Cruzeiros marítimos exercem um impacto ambiental bem maior do que se imagina. A boa notícia é que há uma série de iniciativas para reduzi-lo
Com 360 metros de comprimento e uma altura de 65 metros acima do nível da água, o Allure of the Seas é o maior navio de cruzeiros do mundo. Graças a um investimento de US$ 1 bilhão, ele oferece atrações quase surrealistas: um gramado com árvores de porte, inspirado no Central Park , de Nova York, paredes rochosas, rinques de patinação, 26 restaurantes e cafés, e piscinas com simulação de ondas. O navio da Royal Caribbean tem capacidade para 5. 400 passageiros e fez a sua primeira viagem no início de dezembro, na região do Caribe.
Cidades flutuantes como esta podem dar a impressão de interagir pacificamente com a natureza, já que ligam um ponto a outro sem queimar combustível de aviação. Grande engano. A exemplo das cidades em terra firme, os cruzeiros oferecem toda sorte de riscos ambientais, da geração de lixo e esgoto ao alto consumo energético e à destruição da biodiversidade local. Cruzeiros também têm alto impacto sobre as praias, os bancos de corais e as áreas de reprodução de peixes.
A Amigos da Terra calculou o passivo ambiental dessa indústria e concluiu que um cruzeiro típico, de uma semana, gera mais de 50 toneladas de lixo, 3,8 milhões de litros de águas servidas (vindas da cozinha, dos chuveiros, da lavanderia), 795 mil litros de esgoto e 95 mil litros de água contaminada com óleo. Em média, cada passageiro produz 3,5 quilos diários de lixo – cerca de quatro vezes mais que um cidadão em terra. “Estas cidades flutuantes vão para lá e para cá nas nossas águas, eliminando substâncias tóxicas devido ao gigantesco volume de resíduos que produzem”, declarou Marcie Keever, diretora da Campanha de Navios Limpos da entidade, ao jornal The New York Times. “Elas definitivamente têm condições de reduzir seu impacto e têm a capacidade financeira para tanto.”
Esse tipo de viagem também produz um grande volume de gases-estufa. Segundo a Climate Care, uma empresa inglesa especializada na compensação de emissões de carbono, os cruzeiros emitem quase o dobro de dióxido de carbono que as viagens de avião por quilômetro percorrido por passageiro. Isto sem contar que muitos viajantes voam para o porto de embarque, aumentando ainda mais sua pegada ecológica.
Não se trata de um problema menor, já que a indústria de cruzeiros é uma das que mais prospera no mercado do turismo. Cerca de 13,5 milhões de pessoas participaram de cruzeiros marítimos em 2009 – e esse número tem crescido a uma média de 7,2% ao ano ao longo das últimas duas décadas.
A boa notícia é que o problema tem despertado a atenção de autoridades e de organizações não governamentais em vários países e as empresas começaram a se mobilizar para reduzir os seus impactos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o estado da Califórnia impôs a utilização de óleo com baixo teor de enxofre ao longo de sua costa, em substituição a opções mais baratas e poluentes. O país também está discutindo um projeto de lei que poderá proibir o descarte de esgotos e águas servidas sem qualquer tratamento a menos de 12 milhas do litoral.
Além disso, a Amigos da Terra criou um instrumento para orientar consumidores norte-americanos mais conscientes: lançou um guia que avalia os impactos sobre a saúde e o meio ambiente de diversas linhas de cruzeiros que atuam no país.
No Brasil, existe um esforço para ampliar o controle dos navios que visitam Fernando de Noronha. Recentemente, o Ministério Público Federal pediu à agência ambiental de Pernambuco, a CPRH, que suspenda todas as visitas de transatlânticos ao arquipélago e repasse a competência de emitir novas licenças ao Ibama – e que estas ganhem uma análise de impacto com o rigor devido.
A indústria dá indícios de que está começando a responder à pressão. Iniciativas de separação de resíduos para reciclagem, substituição de combustíveis e melhoria nos sistemas de tratamento de efluentes a bordo são cada vez mais frequentes. “Nosso trabalho é inspirado pela beleza dos oceanos”, declarou recentemente Howard Frank, presidente da Cruise Lines International Association (Clia), a associação que representa o setor. “Estamos investindo para manter o meio ambiente nas condições intocadas em que o encontramos.” É uma decisão sábia – todo o luxo do mundo será incapaz de sustentar esta indústria se já não houver golfinhos, corais ou água limpa.
