Coibida por bem ou por mal, a sacolinha plástica dá mostras de resistência em vários cantos do mundo
POR REGINA SCHARF*
Dezenas de governos locais ou nacionais, do Congo à Itália, tentaram coibir o uso de sacolas plásticas por bem ou por mal. Eles tentaram educar o consumidor, propuseram acordos de cavalheiros ao empresariado, impuseram taxas ou simplesmente proibiram que as sacolinhas fossem distribuídas no comércio. Mas quase sempre estas encontram um jeito de sobreviver ao embate.
Vejam o exemplo das Ilhas Britânicas. O consumo de sacolas plásticas per capita da Inglaterra é quatro vezes superior ao da Irlanda, e a disparidade não para de crescer. A principal explicação é que os dois países adotaram estratégias totalmente diferentes de coibição. Os ingleses optaram pelo estabelecimento de um compromisso voluntário em que os varejistas prometiam reduzir o número de sacolas distribuídas. Ficaram na promessa.
Já os irlandeses tiveram a ideia pioneira de cobrar 15 centavos de euro dos consumidores que quisessem usar uma sacola no comércio, a partir de 2002.
Os recursos recolhidos vão para um fundo que visa minimizar a geração de resíduos. A nova taxa teve grande apoio da mídia, que reforçou a sua importância ambiental. Em resposta, o comércio substituiu sacolas de plástico pelas de papel e promoveu campanhas para que seus clientes trouxessem suas próprias bolsas. Os resultados foram imediatos, baixando o consumo anual de sacolas plásticas de 328 para 21 per capita, uma redução de mais de 90%. Em consequência, a participação das sacolas plásticas no lixo descartado nas ruas da Irlanda caiu de 5% para apenas 0,5% do total.
No entanto, os consumidores foram retornando a seus velhos hábitos e o consumo de sacolas subiu a 31 per capita (ainda bem longe dos 328 de 2002, mas quase 50% a mais do verificado no início da taxação). Atento, o governo irlandês decidiu elevar a taxa para 22 centavo em 2007 – e o consumo voltou a cair aos valores dos primeiros dias do novo imposto.
Soluções mais radicais não tiveram, necessariamente, melhores resultados. É o que se vê na China, que consumia exorbitantes 3 bilhões de sacolas diárias em 2008. Na época, o governo decidiu banir as sacolas ultrafinas, com menos de 0,025 milímetros de espessura, usadas para embrulhar peixe e outros alimentos. Também proibiu a distribuição gratuita de outros tipos de sacolas em lojas, supermercados e feiras livres.
Fontes oficiais e da indústria de embalagens divergem quanto ao sucesso da iniciativa. Enquanto o governo estima que o consumo anual teria sido reduzido em 24 bilhões de sacolas, a Associação de Produtores de Embalagens fala em uma queda de 100 bilhões – em ambos os casos, uma redução inferior a 10% do consumo de 2008.
Entre as possíveis explicações para os resultados anêmicos está o florescimento do mercado negro de sacolas ultrafinas e o fato de que a maioria dos consumidores prefere comprar sacolas a cada vez que visita o comércio. “Nossas lojas utilizaram cerca de 9 milhões de sacolas plásticas em 2009, 100% a mais do que em 2008, quando a proibição começou”, declarou, ao jornal China Daily, Zhao Meng, do departamento de operações da cadeia de supermercados Chaoshifa, que tem mais de 70 lojas em Pequim. Em 2010 os números se mantiveram quase inalterados. “Um número grande de consumidores decide comprar sacolas plásticas porque elas são convenientes e apenas alguns idosos e donas de casa lembram de trazer bolsas de casa.”
Como visto no caso da Inglaterra, estratégias mais suaves e voluntárias também não são garantia de sucesso. Durante mais de uma década, a prefeitura de San Francisco, nos EUA, pedia que os consumidores devolvessem as sacolas aos grandes supermercados e farmácias, que ficavam obrigados a enviá-las para reciclagem. Os resultados foram medíocres.
“Essa estratégia nunca funcionou”, declarou em 2007 Mark Westlund, porta- voz do Departamento de Meio Ambiente da cidade, à revista Salon. Ele calculava que apenas 1% das sacolas eram efetivamente devolvidas às lojas e que as pessoas que estariam inclinadas a fazer o esforço de devolvê-las ao comércio eram as mesmas que davam preferência às bolsas de pano.
Diante das circunstâncias, San Francisco teve de engrossar a voz. Naquele mesmo ano, tornou se a primeira cidade dos Estados Unidos a proibir a distribuição das sacolas em supermercados. E, desde fevereiro, a proibição foi estendida a todo o comércio, inclusive restaurantes. Este não é o último capítulo de uma briga em que as sacolas sempre acabam se safando.
