Temos infraestrutura e tecnologia para viver de modo mais saudável: home office, carona, transporte público e bicicletas elétricas são algumas alternativas já existentes. Outras ainda virão. O que precisamos é cultivar a cultura do compartilhamento, do bom senso e do pensamento coletivo
Maior colapso na sociedade moderna desde a Segunda Guerra Mundial, a crise gerada pelo novo coronavírus soma incontáveis e graves perdas para a sociedade global. Sem perspectivas concretas de retomada à normalidade e em meio a tantas notícias tristes, registros importantes começam a emergir. Um deles é bastante sensível: as políticas de isolamento social e restrições agudas de circulação fizeram com que a qualidade do ar melhorasse.
Na China, um dos países mais poluídos do mundo e local de aparecimento da doença, entre dezembro de 2019 e início de março deste ano, houve uma queda de até 40% nas medições de poluentes, aponta a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Nasa. Outro estudo, desta vez realizado pelo Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo (Crea), com sede na Finlândia, indicou que, no período de 3 a 16 de fevereiro, as emissões de carbono diminuíram quase 25% em comparação com o mesmo período do ano anterior, representando uma redução de 6% nas emissões globais.
Durante o mesmo período, no Brasil, especificamente, em São Paulo – onde vigora a orientação de quarentena – a Companhia Ambiental do Estado (Cetesb) registrou, em todas as 29 estações de monitoramento, qualidade do ar boa para os poluentes primários, que são emitidos diretamente pelas fontes poluidoras.
Ainda de acordo com a Cetesb, além do menor número de veículos em circulação, as condições mais livres do trânsito e a ausência de engarrafamentos também vêm contribuindo para uma menor emissão de poluentes. O órgão registrou que os níveis de monóxido de carbono (CO), indicador da emissão de poluente de veículos leves em grandes centros urbanos, estão entre os mais baixos para o mês de março.
Resumidamente, todos esses levantamentos evidenciam que o modo como vivíamos antes dessa pandemia não era saudável e nem sustentável. Nossos hábitos têm influência na qualidade do meio ambiente como um todo. Ao mesmo tempo que, ninguém espera que o isolamento social se mantenha por muito tempo, afinal, precisamos viver, nos locomover e nos relacionar, temos que encontrar um meio termo e construir um mundo melhor.
Temos toda a infraestrutura e tecnologia para viver de uma maneira mais saudável: home office, carona, transporte público e bicicletas elétricas são algumas das alternativas já existentes e outras ainda virão. O que precisamos é cultivar a cultura do compartilhamento, do bom senso e do pensamento coletivo.
Por fim, o fato é que em meio a todos os problemas gerados pela crise do coronavírus, descobrimos muito sobre nós mesmos, nossos hábitos e nossas possibilidades. Somos capazes de até encontrar pontos positivos em momentos duríssimos de nossa história. Essa é a nossa essência. Podemos e devemos estabelecer novos costumes, e oportunidade melhor não há. Que tenhamos, todos, coragem para assumir esses desafios no momento de retomada que virá.
* Formado em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia, Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Gustavo Gracitelli é cofundador e CEO da Bynd, rede de caronas corporativas. Mais sobre a Bynd aqui.
[Foto: Chloe Evans/ Unsplash]