Operando a catarata da cidade
Como é lugar de protesto e, simultaneamente, de fruição, a cidade grande tem recebido e emanado lufadas de vida nos últimos meses. O Festival BaixoCentro em São Paulo, os protestos multimídia realizados contra a comemoração do golpe de 64 no Rio, a Nuvem que conduz ciclistas a festas e os protestos contra morte de ciclistas são alguns exemplos recentes e significativos da transformação do espaço público por ideias que nasceram dos seus moradores.
Autogestionado e financiado por uma plataforma colaborativa, independente de apoios institucionais ou leis da cultura, o BaixoCentro arrebanhou para a rejeitada região do Minhocão pessoas, exposições, shows, cinema ao ar livre e performances, em um mix “devolvedor” de sentido àquelas ruas, pilastras e gramas. Sim, existe grama em Sampa ou, quando não há, leva-se.
Cortejos concorridos desfilaram ao som de Novos Baianos, fazendo com que os moradores abrissem as janelas e se misturassem às projeções de pernas de vedetes e outros desenhos.
O asfalto cinza foi colorido com tinta na abertura do evento, criando traços conforme a passagem de um carro ou de um catador, igualando a todos na obra colaborativa.
Convocados pela internet, os usuários da festa realizaram seus próprios registros, particulares e compartilhados. As coisas urbanas liberaram sentido, trazendo de volta sua alma adormecida pela correria do trabalho e da imensidão. A tecnologia, que ora aprisiona, levou grama e música para o viaduto. E os vizinhos se juntaram, fossem eles moradores da própria rua, fossem dos apartamentos esmagados pela engenharia de Paulo Maluf. Bom observar que os artistas-cidadãos empurravam o carrinho de música, carregavam suas tintas, papéis, escadas, tendas, projetores. A estética válida aqui foi a da vida na cidade e de seus personagens em movimento, no cultivo de uma reação urgente para os detalhes que nos cercam, sem o puritanismo artístico.
Em dias próximos, o Clube Militar do Rio de Janeiro refletiu a história dos anos de ditadura em sua fachada, enquanto no interior do prédio militares festejavam a efeméride do golpe de 64. Fotos, vídeos, filmes e jovens nas ruas lembrando que memória é cultura. Na efervescência cultural, as manifestações são múltiplas e simultâneas.
Com a proposta da surpresa, um grupo chamado Nuvem convoca ciclistas para percorrer lugares do mesmo Rio onde são realizadas festas abertas, com sistema de som sobre bicicletas, ao ar livre e ao encontro de qualquer um. Sem esperar determinação de uma liderança ou logomarcas corporativas, as pessoas (re)descobrem o desejo de ter o espaço público, porque ali estão e não somente passam.
O encontro de muitos e um desenho no chão de uma bicicleta branca aponta que o ciclista não é mais um intruso no habitat urbano, mas o melhor caminho da mobilidade.
É o que se tem visto nos protestos recentes contra o atropelamento de ciclistas em São Paulo. Os registros, que também fazem parte da obra-protesto, não foram menos importantes nessas intervenções e se espalharam pela rede cibernética, alentando mais adeptos e consciências.
Baixe e suba pelas paredes
O VJ Suave é o autor do “picho” mais aclamado de São Paulo, o “Mais amor por favor”. O franzino garoto espalhou seu emblema por uma série de bairros, viadutos e muros da capital, confundindo ou encantando os apressados.
Nesta imagemda foto, Suave encontrou Markus Dorninger, austríaco casado com uma brasileira que criou o tagtool, a ferramenta pela qual é possível juntar os desenhos e escritos de Suave enquanto as mesmas imagens são projetadas nos prédios da cidade. Não se assuste ao abrir a janela ou passar por aí e dar de cara, no alto dos edifícios, com fotos e filmes coloridos e gratuitos da dupla. Mas cada um pode ter sua própria experiência. Você compra componentes básicos e baixa gratuitamente o programa em: tagtool.org.[:en]Operando a catarata da cidade
Como é lugar de protesto e, simultaneamente, de fruição, a cidade grande tem recebido e emanado lufadas de vida nos últimos meses. O Festival BaixoCentro em São Paulo, os protestos multimídia realizados contra a comemoração do golpe de 64 no Rio, a Nuvem que conduz ciclistas a festas e os protestos contra morte de ciclistas são alguns exemplos recentes e significativos da transformação do espaço público por ideias que nasceram dos seus moradores.
