O índio perdeu espaço, Kyoto perdeu a força, a Amazônia perde árvores, o planeta está perdendo o fôlego. Estamos perdendo tempo? Não. Estamos correndo contra ele. Ao menos essa é a impressão deixada pelo II Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade, realizado no Centro de Convenções Anhembi, em São Paulo, nos dias 6 e 7 de maio.
O evento conseguiu reunir um grande público formado por representantes de governo, de instituições privadas e da sociedade civil. Boa parte era de jovens ávidos por informação e comprometidos com a causa ambiental. Mas também é entre os jovens que se identifica alto índice de descomprometimento e desinteresse pela sustentabilidade – fato ressaltado pelo vídeo-dossiê produzido pela MTV e exibido no inicio do segundo dia do encontro. (pdf da pesquisa aqui)
Além do numeroso público, por lá passaram o escritor Férrez, o Nobel de Economia Edmund Phelps, os premiados pelo Nobel da paz, Davide Trimble (1998) e Mohan Munasinghe (2007), e ainda Mário Sérgio Cortella (PUC-SP), Vicente Defourny da UNESCO, a Senadora Marina Silva e o índio André Baniwa, vice-prefeito de São Gabriel da Cachoeira.
No primeiro dia, as mesas “Respeitar e Cuidar da Comunidade da Vida” e “Justiça Social e Econômica” esquentaram os debates do evento, mas os destaques ficaram mesmo para as participações da física e filósofa Danah Zohar, do escritor Férrez, que num discurso bem humorado falou da seu projeto comunitário e da importância de ações de auto-gestão, e de Edmund Phelps, Prêmio Nobel da Economia 2006, que apareceu vestido de ‘Nossa Senhora da Sustentabilidade’.
A tônica do segundo dia do evento foi dada pelas mesas “Democracia, Não Violência e Paz”, quanto na “Integridade Ecológica”. Entre eles o Prêmio Nobel da Paz de 1998, David Trimble que num forte discurso ressaltou que diante da necessidade de promover ações de sustentabilidade no planeta “a nossa responsabilidade não é delegável, ela deve ser compartilhada.” Ainda mais aplaudido foi Mario Sergio Cortella, da área de Educação da PUC-SP. Diante de um atento público, Cortella garantiu que a sustentabilidade pode ser concreta e não deve ser encarada como impossível e sim como um inédito possível: “Precisamos ter esperança, esperança do verbo esperançar e não do verbo esperar.”
Uma das mais aguardadas palestrantes foi a ex-ministra do Meio Ambiente e atual senadora Marina Silva. “No Brasil não podemos escolher apenas os nossos representantes no governo. Podemos escolher também a madeira legal e também a que não foi roubada de terras indígenas, podemos escolher a cadeira que tenha sido produzida de maneira sustentável, podemos escolher a água de uma fonte ambientalmente correta”, enfatizou. Marina ainda fez um alerta aos três setores da sociedade: “Sustentabilidade não significa pintar de verde e dizer que é sustentável.” Marina Silva também atentou para a importância da articulação de seis aspectos rumo a uma vida sustentável em sociedade: ambiente, cultura, economia, estética, ética e política.
O II Fórum de Comunicação e Sustentabilidade reforçou a idéia de cada cidadão fazer a sua parte e de empresas, poder público e a mídia articularem o desenvolvimento sustentável com a realidade social. O palestrante Mohan Munasinghe, Prêmio Nobel da paz de 2007, lembrou que nós brasileiros já tivemos grandes exemplos: Chico Mendes, Orlando Vilas Boas e Celso Furtado. Se diante da chuva de considerações e do temporal de conhecimentos adquiridos no evento o público servir como agente multiplicador do que absorveu, já pode-se irrigar a escassez de força de vontade de muitos indivíduos. E aí, já subimos mais alguns degraus.
Para acessar os materiais e apresentações disponíveis acesse http://www.comunicacaoesustentabilidade.com/
por Emílio Gustavo