Um dia, o fotômetro para de reconhecer a abertura da câmera. A objetiva quebrada fica em sua mão e ele dispara contra o seu próprio rosto. O acidente revela um autorretrato irreconhecível. E se nossos olhos desaprendessem de reconhecer o que está diante deles? A experiência do designer Felipe Kaizer ao fotografar sem lentes nos leva a essa temporalidade fantasmagórica e instigante que vai ao encontro do que propõe esta edição: comunicar pressupõe memórias comuns. Como transmitir uma mensagem nova? Para quem e como?
Sem referências, o olho percorre a novidade estranha, porém real, e, antes, inacessível. Sem guias, como apreendemos o novo, a necessidade de mudança? Novo contexto exige novas objetivas que possam dar leitura aos borrões ou “a volta da inocência do olho”, como deduz Kaizer em sua observação da experiência. O fotógrafo incidental integra a equipe de design da Bienal de São Paulo e sua curiosidade estética está nos processos de trabalhos e nos acasos do percurso.
(“Ver é uma fábula – é para não ver que estou vendo” – trecho do livro Catatau, de Paulo Leminski)