Você levaria a sério um curso superior em psicologia que focasse apenas no Freudismo? E economia, faz algum sentido ter um curso dessa natureza baseado em apenas uma perspectiva teórica? Pois é o que questionam futuros economistas em todo o mundo.
Uma das principais críticas feitas aos cursos de economia é a sua falta de pluralismo. No começo de maio, um grupo que reúne associações estudantis em economia em 21 países assinou uma carta aberta contra o ensino tradicional de economia. Para eles, o currículo da disciplina sofreu um “estreitamento dramático” nos últimos 20 anos, o que vem prejudicando a habilidade dos formados de encontrar soluções para os desafios complexos do século XXI, como estabilidade financeira, segurança alimentar e mudanças do clima. No Brasil, o grupo Nova Ágora é uma das organizações signatárias da carta.
Segundo o grupo, os cursos de economia atualmente se limitam apenas à visão neoclássica, em detrimento de outras perspectivas econômicas importantes, como a clássica, keynesiana e a marxista. Além da pobreza teórica, as disciplinas de economia não conseguem sair do ensino de metodologias quantitativas, explorando parcamente métodos qualitativos que, de acordo com a carta, fariam os estudantes questionarem seus pressupostos e conclusões.
A carta se insere num movimento mais amplo de questionamento às bases do ensino de economia nos últimos anos, particularmente depois da crise econômica de 2008.
Em 2009, personalidades do mundo econômico, como Paul Volcker (ex-presidente do FED, o banco central dos EUA) e George Soros (renomado investidor), criaram o Instituto para o Novo Pensamento Econômico (INET), com o propósito de estimular a renovação da pesquisa e do currículo dos cursos de economia. Dois anos depois, um grupo de estudantes abandonou o curso introdutório de Greg Mankiw na Universidade de Harvard, levantando questionamentos quanto à diversidade teórica e metodológica do curso. Pouco tempo depois, estudantes da Universidade de Manchester iniciaram um movimento, denominado Post-Crash Economics Society, defendendo mudanças nos livros de ensino em economia.
Outros nomes importantes da economia também se manifestaram criticamente à forma como os cursos de economia são desenvolvidos. O economista francês Thomas Piketty, figura popular nos últimos meses devido ao seu livro recente “O Capital no Século XXI”, argumenta que a disciplina precisa superar sua paixão infantil por matemática e por especulação puramente teórica e com frequência altamente ideológica, em detrimento da pesquisa histórica e da colaboração com outras ciências sociais. Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, também apontou a deficiência dos cursos atuais de economia à luz da crise econômica de 2008. Segundo ele, a teoria keynesiana já trazia ferramentas para diagnosticar e superar a crise, ao passo em que a teoria neoclássica se mostrou incapaz de sequer prever a crise.
Bruno Toledo (com informações do portal Exame)