Usada no mundo contra dependência química e doenças neurovegetativas a partir de planta africana, a ibogaína foi identificada em espécies da Amazônia
A startup Hylaea, no segmento de pesquisa e desenvolvimento de insumos farmacêuticos ativos a partir de matérias-primas da Amazônia, é um exemplo de valorização da floresta em pé como chave no enfrentamento da mudança climática. No centro das atenções está a ibogaína – substância pesquisada no mundo para o tratamento de dependência química, traumas cerebrais e doenças neurodegenerativas, como mal de Parkinson. “Destruir a floresta é como queimar uma biblioteca sem ter lido sequer um livro, e lá pode estar a fonte que gera muito mais renda do que qualquer outra atividade”, compara o CEO da empresa, Ricardo Marques, farmacêutico com doutorado em química de produtos naturais.
Atualmente, a ibogaína é obtida da raiz de uma espécie vegetal africana explorada de forma predatória para fornecimento a mercados em todo o mundo, especialmente o México, onde se concentra a maioria das clínicas de tratamento com ibogaína. Depois que Marques descobriu a existência de pelo menos quatro espécies amazônicas que são capazes de fornecer o ativo e não têm qualquer uso econômico na região, o projeto tomou forma. O empreendedor desenvolveu em bancada de pesquisa o processo de extração – inovador, eficiente e sustentável – e agora dá novos passos no longo caminho de testes e autorizações até o mercado.

Criada no Acre, a Hylaea transferiu-se recentemente para o Paraná, onde há estruturas produtivas para o desafio. No início, a estratégia da startup para se capitalizar é obter um derivado químico intermediário: a voacangina, que embora não seja um IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) como a ibogaína, é um insumo tecnológico essencial para produzi-la – além de servir a usos potenciais em tratamentos dermatológicos. A empresa já teve a primeira venda de voacangina sinalizada para o Canadá, abrindo portas para mercados internacionais.
A matéria-prima é extraída da floresta por comunidades da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, parceiras no negócio como uma nova opção de renda que favorece a manutenção da área bem conservada. “O grande potencial da Amazônia em moléculas para atendimentos das demandas da saúde ainda não está sendo aproveitado”, ressalta Marques. Na trajetória desde a ideia inicial até o desenho do negócio, o empreendedor passou por mentorias em programas como o Sinergia e Sinergia Investimentos, da Jornada Amazônia, por meio do qual está recebendo aporte financeiro e mentorias estratégicas para alavancar o desenvolvimento tecnológico e comercial.
Desta forma, a startup consolida sua posição em uma rota de desenvolvimento tecnológico pioneiro, unindo ciência, floresta e mercado em torno de soluções inovadoras para a saúde e para a bioeconomia.

