Domingo, dia 22 de abril, é o Dia da Terra. Assim como o Dia do Índio, o Dia da Bandeira, o Dia da Mulher e da Consciência Negra, a dedicação de um dia ao meio ambiente deixa a sensação de que em todos os outros dias ninguém precisa se preocupar com ele. E, mesmo no Dia da Terra, parece que tudo o que temos que fazer é dirigir até o parque mais próximo para curtir o verde e, quem sabe, plantar uma árvore.
Claro que a intenção por trás do Dia da Terra não foi essa. Depois de um gigantesco derramamento de óleo na Califórnia em 1969, um senador do estado americano de Wisconsin imaginou catalisar a energia do movimento estudantil da época em defesa do meio ambiente.
A ideia original do senador Gaylord Nelson foi a de promover “teach-ins” – fóruns educacionais em que especialistas discorrem sobre temas complexos e a platéia é encorajada a participar e sugerir ações práticas – sobre o meio ambiente. Nelson conseguiu a ajuda de outros parlamentares e, em 1970, o primeiro Dia da Terra levou milhares de americanos às ruas. Nelson foi bem sucedido em colocar a questão ambiental na arena política e, ainda em 1970, o Congresso americano criou a Environmental Protection Agency (EPA) e expandiu os poderes federais para regulamentar e monitorar a qualidade do ar e da água.
Ao longo dos anos, o movimento perdeu a força política, mas graças ao envolvimento de escolas e universidades, o Dia da Terra sobreviveu nos EUA e é comemorado em uma miríade de eventos ao redor do país – este ano completa 42 anos. Para alguns, entretanto, o Dia da Terra deveria ter morrido anos atrás. Alex Steffen, um dos fundadores do ambientalismo bright green, escreveu em 2010:
“O maior problema com o Dia da Terra é que se tornou um ritual de simpatia pela ideia de sanidade ambiental. … É, essencialmente, a política do gesto, pouco diferente de usar uma pulseira de borracha ou um laço cor-de-rosa e, como tal, é principalmente uma forma de levantar dinheiro para grandes ONGs ao mesmo tempo em que faz as pessoas comuns se sentirem um pouco melhor sobre sua relação com um sistema terrivelmente falido”.
Pois a boa notícia nesse abril que marca o 42o aniversário do Dia da Terra é que parece que a hora de plantar uma árvore, reciclar o lixo e trocar as lâmpadas passou. Para fazer a diferença na questão ambiental, é preciso rever conceitos e expectativas, buscando uma vida mais modesta mas mais equilibrada. E, acima de tudo, perceber que temos o poder de fazê-lo. Como me disse Paul Gilding, autor to livro The Great Disruption:
“Nós elegemos os políticos, nós decidimos quais empresas sobrevivem e quais falem, talvez nos esqueçamos disso, mas somos nós quem decidimos. Nós, o povo, decidimos como vivemos nossas vidas, o que compramos e em quem votamos. Nós decidimos que governo e que economia temos. Tomar esse poder de volta é muito importante.”
Talvez seja só minha percepção, mas recentemente tenho visto cada vez mais pessoas buscando equilíbrio em suas vidas, seja ao trabalhar menos, seja ao se engajar em movimentos comunitários, seja lançando empreendimentos próprios, tentando se desvencilhar da noção que não se pode perseguir as paixões porque é preciso pagar as contas e seguir comprando. Se as contas são muito menores, então há muito mais liberdade para fazer o que quiser com o tempo.
Se a impressão for verdadeira e dentro de algum tempo essas mudanças começarem a gerar impacto no sistema econômico e político, talvez tenhamos realizado uma tarefa ainda mais ousada do que a do primeiro Dia da Terra. E você, tem sentido também esse cheiro de mudança no ar?