Relatório da SOS Mata Atlântica mostra que desmatamento no bioma caiu, mas o novo Código Florestal é uma ameaça para os avanços de conservação.
A Mata Atlântica foi menos destruída entre 2010 e 2011 do que no biênio 2008-2010. Em dez estados do país onde o bioma ainda existe, a taxa de desflorestamento caiu em 58%. Entre 2008 e 2010, a média anual de desmate em 17 estados foi de 15.500 ha. No novo período analisado, de 13.312 hectares (ha) ou 133 km². É um dado a ser comemorado, não fosse um detalhe importante: um dos motivos da queda do desmatamento é que não resta área para explorar. A vegetação é a mais devastada do País.
Essas e outras informações estão no Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica lançado pela SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O estudo analisou imagens de satélites dos estados do Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo e Bahia. Isso corresponde a 93% da área total do bioma no País. Nos demais estados do nordeste (Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Rio Grande do Norte), a análise não foi possível devido à ocorrência de nuvens.
Originalmente, a Mata Atlântica percorria o litoral brasileiro de ponta a ponta. Estendia-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, e ocupava uma área com mais e 1,3 milhão de quilômetros quadrados. Tratava-se da segunda maior floresta tropical úmida do Brasil, só comparável à Floresta Amazônica. Hoje, são 7,9% de remanescentes florestais em áreas acima de 100 hectares. Somando todas as 500 mil “ilhas florestais” espalhadas, restam apenas 13,32%.
“É um desmatamento baixo comparado com o da Amazônia. Só que é alto se olhamos o que se tinha originalmente no Brasil. Só não de desmata mais porque não há muito a derrubar”, diz Márcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento e coordenadora do Atlas da ONG. Atualmente, a maior parte da vegetação está em áreas de relevo de difícil ocupação, como a serras do mar. Em São Paulo, por exemplo, onde restam 17% do bioma, a maior parte está nas serras da Cantareira, da Mantiqueira e no Vale do Ribeira.
Uma das grandes ameaças à Mata Atlântica é a urbanização, já que a vegetação está em áreas densamente povoadas. Outra é o novo Código Florestal, sancionado por Dilma Rousseff no final de maio. Mesmo com os vetos que a presidente impôs à legislação, o desmatamento pode aumentar. “No caso da Mata Atlântica, que possui legislação própria de proteção, esperamos que o desmatamento não cresça. O problema do novo Código Florestal é que ele acaba com o potencial de regeneração dessa vegetação”, diz Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador e coordenador técnico do Atlas pelo INPE. Ele se refere à não obrigação de que fazendeiros reflorestem áreas desmatadas antes de 2008. O Atlas dos Remanescentes florestais vai servir como um “marco zero” para medir o que vai acontecer com a Mata Atlântica numa era “pós-novo Código Florestal”.
Minas Gerais, que se consagrou com o importante polo econômico do Triangulo Mineiro, hoje possui também o indesejado “Triângulo do desmatamento” e é o estado teve o maior índice de desmatamento entre 2010 e 2011. Os municípios de Águas Vermelhas, Jequitinhonha e Ponto dos Volantes são as posições 1º, 3º e 5º na ordem dos que mais desmataram. A principal causa é a produção de carvão e substituição da floresta por plantações de eucalipto (que não é uma espécie nativa do bioma).
O segundo estado que mais desmatou foi a Bahia. Já a região sul se destacou pela queda no desmatamento. No levantamento anterior, do biênio 2008-2010, os estados registraram altos índices: 3.701 ha em Santa Catarina, 3.248 há no Paraná e 1.864 ha Rio Grande do Sul. Dessa vez os números foram: 568 ha, 71 ha e 111 ha, respectivamente.
No Rio de Janeiro, registrou-se 92 ha de mata nativa sacrificada. Márcia Hirota destaca, contudo, que o estado já foi um dos campeões do serrote e hoje possui um importante trabalho para proteger a vegetação. “Além da criação de muitas Unidades de Conservação (UCs) pelo governo, proprietários de terra têm criado novas Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN). Atualmente, 80% da Mata Atlântica está em terras privadas fluminenses”.