Aparentemente banal, a sacolinha plástica e as restrições crescentes ao seu uso – como no estado de São Paulo – evocam questões de fundo. A primeira delas é a oportunidade de disseminar a mensagem ambiental pela grande população, por meio de um vetor muito eficiente de propagação. A sacolinha faz (ou fazia) parte do cotidiano e ajuda a trazer à discussão ambiental a vertente econômica, uma vez que funciona como um emblema da sociedade de consumo. E consumo, como sabemos, é o nó górdio da sustentabilidade.
Além disso, contribui para trazer à tona o valor oculto das externalidades – prejuízo causado pela atividade econômica que não é incorporado ao seu resultado, e, sim, transferido à sociedade e ao ambiente. Em nome da praticidade, uma infinidade de sacolinhas com vida útil de 400 anos é usada e descartada, causando diversos impactos. Quando seu preço deixa de ser embutido no valor das compras, o uso passa a ser comedido. Não só o preço da sacolinha torna-se visível: a restrição contribui para acender os holofotes sobre as externalidades.
Outro fio puxado nessa discussão remete à Tragédia dos Comuns. Descrita pelo ecologista Garrett Hardin, em 1968, a teoria explica como um conjunto de indivíduos agindo de forma racional e autointeressada (transpondo para o uso indiscriminado da sacolinha) tende a cair em uma armadilha que o leva a esgotar reservas de recursos compartilhados dos quais seu próprio bem-estar depende.
Outro autor, o economista e cientista social Mancur Olson, diz que, em um grande grupo no qual nenhuma contribuição individual faça uma diferença perceptível para o grupo como um todo, “o benefício coletivo não será provido, a menos que haja coerção ou indução externa que leve os membros do grande grupo a agirem em prol de seus interesses comuns”. Na sociedade de consumo que tanto preza a liberdade e confia em sua capacidade de escolha, coerção ou indução podem soar mal. Mas a Tragédia dos Comuns vem lembrar que restrições são necessárias em um sistema fechado, de recursos finitos. A sacolinha é só um começo.
Boa leitura!