Atuar profissionalmente sem sair de casa, no chamado home office, é um privilégio. Para os catadores de material reciclável, é desafiador seguir a recomendação de isolamento social feita pela Organização Mundial da Saúde. Com o objetivo de auxiliar no sustento desses trabalhadores já começam a surgir algumas iniciativas
Uma delas é o movimento Pimp My Carroça, um financiamento coletivo para fornecer renda mínima a cerca de 3 mil carroceiros. Outra, é a ação do Instituto Nacional das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Inesfa) que firmou o compromisso de manter a remuneração aos catadores de sucata de ferro e aço, independentemente da queda na demanda por parte das usinas de reciclagem. O impacto do coronavírus nas operações do segmento é motivo de preocupação em todo o mundo.
Se você que está em isolamento em casa e nunca antes conseguiu separar seu lixo reciclável por falta de tempo, esta pode ser uma boa oportunidade. Aproveite o período de quarentena para organizar os descartes. E dê uma atenção especial ao material eletrônico. Segundo a diretora da JC Logística Reversa, Ricilla Banin Arrais de Oliveira, os equipamentos eletroeletrônicos inutilizados não devem ser misturados aos demais recicláveis. Para quem mora em condomínios, ela sugere uma “catação” coordenada com os vizinhos. “Quando as autoridades sanitárias liberarem a volta das atividades produtivas nas cidades e o fim da quarentena, é só entrar em contato com empresas especializadas no descarte de eletrônicos”, diz.
Conheça mais sobre essas ações a seguir:
Movimento cria financiamento coletivo para garantir renda mínima a catadores durante a pandemia do coronavírus
Pimp My Carroça atua para aumentar a visibilidade dos catadores de materiais recicláveis
Atualmente, com a pandemia Covid-19, a OMS e os médicos têm aconselhado as pessoas a se isolarem dentro de casa e, se possível, saírem somente para o necessário. Todavia, enquanto para alguns brasileiros trabalhar em casa – o home office – é algo simples, para outros é impossível. Esse é o caso dos catadores.
A renda mensal para essa categoria depende basicamente do quanto conseguem recolher por dia nas ruas. Com isso em mente, o movimento Pimp My Carroça criou um financiamento coletivo com o intuito de garantir uma renda mínima aos catadores, para que, desse modo, possam ficar em casa se prevenindo contra o coronavírus.
O valor alcançado será distribuído entre os quase 3 mil catadores autônomos cadastrados no aplicativo Cataki, plataforma criada pelo Pimp My Carroça para conectar esses trabalhadores com as pessoas que produzem os resíduos recicláveis e entulho, dando a destinação ambientalmente correta a esses materiais.
Para Mundano, idealizador do Pimp My Carroça, a proteção dos catadores é de suma importância. “O trabalho dos profissionais da reciclagem sempre beneficiou a todos nós. Por isso, eu considero extremamente covarde a postura de, especialmente nesse momento, a gente cruzar os braços e se conformar com nossos privilégios. É hora de demonstrar solidariedade com quem mais faz pela reciclagem e pelo meio ambiente no Brasil. Se cada um doar um pouquinho – e divulgar muito! – a gente consegue, ao mesmo tempo, proteger tanto a saúde quanto a renda deles”, aponta.
Para contribuir com a iniciativa, acesse o link.
Manutenção da reciclagem de materiais é preocupação em todo o mundo
BIR sugere negociação com governos para manter operações; Inesfa alerta para falta de renda dos catadores
O Bureau of International Recycling (BIR), principal entidade mundial do setor de reciclagem, solicitou aos governos que reconheçam formalmente a cadeia de reciclagem como essencial neste momento de pandemia covid-19, já que trabalham para proteger a saúde humana e o meio ambiente. Os associados ao BIR coletam, classificam e processam materiais recicláveis, tais como metais ferrosos e não ferrosos, incluindo aço inoxidável, ligas, além de papel, têxteis, plásticos, sucata eletrônica, pneus. O BIR representa mais de 760 empresas membros do setor privado e 37 associações nacionais, em mais de 70 países.
O Instituto Nacional das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Inesfa), membro filiado ao BIR, posicionou-se manifestando que há grande preocupação com os impactos nos negócios das empresas, ao meio ambiente e à saúde da população caso seja paralisada a coleta e reciclagem dos materiais descartados postos em desuso.
Uma das principais recomendações do BIR às associações é que se aproximem dos governos locais demonstrando a importância do setor e das empresas na cadeia produtiva e no controle da propagação de doenças.
Além da questão sanitária, essencial à prevenção contra a propagação de doenças como a Covid-19, dengue, chikungunya e zika, o segmento argumenta que, quanto mais longo período de exposição dos materiais recicláveis, maiores os riscos de contaminação.
Segundo Clineu Alvarenga, presidente do Inesfa, há um compromisso do setor sucata de ferro e aço em manter a remuneração aos catadores, independentemente da queda na demanda pela sucata por parte das usinas.
A preocupação é grande porque a grande maioria dos catadores de materiais para reciclagem ficará sem o benefício de R$ 600 mensais a ser pago pelo governo a partir de meados de abril, como forma de auxílio aos trabalhadores informais neste momento de crise na saúde e paralisação das atividades. Apenas na Grande São Paulo, nos cálculos do Instituto Nacional das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Inesfa), que adquire e processa a chamada sucata de obsolescência (material de ferro e aço em desuso descartado), são cerca de 80 mil catadores. No Brasil todo, mais de 800 mil.