*Jornalista especializada em Meio Ambiente.[:en]Cruzeiros marítimos exercem um impacto ambiental bem maior do que se imagina. A boa notícia é que há uma série de iniciativas para reduzi-lo
Com 360 metros de comprimento e uma altura de 65 metros acima do nível da água, o Allure of the Seas é o maior navio de cruzeiros do mundo. Graças a um investimento de US$ 1 bilhão, ele oferece atrações quase surrealistas: um gramado com árvores de porte, inspirado no Central Park , de Nova York, paredes rochosas, rinques de patinação, 26 restaurantes e cafés, e piscinas com simulação de ondas. O navio da Royal Caribbean tem capacidade para 5. 400 passageiros e fez a sua primeira viagem no início de dezembro, na região do Caribe.
Cidades flutuantes como esta podem dar a impressão de interagir pacificamente com a natureza, já que ligam um ponto a outro sem queimar combustível de aviação. Grande engano. A exemplo das cidades em terra firme, os cruzeiros oferecem toda sorte de riscos ambientais, da geração de lixo e esgoto ao alto consumo energético e à destruição da biodiversidade local. Cruzeiros também têm alto impacto sobre as praias, os bancos de corais e as áreas de reprodução de peixes.
A Amigos da Terra calculou o passivo ambiental dessa indústria e concluiu que um cruzeiro típico, de uma semana, gera mais de 50 toneladas de lixo, 3,8 milhões de litros de águas servidas (vindas da cozinha, dos chuveiros, da lavanderia), 795 mil litros de esgoto e 95 mil litros de água contaminada com óleo. Em média, cada passageiro produz 3,5 quilos diários de lixo – cerca de quatro vezes mais que um cidadão em terra. “Estas cidades flutuantes vão para lá e para cá nas nossas águas, eliminando substâncias tóxicas devido ao gigantesco volume de resíduos que produzem”, declarou Marcie Keever, diretora da Campanha de Navios Limpos da entidade, ao jornal The New York Times. “Elas definitivamente têm condições de reduzir seu impacto e têm a capacidade financeira para tanto.”
Esse tipo de viagem também produz um grande volume de gases-estufa. Segundo a Climate Care, uma empresa inglesa especializada na compensação de emissões de carbono, os cruzeiros emitem quase o dobro de dióxido de carbono que as viagens de avião por quilômetro percorrido por passageiro. Isto sem contar que muitos viajantes voam para o porto de embarque, aumentando ainda mais sua pegada ecológica.
Não se trata de um problema menor, já que a indústria de cruzeiros é uma das que mais prospera no mercado do turismo. Cerca de 13,5 milhões de pessoas participaram de cruzeiros marítimos em 2009 – e esse número tem crescido a uma média de 7,2% ao ano ao longo das últimas duas décadas.
A boa notícia é que o problema tem despertado a atenção de autoridades e de organizações não governamentais em vários países e as empresas começaram a se mobilizar para reduzir os seus impactos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o estado da Califórnia impôs a utilização de óleo com baixo teor de enxofre ao longo de sua costa, em substituição a opções mais baratas e poluentes. O país também está discutindo um projeto de lei que poderá proibir o descarte de esgotos e águas servidas sem qualquer tratamento a menos de 12 milhas do litoral.
Além disso, a Amigos da Terra criou um instrumento para orientar consumidores norte-americanos mais conscientes: lançou um guia que avalia os impactos sobre a saúde e o meio ambiente de diversas linhas de cruzeiros que atuam no país.
No Brasil, existe um esforço para ampliar o controle dos navios que visitam Fernando de Noronha. Recentemente, o Ministério Público Federal pediu à agência ambiental de Pernambuco, a CPRH, que suspenda todas as visitas de transatlânticos ao arquipélago e repasse a competência de emitir novas licenças ao Ibama – e que estas ganhem uma análise de impacto com o rigor devido.
A indústria dá indícios de que está começando a responder à pressão. Iniciativas de separação de resíduos para reciclagem, substituição de combustíveis e melhoria nos sistemas de tratamento de efluentes a bordo são cada vez mais frequentes. “Nosso trabalho é inspirado pela beleza dos oceanos”, declarou recentemente Howard Frank, presidente da Cruise Lines International Association (Clia), a associação que representa o setor. “Estamos investindo para manter o meio ambiente nas condições intocadas em que o encontramos.” É uma decisão sábia – todo o luxo do mundo será incapaz de sustentar esta indústria se já não houver golfinhos, corais ou água limpa.
*Jornalista especializada em Meio Ambiente.