Autogestionado e financiado por uma plataforma colaborativa, independente de apoios institucionais ou leis da cultura, o BaixoCentro arrebanhou para a rejeitada região do Minhocão pessoas, exposições, shows, cinema ao ar livre e performances, em um mix “devolvedor” de sentido àquelas ruas, pilastras e gramas. Sim, existe grama em Sampa ou, quando não há, leva-se.
Cortejos concorridos desfilaram ao som de Novos Baianos, fazendo com que os moradores abrissem as janelas e se misturassem às projeções de pernas de vedetes e outros desenhos.
O asfalto cinza foi colorido com tinta na abertura do evento, criando traços conforme a passagem de um carro ou de um catador, igualando a todos na obra colaborativa.
Convocados pela internet, os usuários da festa realizaram seus próprios registros, particulares e compartilhados. As coisas urbanas liberaram sentido, trazendo de volta sua alma adormecida pela correria do trabalho e da imensidão. A tecnologia, que ora aprisiona, levou grama e música para o viaduto. E os vizinhos se juntaram, fossem eles moradores da própria rua, fossem dos apartamentos esmagados pela engenharia de Paulo Maluf. Bom observar que os artistas-cidadãos empurravam o carrinho de música, carregavam suas tintas, papéis, escadas, tendas, projetores. A estética válida aqui foi a da vida na cidade e de seus personagens em movimento, no cultivo de uma reação urgente para os detalhes que nos cercam, sem o puritanismo artístico.
Em dias próximos, o Clube Militar do Rio de Janeiro refletiu a história dos anos de ditadura em sua fachada, enquanto no interior do prédio militares festejavam a efeméride do golpe de 64. Fotos, vídeos, filmes e jovens nas ruas lembrando que memória é cultura. Na efervescência cultural, as manifestações são múltiplas e simultâneas.
Com a proposta da surpresa, um grupo chamado Nuvem convoca ciclistas para percorrer lugares do mesmo Rio onde são realizadas festas abertas, com sistema de som sobre bicicletas, ao ar livre e ao encontro de qualquer um. Sem esperar determinação de uma liderança ou logomarcas corporativas, as pessoas (re)descobrem o desejo de ter o espaço público, porque ali estão e não somente passam.
O encontro de muitos e um desenho no chão de uma bicicleta branca aponta que o ciclista não é mais um intruso no habitat urbano, mas o melhor caminho da mobilidade.
É o que se tem visto nos protestos recentes contra o atropelamento de ciclistas em São Paulo. Os registros, que também fazem parte da obra-protesto, não foram menos importantes nessas intervenções e se espalharam pela rede cibernética, alentando mais adeptos e consciências.
Baixe e suba pelas paredes
O VJ Suave é o autor do “picho” mais aclamado de São Paulo, o “Mais amor por favor”. O franzino garoto espalhou seu emblema por uma série de bairros, viadutos e muros da capital, confundindo ou encantando os apressados.
Nesta imagemda foto, Suave encontrou Markus Dorninger, austríaco casado com uma brasileira que criou o tagtool, a ferramenta pela qual é possível juntar os desenhos e escritos de Suave enquanto as mesmas imagens são projetadas nos prédios da cidade. Não se assuste ao abrir a janela ou passar por aí e dar de cara, no alto dos edifícios, com fotos e filmes coloridos e gratuitos da dupla. Mas cada um pode ter sua própria experiência. Você compra componentes básicos e baixa gratuitamente o programa em: tagtool.org.