Um artigo recente de André Meloni Nassar e Marcelo Moreira, da Agroicone, publicado no Estadão, aborda uma iniciativa louvável no contexto da realização da Copa do Mundo FIFA 2014 no Brasil: 200 voos comerciais, partindo do Rio de Janeiro em direção às demais sedes do Mundial, estão sendo abastecidos com biocombustível. O objetivo dessa iniciativa é usar eventos internacionais, como a Copa, para promover o uso de biocombustível em escala comercial na aviação civil – algo importante, tendo em vista o enorme desafio do setor em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 50% até 2050 (em comparação a 2005). Como os próprios autores colocam, esse desafio abre uma enorme oportunidade para o Brasil, e essa iniciativa durante a Copa é um passo importante para o aproveitamento desse potencial.
Mas nem tudo é positivo nessa história: nenhum dos 200 voos realizados no espaço aéreo brasileiro usou biocombustível produzido no Brasil. Nenhuma gota.
Esse absurdo acontece não por causa de problemas de competitividade do produto brasileiro, nem por falta de disponibilidade no Brasil. A resposta: “o que impede o uso do produto brasileiro é o excesso de burocracia, disseminado em vários setores e, em particular, no nosso governo”. Dificuldades na aprovação do bioquerosene brasileiro no próprio Brasil, produzido a partir do açúcar da cana, levaram o país a uma situação “esdrúxula”, como Nassar e Moreira colocam: ele pode ser usado em voos comerciais no exterior, mas não pode abastecer aeronaves que operam dentro do Brasil.
Em suma, a iniciativa de uso de biocombustível na aviação comercial durante a Copa do Mundo somente foi possível devido à importação desse produto. Isso sem falar na questão tributária, que atinge diretamente a competitividade do biocombustível brasileiro, e que também é abordada no artigo.
No meio dessa história toda, fica uma dúvida pertinente: será que os combustíveis renováveis estão na pauta de prioridades de quem gerencia as políticas do setor energético no Brasil?
Betania Villas Boas