[Foto: Adam Coppola/ Flickr Creative Commons]
Negócios com impacto positivo para o clima aceleram o lançamento de seus produtos e buscam investimentos. É o caso das startups brasileiras Cumbaru, EcoCiclo e NullCarbon – todas apoiadas pela Climate Ventures e finalistas da etapa regional da Climate Launchpad, a maior competição global de novos negócios verdes
Diante de uma das maiores crises econômicas enfrentadas pelo Brasil, diversas lideranças políticas e empresariais têm articulado para que a retomada pós-Covid-19 seja verde. Isso significa ampliar os investimentos em uma economia de baixo carbono e que proporcione um desenvolvimento econômico resiliente aos impactos da mudança climática, combinando benefícios financeiros, sociais e ambientais.
Para se ter uma ideia do que está em jogo, um levantamento internacional feito pela iniciativa New Climate Economy mostrou que uma retomada econômica verde poderia somar R$ 26 trilhões ao PIB global até 2030.
De olho nesse movimento, negócios com impacto positivo para o clima aproveitam o momento promissor para acelerar o lançamento de seus produtos e buscar investimentos. É o caso das startups brasileiras Cumbaru, EcoCiclo e NullCarbon – todas apoiadas pela Climate Ventures e finalistas da etapa regional da Climate Launchpad, a maior competição global de novos negócios verdes, que ocorre entre hoje e amanhã (17 e 18 de setembro).
“Para nós é a sensação de que pela primeira vez estamos nadando a favor da maré. Fazer parte desse movimento nos mostra que estamos alinhadas a necessidade para garantir que o futuro seja mais justo e acessível para as pessoas que menstruam”, afirma Karla Godoy, uma das fundadoras da EcoCiclo. Fundada por quatro mulheres, a startup criou o primeiro absorvente brasileiro 100% biodegradável e vegano.
Com expectativa de colocar o produto no mercado em 2021, a empreendedora pretende aproveitar a oportunidade a favor do negócio. “Vamos buscar captação de recursos com investidores anjo e em fundos internacionais para sustentabilidade. Este é o momento para crescer como marca. Os holofotes estão voltados para a sustentabilidade”, diz.
Fabiola Rezende, COO da NullCarbon, que transforma a quilometragem percorrida por ciclistas em crédito de carbono, também concorda. Para ela, os próprios fundos de investimento estão mais atentos ao impacto ambiental e climático dos projetos em que vão aportar recursos. “A agenda climática não é restrita aos ambientalistas, é uma agenda de todos nós”, completa.
“Investimentos ESG e negócios de impacto eram temas relativamente pouco abordados até o fim do ano passado, mas de lá para cá ganharam uma projeção grande no Brasil”, opina Pedro Nogueira, fundador da Cumbaru, que atua na recuperação de pastagens degradadas. Apesar de fazer coro ao otimismo, ele também alerta que essa maior conscientização ambiental de investidores e consumidores é uma tendência que ainda precisa se provar no médio e longo prazo.
Outro ponto que o empreendedor leva em consideração é o impacto que a recessão econômica terá no lançamento de novos negócios: “Do ponto de vista econômico, o país foi severamente impactado pela pandemia e a recuperação vai levar alguns anos. Isso está sendo considerado no nosso planejamento. Nesse contexto de oportunidades e riscos, o planejamento tem que ser ainda mais cauteloso”.
Mobilidade urbana na pandemia
Pesquisa recente realizada pela organização Aliança Bike apontou que a aquisição de bicicletas no Brasil dobrou nos meses de maio e junho deste ano. O meio de transporte ganhou ainda mais destaque na pandemia ao ser recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como meio de transporte individual, sustentável e seguro para as atividades essenciais, além de ser amplamente utilizado por entregadores de aplicativos.
De olho na tendência, a NullCarbon se prepara para o lançamento de aplicativo que irá converter as pedaladas do usuário em dinheiro. Com o app será possível registrar a quilometragem percorrida, que resultará em créditos de carbono negociados pela startup, que devolverá parte do valor aos usuários.
O momento é visto pela equipe de empreendedores como uma oportunidade ímpar. “Às vezes, nem acreditamos que estamos em meio a uma pandemia falando sobre mobilidade urbana, mercado de créditos de carbono, bicicletas e saúde! Temos a chance de impactar a vida de milhões de pessoas. Essa retomada verde é uma oportunidade única de mudarmos a nossa relação com o planeta. É agora ou nunca”, diz Felipe Mascarenhas, diretor de marketing da NullCarbon.
Combate ao desmatamento
Todo esse otimismo em relação ao tema da retomada econômica verde é, por outro lado, reação a um cenário drástico: a pandemia que tirou (e segue tirando) a vida de milhões e colocou grande parte do mundo em isolamento. Ocorre que no Brasil, em específico, as adversidades desta crise sanitária vieram acompanhadas também por outras, decorrentes de uma grave crise ambiental marcada pelo aumento recorde do desmatamento.
Grande parte desse desmatamento está vinculado à práticas de uma ala retrógrada e pouco produtiva da pecuária e do agronegócio nacional, que tiram recorrentemente a cobertura da floresta para produzir novas pastagens. A Cumbaru quer mudar esse paradigma, implementando e disseminando práticas de agropecuária sustentável baseadas em sistemas regenerativos.
Usam, por exemplo, plantações de cumbaru – árvore nativa do Cerrado e que dá nome ao empreendimento – para a recuperação de terras degradadas, restaurando pastos e tornando-os mais produtivos. Além de melhorar a renda dos produtores e sequestrar carbono, o projeto também reduz a pressão de desmatamento sobre novas áreas de vegetação nativa.
Com organizações do mundo inteiro buscando formas de reduzir o desmatamento, o timing para lançamento da ideia não poderia ser mais oportuno. Eles planejam realizar a prova de conceito do produto ainda em 2021, e lançá-lo até 2022.
“As pessoas também são fundamentais neste processo, já que no fim das contas o consumidor tem um poder enorme de influenciar os caminhos da nossa economia”, lembra Pedro. A retomada verde depende não só de decisões políticas e de grandes empresas, mas também da incorporação de novos comportamentos por cada um de nós e do surgimento de mais empreendedores que, assim como os que foram citados neste texto, apostam na inovação como forma de acelerarmos a transição para uma economia de baixo carbono.