveis em investimentos (73%), enquanto os investidores no Japão (26%) são os que menos investem ou desejam investir de maneira sustentável.
No Brasil, em linha com os resultados globais, as intenções falam mais alto que as ações. Quase três quartos (73%) dos investidores brasileiros acreditam que todos os fundos de investimento deveriam considerar fatores de sustentabilidade, e 76% acreditam que escolher produtos de investimento sustentável pode contribuir consideravelmente para o planeta. O estudo também mostra que 72% dos investidores brasileiros levam em consideração fatores de sustentabilidade ao selecionar onde colocar seu dinheiro. Mas as motivações financeiras ainda são mais importantes que os fatores sustentáveis na hora de escolher os investimentos: apenas 23% dos brasileiros classificam a sustentabilidade como primeira ou segunda prioridade na hora de investir.
“Na verdade, as preocupações de não perder dinheiro e atender às expectativas de retorno não são fatores independentes quando se fala de investimento sustentável. O investimento sustentável tem um fator intrínseco de mitigação de risco, que já atenderia à prioridade de ‘não perder dinheiro’ sinalizada pelos investidores. Por isso, investimento que considera a sustentabilidade das empresas está, de fato, em plena concordância com os objetivos de retorno e os investidores deveriam reconhecer essa vantagem”, pontua Daniel Celano, CEO da Schroders Brasil.
No mundo, os investidores que se identificam como especialistas ou com conhecimento avançado em investimentos têm a maior probabilidade de investir de maneira sustentável. Cerca de um quarto dos especialistas (23%) disseram que investem de forma sustentável, em comparação a 11% dos investidores intermediários e 8% dos iniciantes.
A maioria dos investidores na China (80%), Índia (87%), Tailândia (77%) e Indonésia (76%) disse que sempre considera a sustentabilidade ao investir. Isso se compara a 40% dos investidores no Canadá e na Dinamarca, e 41% na Holanda, países que mantêm o foco na sustentabilidade por mais tempo – talvez, um indicador de que, nesses lugares, o fator sustentável já esteja implícito.
No mundo, 60% dos investidores afirmaram que mudanças regulatórias favoráveis ao investimento sustentável os incentivariam a investir mais dessa forma, e 60% também disseram que seriam incentivados por classificações independentes confirmando que o fundo adota uma abordagem sustentável.
“Ainda existe um abismo entre as aspirações de investimento sustentável das pessoas e a realidade de como elas priorizam esses fatores em suas decisões de investimento”, afirma Jessica Ground, Diretora Global de Gestão de Investimentos da Schroders. “Infelizmente, isso deixará os investidores vulneráveis aos impactos globais causados por questões como as mudanças climáticas. É importante que os gestores de fundos e o setor em geral – inclusive as autoridades de todo o mundo – trabalhem ao lado dos investidores para garantir que eles possam enxergar melhor os benefícios de investir de maneira sustentável e ter acesso aos fundos que lhes permitam fazê-lo”.
Mudança climática
O estudo também constatou que 63% dos investidores globais acreditam que a mudança climática terá pelo menos algum impacto em seus investimentos, mas um terço (33%) deles considera que ela terá muito pouco ou nenhum impacto.
Quase três quartos dos investidores globais (71%) acreditam que a mudança climática causada pelo homem é um fenômeno real que está impactando o mundo, incluindo 40% que acreditam que esse impacto será “significativo”. Na comparação entre países, os EUA concentram o maior número de investidores que duvidam da mudança climática, com 7% dizendo acreditar que a mudança climática causada pelo homem não é um fenômeno real.
Geração X vs. geração Y (millennials)
O estudo também descobriu que os investidores globais da geração X são ligeiramente mais motivados a investir de maneira sustentável em relação a outras faixas etárias, contrariando o senso comum de que as pessoas da geração Y (também conhecidas como millennials) estariam impulsionando os esforços de investimento sustentável.
Dos investidores da geração X (38-50 anos), 61% disseram sempre considerar fatores de sustentabilidade ao selecionar um produto de investimento, em comparação com 59% dos millennials (18-37 anos) e 50% dos baby-boomers (51-70 anos).
A geração X também é mais propensa a sentir que seus investimentos individuais podem ter um impacto direto para um mundo mais sustentável (64%) – novamente, uma proporção maior que a geração Y (60%) e os baby-boomers (57%).
Quase dois terços dos investidores da geração X (65%) concordaram que todos os fundos de investimento deveriam considerar fatores de sustentabilidade e não apenas aqueles projetados como “fundos de investimento sustentáveis”, à frente dos baby-boomers (62%) e dos millennials (60%).
No entanto, a geração Y (27%) é a mais propensa a considerar a sustentabilidade como o primeiro ou o segundo fator mais importante na hora de investir, em comparação com a geração X (23%) e os baby-boomers (19%).
Sobre o Schroders Global Investor Study 2019
Em abril de 2019, a Schroders contratou a Research Plus Ltd para realizar uma pesquisa on-line independente com 25.743 pessoas que investem, em 32 países em todo o mundo, entre eles, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Holanda, Espanha, Reino Unido e EUA. A pesquisa considera pessoas que investirão pelo menos € 10 mil (ou o equivalente) nos próximos 12 meses e que fizeram alterações em seus investimentos nos últimos dez anos.