Fashion Revolution avalia as 30 maiores marcas e lojas de varejo do Brasil e quase a metade delas nem sequer pontua
Por Magali Cabral
[Foto: Clem Onojeghuo/ Unsplash]
A segunda edição do Índice de Transparência da Moda Brasil, um indicador das informações públicas dos 30 maiores do setor, foi lançada nesta terça-feira (10/12), em São Paulo. O panorama da indústria brasileira em 2019 aparece um pouco mais transparente do que no ano anterior, mas o novo relatório mostra que ainda há muito para se caminhar: entre os pesquisados, 13 obtiveram pontuação final igual a 0%. A equipe do Fashion Revolution responsável pelo Índice Brasil ressalva que esse resultado não significa, necessariamente, que as marcas e os varejistas ignorem boas práticas e iniciativas em suas gestões, mas mostra que, no momento da pesquisa, nenhuma informação sobre os temas investigados era compartilhada ao público.
As 30 marcas incluídas no relatório de 2019 foram: Animale, Arezzo, Brooksfield, Carmen Steffens, C&A, Cia. Marítima, Colcci, Colombo, Decathlon, Dumond, Ellus, Farm, Havaianas, Hering, John John, Le Lis Blanc Deux, Leader, Lojas Avenida, Malwee, Marisa, Melissa, Moleca, Olympikus, Osklen, Pernambucanas, Renner, Riachuelo, TNG, Torra e Zara. Para selecionar os participantes, os pesquisadores escolheram três fatores como referência: o volume de negócios anual; a diversidade de segmentos de mercado; e o posicionamento como top of mind (marcas mais lembradas pelo consumidor).
A metodologia aplicada no Índice de Transparência da Moda concentra-se exclusivamente na captura de informações disponíveis ao público. Ou seja, a ponderação das pontuações recompensa níveis elevados de detalhamento de informações, especialmente quando incluem a divulgação de dados sobre fornecedores e resultados de avaliações e auditorias.
No relatório brasileiro, assim como no global, o Fashion Revolution 2019 elencou quatro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU (5, 8, 12 e 13) como os mais relevantes para pautar o trabalho de marcas e varejistas. Dentro desses ODS, as equipes de pesquisa escolheram os desafios que consideram mais urgentes na indústria da moda: violência de gênero no trabalho, disparidades salariais entre mulheres e homens, barreiras à liberdade de associação, baixos salários e remunerações, práticas de compra, descarte inadequado de resíduos, pouca adesão a iniciativas de reciclagem de produtos têxteis e de incentivo à circularidade desses produtos e pegada de carbono da indústria.
No Brasil especificamente o Fashion Revolution inseriu também o ODS 8.8 – que se refere à proteção dos direitos trabalhistas e promoção de ambientes de trabalho seguros e protegidos para os trabalhadores. A equipe brasileira incluiu também questões envolvendo igualdade racial e discriminação entre nacionalidades.
Resultados
A pontuação média geral dos pesquisados foi 16%, sendo que apenas uma das marcas pontuou acima de 60%. Segundo a coordenadora do projeto e diretora educacional do Fashion Revolution Brasil, Eloisa Artuso, algumas empresas analisadas em 2018 apresentaram uma notável evolução de um ano para o outro, com destaque para as Pernambucanas, cuja variação chegou a 140%, seguida pela Renner, que aumentou 98% no seu nível de divulgação.
Também alcançaram boa evolução a Riachuelo, com 62%, a Hering, com 55%, e a Osklen com um aumento de 46% no volume de informações e dados disponíveis de um ano para o outro. “Esse progresso, juntamente com o feedback que recebemos diretamente de algumas empresas, sugere que a inclusão no Índice as motivam para a transparência.”
Em média, as 20 marcas que foram analisadas nas duas edições do Índice apresentaram um crescimento médio de 38% em seus níveis de transparência. “Embora nossa pesquisa este ano demonstre uma importante melhora na média geral entre as 20 empresas presentes nas duas edições, percebemos que mesmo as marcas e varejistas líderes ainda têm um potencial significativo para aumentar transparência em suas cadeias e ampliar a organização e o compartilhamento de informações mais detalhadas sobre os resultados e impactos de seus esforços junto a seus consumidores e a outras partes interessadas”, afirma Artuso.
Veja aqui alguns resultados: