Invariavelmente sinônimo de país poluidor, com sua pegada ecológica potencializada pela demografia, matriz energética suja, altas taxas de crescimento do PIB e aspirações ao padrão de consumo ocidental, a China não está alheia às questões de um novo modelo de desenvolvimento.
A respeito da histórica pressão exercida sobre recursos naturais, a jornalista Cláudia Trevisan, autora do livro Os Chineses, recém-lançado pela Editora Contexto, pergunta se teria sido possível fazer diferente diante da necessidade de sobrevivência de uma população que desde os primórdios foi tão numerosa e pobre.
Ela observa que hoje, ao constatar os problemas ambientais do sucesso econômico cercando a população por todos os lados e atingindo a própria economia, o governo busca, em alguma medida, mudar modelos e reverter essas perdas. Uma delas é a da área agricultável, hoje equivalente a 6% do total no planeta, para alimentar uma população que responde por 20% da global. Lá, 70% dos cursos d’água já apresentam algum nível de contaminação.
Embora tenha 70% da energia gerada por carvão mineral, já é um dos países que mais investem em fontes renováveis. Políticas governamentais incentivam a implantação de atividades com baixa intensidade em carbono e em matériaprima.
Estimulam também o aumento da cobertura florestal. Uma muralha, desta vez feita de árvores, com extensão de 4,5 mil quilômetros, está sendo “construída” para deter o avanço do Deserto de Gobi e suas tempestades de areia. E há uma tolerância à manifestação popular na área ambiental, onde é permitida a atuação de ON Gs como o Greenpeace. “O governo central vê os protestos como forma de pressionar os governos locais, ainda voltados para o crescimento econômico a qualquer custo”, explica Cláudia.
Se é grande o desafio da sustentabilidade, ele fica ainda maior na China, lugar de gigantismos. Somente o consumo dos triviais palitinhos levam ao corte de 25 milhões de árvores por ano.
Em 2009, os chineses vão comprar mais carros que os americanos. Hábitos culturais e da medicina tradicional são capazes de aniquilar espécies inteiras, como os tubarões, das quais se extraem as barbatanas para fazer sopa. E os animais ainda acabam morrendo de forma cruel, jogados ao mar após a mutilação – para citar apenas um exemplo.