O anúncio recente da Prefeitura de São Paulo, de que serão liberados ao todo R$ 5,7 milhões para cerca de 1,4 mil “catadores autônomos” da cidade, sendo R$ 600 a cada família pelo governo federal e mais R$ 600 pela prefeitura, atinge uma parcela mínima desses trabalhadores, conforme o Inesfa. “A imensa maioria não está registrada em qualquer cadastro do governo e não terá acesso aos recursos”, afirma Alvarenga.
O Inesfa representa um setor que reúne 5,6 mil empresas e no qual atuam mais de 1,5 milhão de pessoas (sendo 800 mil catadores, os chamados “carroceiros”). A entidade defende que esse segmento de trabalhadores seja caracterizado como essencial, já que a reciclagem tem impacto direto em questões de saúde pública e no controle epidemiológico. “Além desse benefício significativo contra doenças como a dengue e a Covid-19, grande número de trabalhadores e suas famílias dependem da continuidade das atividades para sobreviver”, diz Alvarenga.
“Esses trabalhadores sobrevivem com o que recebem no dia a dia e fazem uso deste dinheiro para se alimentar, precisam continuar trabalhando, sendo fundamental a precaução, prevenção e a segurança com a saúde”, afirma Alvarenga. O Inesfa vem adotando uma série de providências para resguardar os trabalhadores do setor e os seus fornecedores, os catadores de materiais. Tem, diariamente, recomendado às suas empresas associadas sobre a importância da limpeza dos locais de trabalho, uso de álcool em gel, lavagem das mãos e utilização de luvas e máscaras no manuseio dos materiais recicláveis.
Aproveite o isolamento social e prepare o descarte correto do lixo eletrônico
Por Ricilla Banin Arrais de Oliveira(*)
Com o passar dos dias em isolamento social é provável que muitas pessoas comecem a sentir tristeza e tédio como efeitos colaterais da pandemia do coronavírus. O remédio para esses males pode ser justamente a consciência de estar fazendo o que é certo. Esse entendimento tem o potencial de nos convencer de que não estamos presos por ordem de uma autoridade ou pelo poder de uma doença, mas sim porque escolhemos colaborar com o bem estar do próximo e da sociedade como um todo.
Neste sentido, a recente crise pode funcionar como um motor que, ao apresentar o prazer pelas ações colaborativas, impulsione as pessoas à prática do comportamento comunitário em outras situações com maior frequência. O descarte consciente de lixo eletrônico surge como uma das primeiras oportunidades de colocar tudo isso em prática. Com tempo disponível em suas casas, as pessoas terão condições de executar aquilo que elas sempre souberam que é o certo, nunca tiveram falta de vontade de fazer, mas a rotina agitada do dia-a-dia costumava impedir.
Bastarão alguns minutos dedicados a esta causa e uma olhada rápida em gavetas, armários e ‘quartinhos da bagunça’ para encontrar equipamentos como: computador, mouse, teclado, placa-mãe, placa controladora, processador, memória, periféricos de informática, impressora, roteador, hub, switch, modem, celular, nobreak, filtro de linha, telefone, fios, cabos, aparelhos de som, eletroportáteis, cafeteira, batedeira, ferro de passar roupa, liquidificador, espremedor de frutas, secador de cabelo, ventilador. Enfim, todo equipamento que utiliza energia elétrica, solar e bateria.
Esse material todo abandonado em nossas casas leva o Brasil à liderança na produção de lixo eletrônico na América Latina segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Os números do órgão mostram que o país gera 1,5 tonelada desse tipo de resíduo por ano, o que significa aproximadamente 7 quilos por habitante. O pior é que apenas 30% desse volume segue para os sistemas oficiais de Logística Reversa.
Em fevereiro, o Brasil deu um importante passo para ampliar o percentual de tratamento correto com a assinatura pelo presidente da República do decreto que regulamente a política de logística reversa destes resíduos. O texto foi fruto do acordo setorial do setor de eletroeletrônicos como forma de atender às determinações da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Resumidamente, a situação mostra que atualmente existem 173 pontos de coleta de eletroeletrônicos no Brasil. No entanto, o decreto estabelece que esse número aumente para 5 mil pontos até 2025. Assim sendo, esse volume deve abranger os 400 maiores municípios do País, que representam, no total, 60% da população brasileira.
Mas enquanto isso não acontece, na ânsia de fazer alguma coisa a respeito, muitos condomínios, por exemplo, se contentam em combinar o descarte com carroceiros, o que acaba sendo ineficaz já que eles, na maioria das vezes, apenas separam o que lhes dá retorno na venda e jogam o restante em qualquer lugar da cidade, gerando a oportunidade para o aumento dos lixões que, por sua vez, liberam substâncias tóxicas como mercúrio, chumbo e cádmio presentes nos eletrônicos na água, no solo e no ar.
A contaminação com esses metais pesados traz diversas consequências para o organismo como dificuldades respiratórias e danos ao sistema nervoso.
Assim, quando as notícias sobre a disseminação do novo coronavírus ou a falta de opção sobre o que fazer em casa ameaçar criar um sentimento de desespero ou depressão, inverta a perspectiva. S
Separe os equipamentos eletroeletrônicos inutilizados em um canto de sua casa. Combine uma ação coordenada com os vizinhos e quando as autoridades sanitárias liberarem a volta das atividades produtivas nas cidades e o fim da quarentena, entre em contato com empresas especializadas no descarte deste tipo de produto.
Elas seguem as normas estabelecidas pelos órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental e conseguem dar a destinação correta a toda a matéria prima. Dessa forma, aquilo que pode ser reutilizado volta ao ciclo produtivo fortalecendo o sistema de economia circular e o que não pode mais ser utilizado é destruído da forma correta para proteger o meio ambiente.
Use o isolamento para fazer o bem.
*Ricilla Banin Arrais de Oliveira é diretora da JC Logística Reversa