*JORNALISTA ESPECIALIZADA EM MEIO AMBIENTE[:en]Coibida por bem ou por mal, a sacolinha plástica dá mostras de resistência em vários cantos do mundo
POR REGINA SCHARF*
Dezenas de governos locais ou nacionais, do Congo à Itália, tentaram coibir o uso de sacolas plásticas por bem ou por mal. Eles tentaram educar o consumidor, propuseram acordos de cavalheiros ao empresariado, impuseram taxas ou simplesmente proibiram que as sacolinhas fossem distribuídas no comércio. Mas quase sempre estas encontram um jeito de sobreviver ao embate.
Vejam o exemplo das Ilhas Britânicas. O consumo de sacolas plásticas per capita da Inglaterra é quatro vezes superior ao da Irlanda, e a disparidade não para de crescer. A principal explicação é que os dois países adotaram estratégias totalmente diferentes de coibição. Os ingleses optaram pelo estabelecimento de um compromisso voluntário em que os varejistas prometiam reduzir o número de sacolas distribuídas. Ficaram na promessa.
Já os irlandeses tiveram a ideia pioneira de cobrar 15 centavos de euro dos consumidores que quisessem usar uma sacola no comércio, a partir de 2002.
Os recursos recolhidos vão para um fundo que visa minimizar a geração de resíduos. A nova taxa teve grande apoio da mídia, que reforçou a sua importância ambiental. Em resposta, o comércio substituiu sacolas de plástico pelas de papel e promoveu campanhas para que seus clientes trouxessem suas próprias bolsas. Os resultados foram imediatos, baixando o consumo anual de sacolas plásticas de 328 para 21 per capita, uma redução de mais de 90%. Em consequência, a participação das sacolas plásticas no lixo descartado nas ruas da Irlanda caiu de 5% para apenas 0,5% do total.
No entanto, os consumidores foram retornando a seus velhos hábitos e o consumo de sacolas subiu a 31 per capita (ainda bem longe dos 328 de 2002, mas quase 50% a mais do verificado no início da taxação). Atento, o governo irlandês decidiu elevar a taxa para 22 centavo em 2007 – e o consumo voltou a cair aos valores dos primeiros dias do novo imposto.
Soluções mais radicais não tiveram, necessariamente, melhores resultados. É o que se vê na China, que consumia exorbitantes 3 bilhões de sacolas diárias em 2008. Na época, o governo decidiu banir as sacolas ultrafinas, com menos de 0,025 milímetros de espessura, usadas para embrulhar peixe e outros alimentos. Também proibiu a distribuição gratuita de outros tipos de sacolas em lojas, supermercados e feiras livres.
Fontes oficiais e da indústria de embalagens divergem quanto ao sucesso da iniciativa. Enquanto o governo estima que o consumo anual teria sido reduzido em 24 bilhões de sacolas, a Associação de Produtores de Embalagens fala em uma queda de 100 bilhões – em ambos os casos, uma redução inferior a 10% do consumo de 2008.
Entre as possíveis explicações para os resultados anêmicos está o florescimento do mercado negro de sacolas ultrafinas e o fato de que a maioria dos consumidores prefere comprar sacolas a cada vez que visita o comércio. “Nossas lojas utilizaram cerca de 9 milhões de sacolas plásticas em 2009, 100% a mais do que em 2008, quando a proibição começou”, declarou, ao jornal China Daily, Zhao Meng, do departamento de operações da cadeia de supermercados Chaoshifa, que tem mais de 70 lojas em Pequim. Em 2010 os números se mantiveram quase inalterados. “Um número grande de consumidores decide comprar sacolas plásticas porque elas são convenientes e apenas alguns idosos e donas de casa lembram de trazer bolsas de casa.”
Como visto no caso da Inglaterra, estratégias mais suaves e voluntárias também não são garantia de sucesso. Durante mais de uma década, a prefeitura de San Francisco, nos EUA, pedia que os consumidores devolvessem as sacolas aos grandes supermercados e farmácias, que ficavam obrigados a enviá-las para reciclagem. Os resultados foram medíocres.
“Essa estratégia nunca funcionou”, declarou em 2007 Mark Westlund, porta- voz do Departamento de Meio Ambiente da cidade, à revista Salon. Ele calculava que apenas 1% das sacolas eram efetivamente devolvidas às lojas e que as pessoas que estariam inclinadas a fazer o esforço de devolvê-las ao comércio eram as mesmas que davam preferência às bolsas de pano.
Diante das circunstâncias, San Francisco teve de engrossar a voz. Naquele mesmo ano, tornou se a primeira cidade dos Estados Unidos a proibir a distribuição das sacolas em supermercados. E, desde fevereiro, a proibição foi estendida a todo o comércio, inclusive restaurantes. Este não é o último capítulo de uma briga em que as sacolas sempre acabam se safando.
*JORNALISTA ESPECIALIZADA EM MEIO AMBIENTE